Capítulo 2

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Niall e Emma se entreolharam.

– Gritos não vão nos assustar. – A mais nova disse depois de engolir em seco.

– Ah não? – Harry perguntou com um sorriso brincando em seus lábios. – Pensei que tivesse sido o motivo de estarem perdidos. – Sorriu mais abertamente vendo Em fechar a cara.

– Não vamos nos deixar assustar desta vez, não é, Niall? – ela murmurou segurando firme a mão do irmão mais velho, que assentiu.

– Tudo bem então. – O estranho rapaz deu de ombros. – Mas seria bom esperar a tempestade passar. E além do mais, você não parece em condições de caminhar por muito tempo. – Apontou para Emma que abriu a boca para protestar.

– Vamos esperar a tempestade, então. – Niall murmurou antes que a irmã pudesse dizer qualquer coisa.

Harry voltou aos afazeres de antes de ser interrompido. Jogou alguns pedaços de lenha na lareira para aumentar o aquecimento da cabana, que por ser de madeira acabava deixando passar um pouco do vento por entre algumas frestas. Emma se entretinha observando cada detalhe do lugar. Por anos imaginara como seria o interior da tão famosa casa no bosque; os adultos do vilarejo costumavam dar asas à imaginação das crianças contando que ali naquela cabana morava o Fantasma do Bosque que fazia desaparecer as crianças mal criadas ou que se perdiam no meio da floresta por desobedecerem seus pais; diziam também que a casa do bosque guardava inúmeros terríveis segredos e que o lugar deveria ser mantido trancado para não libertar o mal que se encontrava selado ali dentro. Com todas aquelas histórias – que por mais que soubesse, agora que já era crescida, que eram apenas lendas e histórias para fazerem as crianças obedecerem os pais -, Em não conseguia imaginar algo melhor do que um bangalô abandonado e cheio de teias de aranha e bichos estranhos em seu interior. Mas aquilo era bem diferente de seu imaginário. Era tudo muito limpo e organizado, pequeno, mas confortável e aconchegante. Tudo o que era necessário para uma boa temporada de descanso podia ser encontrado ali. Uma poltrona em frente à lareira, uma cadeira de balanço um pouco mais ao canto acompanhando uma pequena estante bastante cheia de livros; a cozinha era demarcada pela mesa quadrada de dois lugares, que no momento acomodava um lampião; além daquele cômodo, aparentemente havia mais dois, os quais a garota deduziu serem o quarto e o banheiro. "Nada mau..." ela pensou consigo mesma.

Niall por sua vez preferia manter o olhar sobre o estranho que os acolhera e na janela, para se certificar de que a chuva não havia passado mesmo. Estava louco para voltar para casa e o machucado de Emma o preocupava. Logo agora que a irmã havia tido permissão para frequentar a escola! Os pais provavelmente surtariam com essa pequena aventura de Em e se caso algo mais – como uma gripe ou uma infecção no machucado – acontecesse, com certeza o Senhor e a Senhora Kloss voltariam a manter Emma dentro de casa. Niall não queria que isso acontecesse. Vira a irmã se divertir e ficar tão feliz durante aquele dia na escola! O som de um trovão o fez despertar de seus devaneios.

– Mais alguns minutos e poderemos ir. – Emma e Niall puderam ouvir a voz rouca do jovem morador da cabana dizer.

Niall encarou a janela com a sobrancelha erguida. Ainda chovia consideravelmente, como poderiam sair em alguns minutos?

– Querem chá? – Harry ofereceu erguendo uma xícara na direção dos dois irmãos. Emma estava morrendo de frio e estava prestes a aceitar quando o irmão a impediu.

– Não, obrigado. Estamos bem. – O mais velho disse, segurando as duas mãos de Em, que o encarou questionando.

Harry apenas deu de ombros e deu as costas, se voltando na direção do fogão e servindo-se de um pouco mais de chá.

Cerca de cinco minutos se passaram em completo silêncio, até que o barulho da chuva cessou e o dono da cabana voltou-se novamente aos irmãos com um sorriso nos lábios.

– Podemos ir agora – disse indo pegar um casaco que estava jogado de qualquer jeito sobre a poltrona em frente à lareira.

– Certo. – Niall respondeu levantando do chão – onde preferira ficar, para não se afastar de Emma – e logo se virando para ajudar a irmã a se levantar. Durante esse instante pôde ouvir o som de um trovão ao longe, a tempestade se afastava.

O trio saiu da cabana, Harry à frente e Emma agarrada à Niall, logo atrás.

– Só uma coisa – o rapaz que os guiava murmurou antes de seguir em direção à trilha. – Não importa o que aconteça, mantenham-se perto de mim e não olhem para trás. – Advertiu e, sem esperar resposta, voltou a caminhar com as mãos dentro dos bolsos do casaco que usava.

Emma olhou para o irmão mais velho um tanto assustada.

– O que ele quer dizer? – perguntou ela encarando as costas de seu guia, preocupada.

– Não se preocupe, Em. – Niall murmurou abraçando a irmã. – Ele deve ser maluco. – Deu de ombros.

– Vocês vão acabar ficando para trás! – Ouviram a voz, já bastante afastada, de Harry cantarolar, o que os fez apertarem o passo para acompanharem o rapaz.

O bosque ficava bastante tenebroso depois de uma tempestade. O céu ainda estava encoberto e as árvores juntas não ajudavam a clarear o caminho. Harry caminhava com tranquilidade à frente dos Kloss, assobiando e às vezes cantarolando alguma coisa. Niall e Emma permaneciam calados, apenas seguindo o caminho. Em olhou para os lados, não gostava daquela área do bosque, as árvores pareciam mais juntas que o normal e suas raízes invadiam a trilha que deveriam seguir. Era quase uma sensação claustrofóbica. Estava um pouco distraída, por isso acabou tropeçando numa das raízes e por pouco não caiu.

– Tudo bem, Em? – Niall perguntou a segurando mais firme.

– Sim... – Quase choramingou. E pensar que se encontrava ali por querer se divertir um pouco com os novos colegas... Agora só queria ir para sua casa quentinha, iluminada e segura.

– Hei, Harry! – Niall chamou pelo guia, que parou, mas não se virou para encará-lo. – Será que podemos parar um instante? Emma precisa descansar um pouco.

– A escolha é de vocês... – Por mais que o rapaz estivesse de costas e a certa distância, Em e Niall tinham certeza de que Harry dera de ombros fazendo pouco caso.

– Garoto esquisito. Nem sequer olhou para nós! – Niall resmungou sentando a irmã numa raiz gigante que brotava do chão.

– Não precisamos parar, eu estou bem! – a garota exclamou querendo se levantar, mas sendo impedida.

– Emma, eu posso ouvir sua respiração daqui. – Niall encarou a irmã mais nova seriamente. – Não precisa se fazer de forte. Eu também estou cansado. – O garoto sentou-se ao lado de Em que a contragosto se manteve sentada.

– Só quero chegar em casa logo. – Retrucou a mais nova. Olhou de esguelha na direção de Harry que se manteve parado onde estava no caminho. – Ele não vai se sentar? – perguntou erguendo a sobrancelha.

– Como eu disse, maluco. – O mais velho revirou os olhos.

Um instante se passou em silêncio, até que o esmagar de folhas pôde ser ouvido.

– Ouviu isso? – Emma perguntou um pouco aflita.

– Deve ser só algum animal procurando comida. – Niall olhou para trás na direção em que tinham vindo.

– E se for algum lobo? – Em também olhou na mesma direção, com medo.

– Melhor voltarmos a andar. – Niall levantou rapidamente. – Harry, nós... – Ele parou a frase pela metade. – Onde diabos está ele?!

A Casa Do BosqueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora