Capítulo 6

29 4 1
                                    

Se Emma ainda estivesse bem em relação ao passar do tempo naquela floresta, ela e Harry estavam há horas caminhando por aquelas trilhas à procura de Niall, e o pior, sem nenhum vestígio dele. Chamavam, vez ou outra se desviavam da trilha, mas nada que pudesse indicar que o garoto estivera ali foi encontrado.

A esperança de Emma ia se esvaindo a cada passo que dava. Como poderia explicar o sumiço do irmão aos pais quando voltasse para casa? Aliás, como voltaria para casa? Ela começou a quase ter um ataque de pânico quando pensou no fato. Da primeira vez que tentara sair do bosque, perdeu seu irmão e ainda voltara para a clareira da cabana de Harry; parecia que aquelas árvores, aqueles arbustos e todo o resto tinham vontade própria e naquele instante brincavam de pregar peças em Emma. Não poderia ficar ali, além do mais, o que seria dela? Moraria com o peculiar rapaz que a estava guiando naquele instante para o resto da vida? Deveria esquecer de tudo e todos antes do bosque?

– Claro! – Emma foi tirada de seus devaneios pela exclamação de Harry.

– Desculpe, o quê? – Ela parou para encara-lo, assustada.

– Não estava prestando muita atenção, estava? – o rapaz perguntou sorrindo torto ao encarar a garota, que apenas meneou a cabeça, encolhendo os ombros. Por um instante ela pensara que aquela exclamação havia sido para seu pensamento anterior. Que boba ela era! – Eu dizia que os Riesen estão estranhamente quietos hoje e me perguntava o porquê. – O garoto começou a explicar novamente. – Quando me lembrei que os Riesen costumam tirar uma soneca durante o tempo de lua cheia. – Ele deu de ombros.

Em assentiu ao compreender e instintivamente olhou para o céu. Aquela área tinha as copas das árvores um pouco menos densas, o que deixava o céu amostra em alguns pontos. Ela se lembrou do comentário da professora de ciências na primeira e única aula que tivera na escola, que aquele dia – o dia da aula – era o último dia de lua cheia do mês.

Emma sentiu o coração acelerar e as mãos começaram a suar de nervosismo. Ela não fazia ideia do que poderiam ser os Riesen, mas tinha a ligeira impressão de que não eram coisas agradáveis de se encontrar num bosque estranho e assustador. Apressou o passo para ficar ao lado de seu guia e se agarrou instintivamente em seu braço quando ouviu o barulho de folhas sendo pisoteadas.

– Harry... – Murmurou Em agarrando-se ainda mais ao braço do rapaz, mas sendo ignorada. – Harry...! – chamou mais uma vez.

– O quê? – perguntou um pouco impaciente, olhando para a expressão assustada da menina que o acompanhava.

– ... Passamos da lua cheia há pelo menos um dia... – Murmurou Emma por fim, os olhos grandes demonstrando todo o seu medo.

– Não se preocu... – A frase de Harry foi cortada.

– HARRY! – Em exclamou pulando de susto. Um enorme animal que parecia um cão selvagem, mas de tamanho gigante e presas imensas, havia pulado de trás de um arbusto, surpreendendo Harry e o abocanhando na clavícula.

Por mais que aquilo parecesse doer muito, o rapaz apenas se contorcia tentando se livrar do animal – ou o que quer que aquilo fosse – sem aparentemente estar realmente sentindo alguma dor. Mas deveria ser a adrenalina e o inconsciente, ao menos era naquilo que Emma se forçava a acreditar.

Ficou encarando Harry lutar contra as mandíbulas do feroz animal que aparentemente queria arrancar o braço do tronco do rapaz que, de alguma maneira, estava conseguindo se soltar. Mais uma vez estava sem reação em um momento importante no qual precisavam dela. E mais uma vez seus músculos estavam travados, sua mente confusa e inebriada pelo medo.

– Solte-me! – Harry exclamou com certa raiva. O enorme cão arreganhou a boca e rosnou eriçando os pelos da nuca, mas soltando sua atual presa. O rapaz deu um soco de mão fechada no grande focinho do cão – o que para seu porte, provavelmente não passou de um peteleco – que ganiu se encolhendo um pouco. – Stopio a mynd! – ele gritou em tom estridente, quase que como se estivesse extremamente irritado com o animal; o mesmo ganiu mais alto e deu meia volta, saltando de volta aos arbustos e desaparecendo.

A fúria estampada nos olhos verdes de Harry esvaiu-se assim que constatou que estavam – ele e Emma – fora de perigo. E então o torpor e a adrenalina se foram, a grande mordida que levara começou a doer infinitamente e seus joelhos bambearam, fazendo-o cair sobre a relva que ele tinha a impressão de estar úmida.

– HARRY! – Emma exclamou, as pernas finalmente se movendo como ela queria. Ainda um pouco trêmula, ela se postou ao lado do corpo caído do rapaz. – Harry? Harry? Está me ouvindo? – perguntou pousando cuidadosamente a cabeça do garoto em seu colo. Ele resmungou qualquer coisa em resposta. – Ai meu Deus... – Ela deixou escapar quando percebeu que havia uma quantidade considerável de sangue ao redor do corpo. – Tudo bem, tudo bem. – Disse a si mesma tentando se manter calma, mas falhando horrivelmente, já que seus olhos se encontravam marejados e ela tentava ao máximo não chorar. – Harry, fale comigo, por favor... – Choramingou, virando o rosto do rapaz em direção ao seu. – Olhe para mim, o que devo fazer? – Naquele instante a garota não conseguia mais se controlar, as lágrimas finalmente transbordaram e ela começou a soluçar.

Deseje... – Ouviu o murmurar fraco, quase um sopro, que Harry soltou antes de ficar completamente inconsciente.

Desejar? Desejar o que? Emma xingou internamente o rapaz, aquela não era uma situação para charadas ou brincadeiras; logo anoiteceria, ele estava ferido e algo lhe dizia que aquele enorme cão não tardaria a ressurgir para continuar o lanchinho da tarde.

Ela não sabia o que fazer e era isso. Aquele seria o fim de Emma Kloss. Num bosque confuso e estranho que engolira seu irmão mais velho. Com um estranho guia morador do bosque definhando em seus braços...

Emma curvou-se sobre o corpo inerte de Harry e chorou. Desejou não estar ali, perdida e encharcada de sangue alheio; desejou poder estar em casa com seus pais e Niall; mas acima de tudo, desejou que pudesse estar em algum lugar seguro onde pudesse pensar direito e cuidar dos ferimentos de Harry.

A Casa Do BosqueWhere stories live. Discover now