Capítulo 7

36 3 2
                                    

Harry despertou em um pulo, o coração acelerado e a respiração descompassada. A cortina de seu quarto estava aberta, assim como a janela que deixava a luz do sol passar e acertar diretamente a cama em que esteve deitado. Os lençóis estavam praticamente encharcados e ele demorou certo tempo até conseguir fazer sua respiração e seu coração se acalmarem. Esfregou o rosto com as mãos tentando ordenar a bagunça em que sua mente se encontrava. O que havia acontecido? Como acordara em seu quarto se sequer lembrava-se de ter ido se deitar ou qualquer coisa do tipo?

Com certo esforço o rapaz colocou as pernas para fora das cobertas e se endireitou sentado na cama, ainda tentando entender. Foi quando ouviu o ranger leve da porta do cômodo quando esta foi aberta minimamente por uma moça que espiou pela fresta por um instante antes de escancarar a porta com um sorriso radiante.

– Você despertou! – ela vibrou saltitando na direção de Harry, que manteve-se parado e estático onde estava, os olhos ligeiramente arregalados. – O que foi? – a moça perguntou parecendo confusa. – Parece que viu um fantasma... – Ela ergueu a sobrancelha, mas logo deu de ombros e voltou novamente em direção à porta. – Venha, vamos tomar chá, você deve estar faminto! – ela exclamou sorrindo largamente antes de desaparecer porta afora.

Harry continuou sentado na beirada de sua cama, completamente confuso. Sua cabeça começava a latejar a medida em que tentava reorganizar seus pensamentos e lembranças; tudo estava misturado, confuso. Sua mente parecia ter-se perdido no tempo; não conseguia encaixar as imagens que lhe vinham com alguma realidade. Aliás, será que aquilo era real? Sua cabeça deu uma pontada forte quando pensou naquilo. Talvez fosse melhor falar com aquela moça que estranhamente estava invadindo sua cabana.

Então ele se levantou e lentamente caminhou para fora do quarto, logo dando de cara com a garota sorridente servindo duas xícaras de chá dispostas uma de frente para a outra sobre a mesa da cozinha. Ela o olhou e de alguma forma parecia que até seus olhos sorriam para ele, o que estranhamente o fazia se sentir bem. A moça fez um gesto para a cadeira em frente à ela, convidando-o para sentar-se, o que ele fez de bom grado e com um sorriso nos lábios.

– Fiz chá de folhas de laranjeira, do jeito que você gosta! – ela disse num tom quase que orgulhoso. – E biscoitos de gengibre. – Apontou para uma travessa que estava no balcão que dividia a cozinha da sala de estar da cabana.

Harry não pôde deixar de sorrir com certo orgulho da garota a sua frente. Ele não tinha ideia do porquê. A verdade era que seu corpo e suas reações pareciam completamente desligados de sua mente, de sua razão. Por um lado se questionava quem poderia ser a bela moça; por outro, sentia que a conhecia muito bem e que ela era importante para ele... Mas por quê?

Mordiscou um dos biscoitos de gengibre e bebeu um pouco do chá. Fez careta. Estava sem açúcar.

– O que há com você, Harry? – A moça torceu os lábios numa espécie de bico. Aquele gesto fez o estômago do rapaz dar um nó. – Não vai falar comigo? – retrucou ela fazendo um instante de silêncio para ver se o rapaz lhe responderia de alguma maneira, mas nada recebeu além de mais silêncio. – Só porque Albert disse que o bosque não é um lugar seguro? – Fez careta e aquilo lembrou Harry de algo. Ou melhor, de alguém.

– Você não deveria estar aqui, certo? – Harry permitiu-se dizer, um tanto inseguro, mas conseguiu mascarar com um tom de voz neutro.

– E quem disse que Jenna Kloss liga para o que os outros dizem?

Naquele momento um vento cortante atravessou a porta aberta, contrastando com o tempo aberto e brilhante do lado de fora da cabana; tudo parecia voar ao seu redor, mas a moça a sua frente permanecia sentada, a expressão serena e o sorriso nos lábios.

A confusão brotou novamente na mente de Harry, ia se levantar para chegar mais perto da garota, mas quando o fez, sentiu uma terrível fisgada no ombro que se aprofundou por um instante e depois tornou-se uma ardência dolorosa. Sua visão ficou turva, tudo o que pôde ver foram os grandes olhos dela, agora arregalados e marejados o encarando com certo desespero.

"E quem disse que Jenna Kloss liga para o que os outros dizem?... Quem disse... Liga... Jenna Kloss liga... Jenna Kloss... Jenna Kloss..."

– Vamos, Harry, vamos! – O rapaz ouviu um murmurar baixo e embargado. Abriu os olhos com certa dificuldade e arfou reprimindo um grito de dor ao sentir algo frio sendo colocado sobre seu ombro. – Harry! – Ouviu alguém exclamar em um misto de alegria e medo.

O rapaz sentia o corpo pesar, mas se esforçou para sentar-se no sofá, ignorando os protestos da garota que estava ao seu lado. Depois de respirar profundamente por várias vezes para tentar controlar as pontadas de dor no ombro, ele finalmente encarou sua companheira que estava agachada ao lado do sofá, um pano ensanguentado nas mãos e grandes olhos marejados o encarando de volta...

Agora Harry se lembrava do porquê não podia deixar Emma Kloss partir.

A Casa Do BosqueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora