Capítulo 8

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Emma sentia o coração palpitar, as lágrimas escorrendo initerruptamente. Ela mal sabia como havia ido parar no meio da clareira onde se encontrava a cabana, mas naquele instante, pouco lhe importava. Harry estava em seus braços, desacordado e com um grande ferimento no ombro que sangrava demais. Ver todo aquele sangue a fazia se desesperar ainda mais, e o desespero não a deixava pensar direito. Ficou por longos instantes parada, apenas observando o cenário no qual se encontrava, até ouvir um farfalhar leve na grama que a fez despertar. Ela não podia ficar ali no meio do bosque com um rapaz machucado à mercê de animais ferozes e famintos como aquele que atacara Harry. Levantou-se com certa dificuldade, já que ficara sentada sobre suas pernas por um bom tempo, e ponderando a melhor forma de levar o rapaz desacordado para dentro da segurança da cabana. Tinha medo de pegá-lo da forma errada e acabar ferindo-o ainda mais, mas depois de pensar um pouco mais, decidiu que aquele ferimento estava feio, mas ia ficar pior se não entrassem imediatamente na casa para cuidar do mesmo.

Em conseguiu, depois de muito esforço e medo de piorar a situação, sentar o rapaz e ergue-lo passando um dos braços em torno de seus ombros. O equilíbrio que conseguiu era precário, mas com passos lentos ela alcançou a entrada da casa. O grande desafio foi passar pelos poucos degraus da varanda, Emma não tinha ideia de como conseguira passar por eles sem derrubar o corpo de Harry e a si própria. Enfim conseguiu adentrar a cabana e por certo momento a garota pensou se não seria melhor e mais confortável levar o rapaz para seu quarto, porém, em sua opinião, não era educado ou certo invadir a privacidade de alguém, ainda mais um desconhecido; portanto, optou por deitar o dono da cabana em seu sofá, não se importando muito com a possível futura mancha de sangue que surgiria ali. Olhou ao seu redor a procura de alguma coisa, seus pensamentos desordenados a deixando um tanto afoita. O que faria agora?

Encarou uma bacia de tamanho médio encostada num canto da cozinha. Limpar. Ela precisava limpar o ferimento antes que virasse uma infecção.

Emma pegou água e jogou na maior panela que conseguirau encontrar e deixou esquentando enquanto corria desesperadamente atrás de panos limpos. Pôde avistar alguns no varal. Não poderia garantir que estivessem totalmente limpos, mas era o máximo que conseguiria por ora. Pegou os panos e a água e voltou para a frente do sofá; com uma faca cortou o que restara da camisa do rapaz e por um segundo deixou-se abalar ao ver a carne dilacerada no ombro de Harry. Emma engoliu em seco e respirou fundo, mergulhando o pano na água e depois passando-o sobre o ferimento. As lágrimas logo voltaram aos seus olhos. E se Harry não despertasse? Se ele morresse, como ela ficaria ali naquele bosque? Os pensamentos se perdiam a cada passada de pano que dava no ferimento, até que ouviu um grunhido baixo e o rapaz se remexeu um pouco. Emma prendeu a respiração e a centelha de esperança se reavivou.

– Vamos, Harry, vamos! – ela murmurou baixo, a voz ainda embargada pelo choro. Ele tinha que acordar!

Harry se remexeu mais um pouco à sua frente e resmungou alguma coisa até que, enfim, abriu os olhos encarando-a enquanto continuava limpando o ferimento com água agora fria. O rapaz grunhiu e parecia se esforçar para não gritar de dor ao sentir seu toque.

– Harry! – Emma soltou com alegria e também um pouco assustada, não esperando um despertar daqueles.

O rapaz parecia um tanto desorientado e com certo esforço sentou-se no sofá. A garota protestou, mas não tentou fazê-lo deitar novamente, não tinha aquela intimidade para isso. Harry respirou profundamente por várias vezes e então encarou-a. Ela o encarou de volta com os olhos marejados. Poderia ser apenas impressão, mas algo havia mudado na maneira como o rapaz do bosque a encarava, havia um brilho ali... De reconhecimento? Talvez fosse apenas agradecimento por, de alguma maneira, ter podido ser útil e de certa forma ter salvado sua vida; mas havia algo de diferente, ela sabia.

Harry endireitou-se da maneira que podia sentindo dor pelo corpo e, após fazer algumas caretas, encarou Em e sorriu. Não o sorriso debochado que normalmente lhe dirigia, mas um que aparentava ser no mínimo verdadeiro.

– Você desejou... – Ele murmurou mais para si mesmo, o sorriso não se desfazendo.

– Desejei o quê? – perguntou a garota, a expressão ficando engraçada num misto de confusão e lágrimas que ainda escorriam.

– Não importa. – Respondeu, agora sorrindo de lado como sempre. Com certa dificuldade se levantou, mas antes que pudesse dar o primeiro passo, Em o interrompeu.

– Não pode andar por aí com um machucado desses! – exclamou limpando as lágrimas e fechando a expressão para tentar transmitir alguma seriedade.

– Posso lidar com isso. – Harry deu de ombros e começou a caminhar na direção da cozinha. – E além do mais, a comida não vai ficar pronta sozinha...

A Casa Do BosqueWhere stories live. Discover now