Capítulo 4 (S02)

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Jenisson e Fehls olharam para os cinco cobras de beco que os haviam emboscado na rua sem saída. O que eles queriam era óbvio:

- Passem tudo o que tem, talvez os deixemos viver - Disse o que parecia ser o líder do bando.

Cobras do beco eram conhecidos por não terem piedade de suas vítimas. Se não cooperassem, aquele ultimato sem dúvidas se realizaria. Mesmo assim os adagas não esboçaram nenhuma espécie de reação, sequer retesaram seus músculos ou se colocaram em uma posição mais defensiva.

- Você... tem ideia de quem nós somos, não é? - Jen começou a explicar, em uma tentativa de desmoralizar aqueles que pensavam ser seus algozes. - Conhece a Adag...

- Não me importo em saber quem vocês são! - O outro gritou abruptamente, sabendo que ninguém os ouviria. - O que importa é que você têm coisas que eu quero. E que logo.

- Vai ser do jeito difícil então... - Jen comentou baixo, com mais alívio do que preocupação na voz. Depois, virou-se para Fehls. - Faça-me o favor, deixe-os o mais vivos que conseguir. Vamos só fazê-los sentir um pouco de dor e já vamos embora.

- Se você diz - O outro adaga respondeu ao entender que Jenisson pedia para que ele não usasse a pistola escondida sob seu casaco.

- COMO OUSA, SEU DESGRAÇADO?! Eu estava pensando em deixar vocês vivos, mas mudei de ideia. Vou fazer vocês sofrerem tanto que vão implorar pra morrerem!

- Pensando? Não sabia que vocês conseguiam fazer isso, mas, se fizessem mais vezes, talvez saíssem daqui ilesos.

O cobra de beco não esperou sequer mais um segundo. Ninguém o insultava daquele jeito, ninguém. Ele estava acostumado a ouvir suas vítimas indefesas, gritando em pânico. Aquilo já era mais do que podia aguentar, e cabia a ele a tarefa de mostrar quem é que estava no comando.

Depois de começar a correr na direção dos dois adagas, o líder foi seguido instintivamente por seus colegas. Afinal de contas, eles só lutariam se fosse injustamente, e dois idiotas normalmente não seriam problemas para cinco cobras.

Jen e Fehls deram mais espaço um para o outro enquanto esperavam. Ambos focalizaram seus inimigos e realizaram uma divisão mental de quem derrubaria quem. Em um consenso rápido e silencioso, Jen soube que pegaria os três que vinham pela esquerda, o lado mais próximo a ele, o que o deixava com o chefe e dois capangas.

O líder dos cobras tomou o máximo de impulso que pôde e pulou sobre Jenisson com uma faca em riste, esperando acabar com o combate do modo mais rápido possível. O adaga deu dois passos rápidos para o lado em um piscas de olhos. A faca do atacante cortou inutilmente o ar enquanto o alvo desaparecia de seu caminho. Após aterrissar no nada, o cobra conseguiu recuperar sua postura e encontrar novamente o inimigo, depois, tentou desferir outro ataque com a lâmina.

Jen, percebendo um segundo combatente se aproximando pelo lado, esquivou-se da lâmina bem à tempo de segurar o punho que portava a arma. Ele jogou seu corpo para trás até que suas costas batessem na parede do beco, puxando junto a si o braço esticado de seu oponente. Não poderia ter sido mais perfeito. A pesada barra de ferro que o segundo homem usava desceu sobre o lugar onde antes se encontrava a cabeça de Jen somente para acertar a porção lateral da junta do líder dos cobras. O homem gritou ao sentir seus ossos partindo e trincando enquanto seu antebraço perdia sua conexão com o resto do corpo.

Jen não perdeu tempo, retirou a faca da mão do inimigo e soltou seu punho. Depois, abaixou-se passando uma rasteira. O cobra injuriado foi ao chão machucando ainda mais o membro sensibilizado. Para ele, a luta havia acabado naquele momento.

O corpo de Jenisson girou enquanto ainda estava ajoelhado. O movimento rotatório munido da lâmina recém roubada foi o bastante para realizar um corte monstruoso na coxa do segundo homem, o que segurava a barra de ferro. Como uma extensão natural do movimento, ao fim do giro, a faca voou da mão de Jenisson e acertou o peito do terceiro oponente. A lâmina foi enterrada entre as costelas do homem antes mesmo que ele pudesse ter entrado efetivamente no combate.

Como quem finaliza uma receita com seu último ingrediente, Jen levantou-se desviando da barra de ferro mais uma vez e, simultaneamente, aplicando um soco de baixo para cima na mandíbula do último cobra. A dor foi tão intensa e a pressão tão grande que seus sentidos ficaram torpes o bastante para que não percebesse a mão de Jen acertando a traseira de sua cabeça no ponto exato para fazê-lo desmaiar. Foi o terceiro e último a cair.

O líder da Adaga olhou para o lado somente para verificar que Fehls também havia acabado seu trabalho. Sob seus pés, cinco cobras de beco jaziam, mortos, desmaiados ou agonizando de tanta dor que malmente conseguiam gritar devido ao estado de choque.

Os dois companheiros se olharam. Sem palavras, mas com uma sensação de relaxamento, ambos simplesmente caminharam para a saída do beco, tentando fazer com que seus pés pisassem nas brechas formadas por entre os corpos. Eles apenas queriam sair dali logo e chegar ao Pináculo. Não havia mais tempo para ser gasto com leviandades.

Atrás deles, o garoto que os levou até a emboscada colocou cuidadosamente para o lado as folhas de papelão sob as quais estava escondido. Ele acabara de ver todos aqueles homens morrerem em questão de segundos. E o mais incrível: aqueles que fizeram isso estavam indo embora casualmente, como se nada houvesse ocorrido.

O garoto de malmente nove anos levantou-se tentando fazer a menor quantidade de barulho possível e pôs-se a andar. Alguns de seus ex-companheiros ainda estavam vivos, agonizando de dor. Um deles tentou estender seu braço quebrado em um pedido de ajuda ao vê-lo passar, mas o murmúrio de socorro foi completamente ignorado.

Ele não tinha motivos para sentir piedade do bando das vítimas dos adagas, eles não eram seus amigos, eram apenas pessoas as quais se dispôs a ajudar em troca de comida. Já fazia alguns meses que ele estava sozinho nas ruas e, apesar de saber se virar, ele também sabia que fazer parte de um grupo o dava mais chances de sobreviver na cidade.

Mas, para ele, isso não significava formar laços de amizade e companheirismo. Por esse motivo pôde passar tão friamente sobre os corpos de seus ex-colegas de trabalho sem lhes dar atenção ou sentir qualquer sorte de emoções. O garoto só parou sua caminhada quando alcançou o cadáver mais afastado daquela cena horrível. Com um movimento frívolo, puxou a faca que Jen fincara em seu peito e continuou a andar em direção dos dois homens que acabaram de sair. Não era uma questão de pessoal, muito menos uma vingança, ele apenas precisava algo para comer, não importava como conseguisse.

Um momento depois, Fehls teve a parte traseira de seu joelho chutada. Com o choque na parte frágil da articulação, ele não pôde fazer nada senão tombar para frente apoiando-se sobre as mãos para não dar de cara com o chão. Jen olhou para trás no mesmo momento em que o garoto puxou seu amigo pelos cabelos fazendo-o ficar de joelhos e colocou a faca ensanguentada em seu pescoço.

Estilhaços em ChamasWhere stories live. Discover now