Capítulo 3 (S02)

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O raio desenhou linhas ofuscantes no céu cinzento, seu trovejar fez-se ouvir à distância. Esses ocasionais estrondos eram o único som que existia entre Fehls e Jenisson. Fehls não ousou proferir uma palavra desde que saíram do galpão. Ele sabia que, quando algo deixava Jenisson determinado, pouco se podia fazer para dissuadi-lo. E esse era um daqueles momentos.

Jen permanecia com a cara fechada enquanto ambos caminhavam por entre as ruas quase desertas. Elas normalmente estariam repletas de vida, porém a tempestade iminente afastou os transeuntes mais sensatos.

O líder da Adaga fechou ainda mais sua carranca ao passar por um cruzamento cuja rua levava à região na qual a missão desastrosa ocorrera no dia anterior. Dois guardas foram designados a cuidar daquele trecho com a intenção de impedir qualquer um de seguir mais adiante. Provavelmente a polícia estava cuidando do isolamento da área até que a oazina se dissipasse naturalmente e sua concentração no ar deixasse de ser tóxica. Pelo menos a chuva ajudaria no processo, fazendo com que, ao fim do dia, o local já estivesse limpo.

A polícia de Porto Tempestade era muito diferente das de outras regiões. Como a cidade não possuía um governo ou qualquer forma de poder central, os representantes armados da lei apenas tentavam manter as coisas equilibradas. Eles não possuíam intenção de ir contra nenhuma das grandes facções, pelo contrário, muitas vezes, eles às ajudavam, fosse fechando os olhos às suas operações mais importantes ou repassando informações sobre grupos inimigos, e era isso o que os mantinha na jogada. Sendo contratada de forma neutra e sem ligações fixas, a pequena polícia e esquadra de Porto Tempestade era tratada como uma facção igual às outras, mas, assim como os Adagas, contava mais com o poder de suas conexões do que o poder das armas, sendo capaz de transitar livremente por todos os palcos dos conflitos. Quem iria querer derrubar algo tão útil?

Por outro lado, pequenos negócios autônomos, como círculos de tráfico ou assaltantes ocasionais, eram desmantelados, presos ou, na maioria das vezes, mortos pelos policiais em nome da ordem. Qualquer um que não possuísse a proteção de algum grupo reconhecido estava suscetível à força da "lei", sendo que, muitas das vezes, o fim desses pequenos grupos era financiado pelas grandes facções.

Mas, no dia à dia, os policiais meramente mantinham a ordem por meio da dissolução de uma briga de bar ou de uma discussão armada no meio da rua.

Jen e um dos policiais se identificaram ao trocarem olhares. Eles apenas realizaram um gesto cortês com a cabeça e continuaram com seus afazeres.

Os dois adagas adentraram em algumas vielas mais estreitas. Como a cidade fora construída de forma desordenada, muitos eram os caminhos estreitos demais para carros poderem transitar.

O clima de tensão entre os companheiros só foi parcialmente quebrado quando Jenisson sentiu seu celular vibrar. Sem perder tempo, ele o buscou em seu bolso e o levou ao ouvido.

- Levi - Ele disse.

- Jen - A voz respondeu do outro lado da linha. - Já está à caminho?

- Estou. Será que você pode abrir o jogo de uma vez?

- Sempre tão impaciente, Jen. Será que poderia escutar pelo menos uma vez? Eu tenho um nome... e uma pista.

- Já era hora.

Fehls ouvia com curiosidade. Ele já havia previsto que Levi não deixaria quem fez aquilo com seus homens sair ileso, ela não era diferente de Jen. Mas o fato de que ela estava cooperando com a Adaga era uma novidade. Ambos os lados possuíam um extenso histórico de pequenos auxílios e ambos os líderes poderiam quase se considerar amigos, mas uma operação conjunta estava em um nível completamente diferente. Fehls soube, naquele momento, que ambos os grupos estavam trilhando um caminho realmente sério.

Estilhaços em ChamasWhere stories live. Discover now