1. Nove dias

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- Alô? Mãe?

Pressionei o meu celular contra o ouvido, tentando entender algo. No mesmo minuto, os meus amigos começaram a gritar coisas idiotas, como "Volta para a cama!" e "Larga esse baseado!". Revirei os olhos e afastei-me, ouvindo suas risadas de longe.

- Alô? Filha!

- Oi, mãe, estou aqui - disse - Já pode vir me buscar na casa da Giovanna, ok?

Ela concordou e disse que chegaria em quinze minutos. Desliguei a chamada e retornei à sala, onde estavam todos reunidos. Gabriela, uma das minhas melhores amigas, sorriu ao me ver.

- Nem acredito que essa pode ser a sua festa de despedida. Eu não queria que você fosse embora... - anunciou.

A dona da casa deu uma tapa forte em seu braço.

- Gabizinha, você tem que entender que a Isa está indo realizar um sonho. Você não pode falar uma coisa delas.

A morena fez um biquinho. Nicolas, o seu namorado, foi até ela e a abraçou, depositando um beijo no topo de sua cabeça. Minhas outras amigas - Mariana, Vitória e Carolina - vieram se despedir. Não era certeza de que eu realmente iria para a Califórnia, mas eu estava amando todo aquele mimo.

Giulia veio falar comigo por último, junto com os meninos. Ela era aquela que eu considerava como minha irmã. Quando deixou uma lágrima escapar, não consegui mais me segurar.

- Não chora, você é mais macho que eu! - brinquei.

- Desculpa, mas eu vou sentir a sua falta, sua idiota.

- Você sabe que não é nada certo, né? Eu ainda preciso ver se a minha mãe já comprou as passagens.

Um sorriso triste surgiu em seu rosto.

- Eu tenho certeza que ela já comprou. E eu espero que Los Angeles te faça muito feliz.

Eu estava prestes a responde-la quando ouvimos uma buzina. Olhei para todos os meus amigos ali reunidos e demos um abraço coletivo. O iPod da Giovanna estava tocando uma música triste no momento, o que não ajudou muito.

- Eu amo vocês - sussurrei.

- Para de ser gay - comentou Giulia, bancando a forte.

Revirei os olhos e deixei a casa, olhando para trás uma última vez. Quando entrei no carro com a maquiagem toda borrada, minha mãe arregalou os olhos.

- O que é isso? O que aconteceu? - perguntou, dando a partida e deixando a casa da Giovanna para trás.

- Ah, eles meio que tornaram disso uma festinha de despedida para mim. Eu disse que não sabia se você já tinha comprado as passagens, mas...

Ela engoliu em seco e pigarreou. Observei-a. Ela tinha algo para me contar.

- Vamos conversar quando chegarmos em casa - foi tudo o que disse.

Ah, droga. Eu odiava aquela frase. "Vamos conversar em casa" ou "Conversamos na volta". Quando eu era menor, aquilo sempre significava que eu estava em apuros ou de castigo por algo que havia feito. Era isso? A minha mãe me impediria de ir para Los Angeles mais uma vez?

Não. Ela não poderia fazer isso. Eu já tinha dezoito anos, prestes a completar dezenove. Eu era livre, não fazia faculdade e não tinha nada prendendo-me no país. Aliás, o meu visto americano era válido até os meus vinte e três anos. Ela não poderia me proibir dessa vez.

O tempo passou rápido. Quando percebi, já estávamos no elevador. Ao entrarmos em nosso apartamento, meu irmão e meu padrasto estavam sentados no sofá, esperando por nós. Atividades em família?, pensei. Isso não é algo nosso.

- E aí, maninha - disse Matheus. Ele bateu no espaço vazio ao seu lado, indicando para que eu me sentasse.

Desconfiada, sentei-me. Meu irmão? Sendo legal comigo? Tinha alguma coisa errada.

- Falem logo! - exclamei, exasperada.

Minha mãe fitou o marido e voltou a me olhar.

- Nós compramos a sua passagem. Você pode ir para a Califórnia.

Fiquei em pé e dei um grito, saltitando. Joguei uma almofada na cara de Matheus, comemorando.

- Calma que eu não terminei de falar! - ela comentou, rindo. Sentei-me novamente, com um sorriso em meu rosto. - Você tem sorte de já ter planejado essa mudança desde os quinze anos, porque nós achamos passagens baratas para a semana que vem.

- Eu finalmente vou poder ter o seu quarto para mim - comemorou o meu irmão mais velho.

Revirei os olhos. Interesseiro. Meu padrasto lhe lançou um olhar mortal e ele se calou. Te amo, Ed, disse mentalmente.

- Meu Deus, então eu preciso começar a fazer as malas! - desesperei-me - Eu preciso proteger os meus livros também. E preciso ligar para a Alissa e....

- Nós já falamos com os pais da Alissa - ela me assegurou - Eles já sabem que você chegará lá na sexta.

Fiz as contas. Estávamos na quarta-feira. Eu viajaria na sexta da semana seguinte. Faltavam nove dias. EU SÓ TINHA NOVE DIAS PARA ORGANIZAR TUDO!

Levantei-me e fui até o meu quarto, com a desculpa de que precisava arrumar as minhas coisas. Mas, ao invés de arrumar as minhas roupas, joguei-me no chão do meu quarto e peguei o meu celular. Haviam muitas mensagens da Alissa, minha amiga americana que havia conhecido pelo Wattpad, nos cometários de uma fanfic.

Ela não sabia nada de português, por isso, trocávamos mensagens em inglês. A garota tinha uma casa em Los Angeles, onde morava com os pais, e eu moraria com eles durante a minha estadia.

Ali menina sagaz 👯💅

ISABELLA, WHERE ARE U*

05:53p.m.

(*Isabella, onde você está?)

Ali menina sagaz 👯💅

BELLA YOUR MOM CALLED ME**

05:54p.m.

(**Bella, sua mãe me ligou)

Ali menina sagaz 👯💅

NEXT FRIDAY@#$%$&KASDHASKJHDASKJ***

05:54p.m.

(***Sexta que vem)

Respondi a sua mensagem, dizendo que estava ansiosa. Coloquei a minha playlist alegre no Spotify, sendo contagiada por Kiss It Better. Comecei a dobrar as minhas roupas e coloca-las na minha mala. Depois de um tempo, Matheus apareceu para ajudar-me. Eu sempre havia sido mais próxima de meu irmão do que dos meus pais. Ele me entendia muito mais. E, mesmo tendo Ed em nossa vida, Theus agia como se tivesse o dever de ser um pai para mim, mesmo sendo apenas três anos mais velho.

Quando terminamos, ele me abraçou e disse que estava ansioso para ver o tipo de pessoa que eu iria me tornar.

Eu também estou, irmãozinho.

By Chance; C.D.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora