2. Partida

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— Graças a Deus você está indo embora — brincou Matheus, enquanto fazíamos o check-in.

Todo mundo havia decidido vir ao aeroporto. Minha vó, minhas duas tias e uma dúzia de amigos. Meu irmão e eu estávamos fazendo o despache das malas enquanto a minha mãe conversava com todos. O clima era de tristeza, apesar da minha ansiedade. Eu estava triste por deixar os meus amigos, mas feliz pelos novos amigos que faria — ou não.

— Obrigada e faça uma boa viagem! — disse a mulher do balcão, exibindo um sorriso.

Theus passou o seu braço pelo meu ombro e colocou os seus óculos escuros, se achando um galã.

— Vai sentir saudade de São Paulo? — perguntou, enquanto caminhávamos até a nossa família. — Ah, claro que não. Você está indo para Los Angeles.

Parei no meio do caminho e ele fez o mesmo.

— Você está perguntando se eu vou sentir a sua falta, não se eu vou sentir falta da cidade. É claro que eu vou sentir, né Matheus.

Ele levantou os seus óculos por tempo o suficiente para me encarar. Então, seus braços me envolveram. Ele estava emocional de mais, para o meu gosto. Retribui o abraço e fomos até nosso amigos e família.

Comecei a despedir-me, pois o processo para embarcar era longo e demorado. Por último, cumprimentei Giovanna, Gabriela e Giulia, o meu trio GGG. Eu sentiria a falta delas em demasia. O Skype seria o nosso herói no momento.

— Vá e conheça 'uns boys' maravilhosos — disse Gabi, secando as lágrimas. Abracei-a e fui até a Gi.

— Isabellinha... — começou, com a sua mania de chamar as pessoas pelo seu diminutivo. Sorri. Eu sentiria falta disso — Eu tenho certeza que você vai se dar muito bem lá 'nos USA'. Nós vamos sentir saudades.

Envolvi-a forte em meus braços. A Giovanna nunca chorava, nunca dizia "eu te amo". Ela era a amiga forte.

— Você sabe que eu queria poder dizer aquilo, né?

— Eu sei — respondi, tocando o seu rosto. — Eu também te amo.

Por último, meus olhos encontraram os olhos de Giulia. Nós estávamos juntas desde os dez anos. Ali estávamos, oito anos depois, nos despedindo.

— Eu fiquei muito triste quando você me devolveu a cópia da sua chave — admitiu.

Quando tínhamos quinze anos, a mãe da Giu — dona Andrea — havia me confiado uma cópia da chave de sua casa. Elas moravam sozinhas e eu ia lá com frequência. Quando soube da minha partida, fui visita-las e lhe entreguei a minha cópia, o que nos rendeu boas lágrimas.

— Eu também fiquei.

Abraçamo-nos e ficamos assim por um bom tempo. Quando a soltei, olhei para trás. Toda a minha família e os meus amigos possuíam lágrimas nos olhos. Era uma tarde de setembro quando eu entrei naquela sala de embarque e não voltei atrás.

×××

Playlist de voo:
1. James Young – I'll Be Good
2. Lana Del Rey – Young & Beautiful
3. Justin Bieber – Been You
4. Blackbear – Idfc
5. X Ambassadors – Unsteady

Eu nunca havia notado em como doze horas passavam devagar. Fui acordada com a voz do copiloto, anunciando que estávamos prontos para pousar. Ajeitei-me na poltrona e olhei pela janela. Tudo o que conseguia ver eram nuvens. Ainda.

Enquanto o avião foi descendo, fui apreciando a vista de Los Angeles. Os prédios, as colinas, os quarteirões perfeitamente marcados. A vista não poderia ser menos encantadora. De repente, senti borboletas levantarem voo em meu estomago, enquanto as rodas encostavam no chão. E se aquela mudança não atendesse ás minhas expectativas?

Eu tenho certeza que você vai se dar muito bem lá 'nos USA', disse Giovanna. Por incrível que parecesse, eu confiava cegamente nos conselhos dela. Quando a Gi dizia algo, esse algo acontecia.

— Você quer ajuda para pegar a sua mochila? — perguntou o homem sentado ao meu lado.

— Quero sim, moço.

Ele se levantou e abriu o compartimento, entregando-me os meus pertences. Agradeci com um sorriso tímido e levantei-me, seguindo os demais passageiros pelo corredor estreito da aeronave.

A parte mais difícil era passar pela polícia americana. As pessoas corriam para sair de avião, pois sabiam que a fila era longa. Por isso, apressei o passo e tive sorte em pegar poucas pessoas na minha frente. Fui guiada para uma das últimas cabines e sorri para o policial moreno. Em seu crachá, lia-se COOPER.

— Boa tarde — disse, em inglês. O meu celular ainda estava no horário brasileiro. Se lá eram cinco horas da tarde, aqui ainda era a hora do almoço. Eu estava em jet lag total.

— Documentos, por favor.

Entreguei-lhe toda a papelada necessária. O policial Cooper pediu para que eu colocasse cada um de meus dedos em uma máquina de digitais.

— O que pretende fazer na Califórnia, Srta. Spadoto?

— Vim visitar minha amiga Alissa — respondi, engolindo em seco. — Também tenho planos de começar a faculdade no próximo verão. Por enquanto, isso é apenas um gap year.

Ele fitou-me, sem dizer nada. O verão aconteceria em um ano, visando que estávamos no começo do outono. Eu estava considerando o quão possível seria aquele homem mandar-me de volta para o Brasil. Então, ele sorriu e entregou-me os meus documentos de volta.

— Aproveite a estadia e visite a Universal Studios. Eu adoro levar os meus filhos lá. É um ótimo passeio.

Retribuí o sorriso e pude notar a minha respiração voltando ao normal. Quando estava indo até a esteira recolher as minhas bagagens, conectei-me no Wireless do aeroporto e mandei uma mensagem para Alissa, avisando que logo mais sairia. Ela respondeu, dizendo que estava à minha espera com os seus pais.

Quando finalmente peguei tudo e fui ao encontro da minha amiga, ela segurava um cartaz enorme escrito "Welcome to LA, Bella!". Corri em sua direção e a abracei forte. Depois de tantos anos de amizade pelo Wattpad, era bom finalmente conhece-la.

— Você é real! — ela comentou, com um inglês perfeito — E você cheira bem para caramba!

Não pude deixar de gargalhar diante de seu comentário. Cumprimentei seus pais. Eles se vestiam de maneira chique, o que me intimidou. Sua mãe usava um colar de pérolas, mas era uma pessoa extremamente gentil e humilde. Alissa havia me contado uma vez que eles eram banqueiros, o que explicava as vestimentas.

— Você está com fome, querida? — perguntou o pai.

— Um pouco — admiti — Já está escurecendo no Brasil a essa hora.

Eles disseram que era normal não me acostumar com o horário e me levaram para comer em um Wendy's ali perto. Ali era a deslocada da família. Apesar das diferenças entre eles, eles pareciam se dar muito bem.

Depois de bem alimentados, colocamos a minha mala no Volvo dos pais dela. Não quis dizer nada, mas aquele carro deveria comprar o meu apartamento em São Paulo.

— Alissa, que horas você quer que nos lhe busquemos? — perguntou sua mãe.

— Hm, que tal às quatro da tarde?

Ela assentiu e voltou a se concentrar na estrada. Cheguei para mais perto da loira e sussurrei em seu ouvido.

— Para onde estamos indo?

Um sorriso nasceu em seu rosto. Ela é muito bonita, que ódio, pensei.

— Eu vou te levar para conhecer Los Angeles, sua fofa. Você nunca mais vai querer voltar para o lugar de onde veio.

By Chance; C.D.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora