Estilhaços em Chamas

Capítulo 7 (S02)

A mão apoiou-se levemente sobre o ombro de Jenisson. O líder dos adagas virou-se aparentando leveza enquanto, na verdade, estava tentando esconder e ignorar a impaciência crescente.

Após tornar a cabeça, deparou-se com um homem de quase quarenta anos. Era alto e esguio, mais do que o comum para um mercenário, eles geralmente possuíam mais músculos visíveis. O homem apresentava uma barbicha crescida e negra, o cabelo, de mesma cor, era um tanto longo, mas seu mal trato era tanto que ele ficara tão emaranhado a ponto de não chegar à altura de seus ombros.

Crimson tinha aquele olhar desleixado, sonolento, cansado. Jen não conseguia ter certeza de como descrever aquilo, mas uma coisa ele podia garantir: estava longe de ser o olhar ameaçador e confiante de um mercenário típico, daqueles olhares que, sozinhos, são capazes de vender seu trabalho. Os olhos de Crimson passavam mais uma sensação de "não estou dando a mínima para o que acontece à minha volta".

- Sim, sou o contato de Levi - Jenisson respondeu logo após recompor a postura que havia perdido nos instantes anteriores.

- Ótimo, então vamos conversar em meu quarto. Garanto que Levi deve ter algumas propostas interessantes demais para serem tratadas em público.

Jenisson hesitou por alguns instantes. Ele preferia ter aquela conversa no salão, em meio às dezenas de olhares que o cercavam. Convidar um negociante para o local onde você vive era algo extremamente incomum. Havia uma grande possibilidade de tudo ser uma armadilha, seria como entrar na toca do leão. Apesar de não aparentar, aquele homem continuava sendo um mercenário perigoso, e Jen não podia esquecer-se disso.

Por outro lado, ele possuía sua retaguarda acobertada por Fehls e K. Além disso, Jen possuía confiança em suas habilidades de defesa. A segurança do lugar deixou o grupo entrar com suas armas devido a um acordo prévio entre a Adaga, Levi e a máfia que controlava o Pináculo, A Tala. Porém a pistola e a adaga estavam longe de ser suas únicas armas, Jen se garantia em uma luta corporal, assim como havia demonstrado na emboscada que sofreu durante o caminho.

- Concordo - Jen respondeu, quebrando o curto, mas significativo, silêncio.

Com um aceno, Crimson pôs-se a andar em direção à uma das laterais do salão, Jen levantou-se e o seguiu a uma proximidade segura. Após esperar alguns momentos, Fehls e K também saíram do bar o começaram a segui-los. A distância era o bastante para que, em meio à multidão, eles fossem dificilmente percebidos.

Enquanto caminhava, Fehls deu seu máximo para encontrar qualquer indivíduo que também estivesse seguindo Crimson ou oferecendo-lhe uma escolta em meio à multidão, mesmo assim não foi capaz de achar ninguém. Era improvável, mas parecia que Crimson estava sozinho. Algo realmente arriscado tendo em vista que, normalmente, alguém em sua posição teria contratado alguém para garantir que a negociação ocorresse suavemente.

Seguindo Crimson, Jen passou pela parte destinada ao cassino. O barulho das máquinas era irritante aos seus ouvidos. Quando pensava em jogos de azar, a única coisa que realmente lhe agradava era, provavelmente, a única que não estava presente em nenhum cassino: Três Caminhos. O jogo de cartas era disputado longe desses lugares luminosos e entupidos de dinheiro, mas, o mais importante, possuía grandes doses de estratégia associadas à sorte. Uma combinação que atraía imensamente Jenisson, fosse em um jogo, fosse em sua vida.

Depois de atravessarem o cassino, eles encontraram a entrada de uma larga ponte que levava os transeuntes de uma torre à outra. Havia várias dessas no Pináculo. Basicamente, andar sim, andar não. Ao começar sua travessia, Jen olhou pelas vidraças que formavam as paredes e o teto da estrutura, fechando-a por completo do exterior, mas permitindo uma visão de toda a cidade. Eles estavam em uma altura considerável e, mesmo assim, ainda estavam longe do topo. "Ainda mais agora", pensou olhando para cima e identificando os novos andares que estavam sendo construídos no Pináculo. "A Tala com certeza é mais rica do que a maior parte das pessoas acredita". Ele lembrou automaticamente de que o nome da máfia provinha da moeda de Porto Tempestade, a cota de tala, mais casualmente referida como tala.