Capítulo 3

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Niall caminhou na direção em que Harry deveria estar parado – e de fato estivera alguns minutos antes – com Emma grudada em seu braço, de olhos arregalados e um pouco assustada.

– Muito engraçado, Harry. Apareça! – o mais velho exclamou olhando ao redor entre as árvores que margeavam a trilha que seguiam.

– Estou ficando com medo, Niall... – Emma murmurou agarrando-se mais ao braço do irmão mais velho.

– Tá tudo bem. – Ele a abraçou. – Vamos continuar seguindo a trilha. – Disse, já começando a caminhar.

Emma se encolhia a cada barulho um pouco mais alto que ouvia; aquelas "histórias para crianças dormirem" voltando como um turbilhão em sua mente tomada pelo medo. Além dos medos bobos, ainda haviam os medos reais. E se não conseguissem encontrar o caminho de volta para casa? E se houvessem animais famintos e raivosos à espreita, querendo um pedaço de carne fresca? E se as lendas sobre o bosque mudar de tempos em tempos – tornando-se um labirinto – fossem reais e eles nunca mais conseguissem sair de lá para qualquer outro lugar? E quanto a Harry, onde ele estava e por que os abandonara? Eram tantas perguntas e "e se" em sua mente, que podia sentir sua cabeça latejar de tanta preocupação.

– Hei, baixinha. – Niall chamou a atenção da irmã, que o encarou com os olhos um pouco úmidos. – Não precisa ficar com medo, está bem? – Passou uma das mãos pelos cabelos da menor, bagunçando-os. – Vamos ficar bem, acharemos o caminho para casa e nem sequer precisaremos da ajuda daquele pivete. – Disse a última parte num tom um tanto ressentido.

Emma apenas balançou a cabeça concordando e dando um risinho um pouco embargado pelas lágrimas que tentava segurar para se fingir de forte. Sempre quisera sair de sua casa, de seu quarto, enfrentar as aventuras do mundo lá fora, não podia acabar chorando na primeira aventura que estava tendo, e não choraria!

– Vamos lá, um pouco mais rápido. Parece que a chuva está voltando, não quero que você pegue um resfriado logo no seu primeiro dia. – Niall apertou mais a irmã sob seu braço e a encarou sorrindo largo. Ela sorriu de volta quase esquecendo do medo que sentia.

Caminharam um pouco mais, o joelho de Em incomodava um pouco quando ela andava, mas quase não sentia mais a ardência de antes. Estava se sentindo um pouco menos temerosa tendo Niall ao seu lado. O irmão sempre a protegera e ela se sentia segura em sua presença.

– Quer descansar um pouco? – ele perguntou já parando de andar.

– Não, estou bem. – Emma retrucou. – Vamos continuar, quero chegar em casa logo! – exclamou esfregando os braços ao sentir o vento frio de fim de tarde penetrar o tecido de suas roupas.

– Certo. – Voltaram a andar. – Hei, olhe! – Niall exclamou apontando em direção a um arbusto. – Amoras! – Sorriu caminhando na direção em que apontara.

Niall agachou-se na lateral da trilha observando as frutas, chamando a irmã mais nova para ver também. Emma aproximou-se cautelosa do arbusto. Não queria ficar naquele bosque observando frutinhas, queria chegar logo em casa e se esconder debaixo das cobertas quentinhas!

Emma ia se agachar ao lado do irmão quando o mesmo estendeu a mão para pegar uma das frutas. O que aconteceu depois fora rápido demais para que Em conseguisse assimilar direito. Num instante Niall estava ali, e então, num farfalhar de folhas, algo – algo por trás do arbusto – o puxou com força e continuou puxando para dentro da amoreira o irmão que tentava se soltar seja lá do que o estivesse segurando, agarrado à grama a sua volta. Emma deu um gritinho de medo e tentou raciocinar. O que poderia fazer para ajudar Niall?

Olhou ao redor e seus olhos encontraram uma pedra mediana no chão. Não machucaria, mas talvez fosse o bastante para uma distração e a coisa soltasse seu irmão. Correu para pegar a pedra e sem hesitar, tacou-a com toda a força que dispunha na direção do arbusto, porém, a mesma pareceu atravessar as folhas sem esforço nenhum, sem encontrar um alvo para acertar.

– Larga meu irmão! – Em gritou já voltando a ficar chorosa. – Larga! Larga! – Ela correu em direção a Niall, puxando seu braço para tentar dar apoio. – Solte ele! – gritou mais uma vez, havia largado o braço de Niall e agora suas mãos cavavam um buraco entre os verdes das folhas do arbusto, tentando encontrar o que quer que fosse que estivesse ali. Nada. Era isso que havia ali. Um grande nada puxava seu irmão em direção aos arbustos, para fora da trilha. – Não! – gritou mais uma vez. – Deixe meu irmão em paz! – As lágrimas queriam começar a sair de seus olhos. – Solte-o! – Ela dava tapas inúteis nas folhas enquanto via Niall tentando se afastar.

O mais velho estava com a mão livre quase enterrada na terra da trilha, tentando puxar seu corpo de volta; Emma se levantou e estendeu a mão para agarrar a do irmão, no instante em que ele levantou o braço... Não havia mais Niall. Apenas Emma com um braço estendido para o nada. Seu irmão mais velho fora completamente engolido por um arbusto.

A garota ficou encarando o vazio à sua frente sem conseguir reagir. Então ouviu um novo farfalhar entre as árvores e arbustos mais a frente e seu coração disparou assim como suas pernas. Seu corpo estava correndo enquanto sua mente ainda tentava decifrar o que havia acontecido. O que estava acontecendo. Não tinha a menor ideia de para onde estava correndo, poderia estar indo diretamente na direção do inimigo agora...

"O caminho do bosque muda de acordo com a necessidade das pessoas que estão dentro dele." A voz de Harry ecoou em sua mente num estalar. "Se isso for verdade, por favor, por favor, me leve a um lugar seguro..." era tudo o que o desespero lhe deixava pensar. "Por favor, por favor..." fechou os olhos por um instante um pouco mais longo do que uma piscada, mas foi o bastante para que tropeçasse em alguma raiz e caísse de bruços no chão. Emma estava temerosa em abrir os olhos agora. Talvez fosse o fim...

– Bem-vinda de volta. – Ouviu uma voz rouca e levemente conhecida murmurar em algum lugar a sua frente.

A Casa Do BosqueWhere stories live. Discover now