Capítulo 5

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Emma despertou com o sol batendo sobre parte de seu corpo, a aquecendo de forma um tanto incômoda, levando em conta que na noite passada havia se coberto com dois cobertores grossos para se livrar do frio. Abriu os olhos relutante, sentindo seus músculos reclamarem pelo peso das cobertas e pela posição que havia dormido. A vista ainda estava embaçada quando percebeu o contorno de alguém sentado na poltrona a frente do sofá no qual dormira, observando-a silenciosamente.

Ainda estava um tanto perdida em relação à onde estava, sua primeira reação foi dar um gritinho de susto, mas nessa fração de segundos, o estranho se manifestou.

– Podemos sair depois do café para procurarmos a trilha para o vilarejo se quiser. – Ouviu a voz rouca e já conhecida de Harry. O instinto de soltar o grito se esvaiu quase que imediatamente e ela se ouviu suspirar de alívio e se endireitar no sofá, se espreguiçando.

– Bom dia. – Murmurou o encarando, recebendo de volta uma erguida de sobrancelha, o que a fez franzir o cenho em resposta.

O rapaz continuou a encará-la em silêncio, o que a deixou desconfortável. Logo ela seguiu em direção ao banheiro para lavar o rosto e se arrumar melhor.

No banheiro, Em olhou-se no espelho e percebeu o quão desgrenhado estava seu cabelo e seu rosto parecia o de alguém extremamente cansado. Respirou fundo ao se lembrar dos estranhos e pavorosos acontecimentos do dia anterior. Niall, foi a primeira coisa que lhe veio a mente. Onde ele poderia estar? O que poderia ter acontecido com ele? Estaria bem? Eram tantas as perguntas, mas Emma sentia que estava longe de descobrir as respostas ou o caminho para elas. Decidiu que precisava encontrar o irmão antes de poder voltar para casa e que começaria imediatamente, mas antes, precisaria pedir mais uma roupa emprestada para seu "anfitrião", já que não achava que uma camisola de mangas compridas pudesse ser adequada para um dia de busca em meio à floresta.

– Harry, eu gosta... – Ela interrompeu a frase no meio. Mal havia aberto a porta para pedir as roupas emprestadas e ele já as estendia a sua frente.

– Achei que ia precisar. – Deu de ombros, entregando a nova muda de roupas para Emma, que apenas balançou a cabeça, sem ter outra reação para esboçar.

A garota trancou-se novamente no banheiro e trocou-se rapidamente. Olhou para si mesma e riu um pouco. Aquelas com certeza não eram roupas adequadas para uma moça de família da alta sociedade como ela era. Estava vestida com uma camisa branca um tanto justa – obviamente era feminina, já que havia alguns detalhes bordados – e uma calça cáqui que ia até pouco mais abaixo dos joelhos. Se sua mãe a visse naquele momento, usando tais trajes, com toda a certeza surtaria, faria com que ela voltasse para dentro de casa e trocasse de roupa para algo "mais adequado para uma mocinha". Revirou os olhos já imaginando a cena e depois de dar mais um risinho, saiu do banheiro. Ela pensara que veria Harry a esperando sentado em algum lugar para que pudessem sair em busca da trilha – agora de Niall -, mas o cômodo principal estava vazio e silencioso. Emma achou estranho, estava prestes a chamar pelo rapaz quando o apito de uma chaleira fez-se ouvir. Assustada, ela correu em direção ao fogão e tirou a chaleira do fogo com cuidado. Ao lado do fogão, na pia, havia uma xícara preparada para receber o chá; uma peneira estava posta para filtrar o líquido, o separando das folhas com as quais fora feito.

Em serviu-se da bebida que o dono da cabana havia preparado e, com certa pressa, comeu alguns biscoitos e engoliu o líquido quente – na temperatura certa – em três goladas. Depois de lavar a xícara, saiu correndo pela porta da frente que estava aberta. Parou por um instante encarando a natureza ao seu redor. Aquele bosque não parecia tão assustador durante um dia ensolarado e quente. Deu alguns passos à frente observando ao redor, maravilhada.

– Harry? – chamou, sem parar de observar tudo o que seus olhos conseguiam. – Harry? – chamou mais uma vez, mas não recebeu resposta. Deu mais um passo à frente quando ouviu o farfalhar de folhas no meio da mata. Um pouco hesitante, caminhou na direção em que achou que vinha o barulho, a boca seca pelo nervosismo. – Harry...? – chamou mais uma vez, se aproximando dos arbustos que rodeavam a clareira em que se encontrava, os braços estendidos à frente.

– Você não deve andar sozinha pelo bosque sem conhecê-lo. – Harry murmurou às suas costas, assustando Emma, que pulou de espanto, o coração palpitando. – Desculpe, não queria te assustar. – Sorriu torto, encarando-a de cima.

– Não me assustou. – Respondeu ela, tentando se recompor, mas a respiração descompassada e a palidez a denunciavam, o que fez com que o rapaz risse de lado.

– Vamos caminhando... – Ele antecipou-se indo a frente.

– Espere. – Emma murmurou, fazendo o rapaz voltar o caminho para poder encará-la. – Não posso ir embora sem meu irmão! – ela exclamou o óbvio, Harry apenas a encarou por um instante, pensativo, e deu de ombros, voltando a caminhar.

Em encarou o garoto a poucos passos a sua frente e, bufando, correu para ficar ao seu lado. Não seria deixada para trás daquela vez e não se atreveria a sequer olhar para os lados enquanto estivessem em meio à floresta. Ela caminhava quase agarrada ao braço de Harry, que vez ou outra olhava de canto de olho em sua direção, um sorriso torto aparente, toda vez que fazia isso. Emma estava bastante receosa por estar de volta àquelas trilhas – por mais que mal conseguisse diferenciar um lugar do outro com todas aquelas árvores iguais a rodeando – e se perguntava por onde deveriam começar a procurar por Niall. Andaram por longos instantes em silêncio, Emma apreensiva demais para começar algum tipo de conversa.

O medo era tanto que qualquer mísero barulho a mais, a garota se agarrava ao braço de Harry, que segurava-se para não rir tão descaradamente do desespero da companheira. Passaram boa parte da manhã caminhando entre as árvores, vez ou outra, chamando pelo nome do Kloss mais velho, sem sucesso na busca.

O sol estava a pino quando Harry decidiu parar numa pequena clareira para descansar.

– Hora do almoço, devo presumir. – Ele disse encarando o pouco do céu que podia ser visto por entre as folhas; sentou-se sobre a raiz de uma árvore e esticou o braço para apanhar algumas frutas num arbusto. O gesto fez Emma se desesperar, lembrando-se da forma como o irmão havia sido puxado por algo nos arbustos; ela correu na direção do rapaz e o puxou para longe, quase o derrubando no chão, não fosse o aparente super equilíbrio que ele possuía.

– O que houve? – ele retrucou num misto de irritação e confusão.

– Os arbustos... – Ela murmurou, ainda agarrada ao braço pelo qual puxara Harry.

Harry encarou a menina com a sobrancelha erguida, agora achando um pouco de graça na expressão quase aterrorizada que se estampava no rosto de Em. Ele se soltou delicadamente das mãos firmes da garota e voltou a se aproximar cuidadosamente dos arbustos.

– São só arbustos. – Murmurou com certa cautela, como que ao falar com alguém perigoso a ponto de ter um surto psicótico. – E frutas. – Completou estendendo um punhado de amoras para Emma, que encarou as mãos do rapaz com desconfiança. – Vamos, Emma. São só frutinhas. – Retorquiu.

Ela tornou a encarar as mãos de Harry, fez uma pequena careta e então apanhou algumas frutas oferecidas.

– Mas vamos caminhando, precisamos encontrar Niall! – ela retrucou já se endireitando.

Harry bufou, mas logo se levantou e espanou a sujeira de sua roupa, voltando-se rapidamente para o arbusto de frutas, pegando um punhado e estendendo para Em.

– Não sabemos quanto tempo mais ficaremos no bosque, é bom termos o que comer. – Explicou, vendo a cara de confusão da garota. – Coloque nos bolsos. – Deu de ombros entregando as pequenas frutas recém-apanhadas nas mãos de Emma, que fez o que lhe fora dito.

Harry apanhou mais um punhado de frutas e guardou-as nos próprios bolsos, logo depois, sem mais dizer, voltou a caminhar na direção da trilha que estavam seguindo. Emma bem que gostaria de saber como aquele garoto peculiar conseguia se localizar em meio àquelas árvores tão parecidas.

– Vamos, quero voltar para a cabana a tempo do chá das cinco! – ele exclamou já a uns bons passos de distância.

A Casa Do BosqueWhere stories live. Discover now