Segredos

hoomanao

Hoomanao; Lembranças.

Já havia se passado metade do dia, já havia se passado duas horas desde que Andrew e eu voltamos do passeio pelo Waimea Canyon State Park, duas horas desde que tivemos uma imagem privilegiada do Canhão de Waimea. Todo aquele azul, o rio. Foi tudo lindo, mas eu já estava começando a ficar impaciente. Havia duas horas desde que Andrew pediu para que eu colocasse uma roupa leve e que não saísse do quarto. Eu estava sentada com todo o cuidado para não amassar o vestido de seda rosa que eu demorei vinte minutos para passar, passei a mão pelos meus cabelos soltos pela milésima vez. Minha sandália batia no piso e eu mal podia me controlar.

Fui para a sacada, observei toda aquela imensidão azul a minha frente. As estrelas estavam deslumbrantes esta noite. E o que falar da lua cheia bem acima do meu olhar? Era linda.

As ondas vinham e iam de uma forma, que apenas observá-las me fez sentir mais relaxada e tranquila. Sentei-me na cadeira de madeira escura perto da mesa de chá e continuei observando o mar. Eu já estava com saudades das meninas, e ao olhar as famílias brincando lá embaixo, meu peito se encheu de saudades da minha. Eu sentia tanta falta da minha mãe, da doçura na voz dela. Sentia tanta falta do meu pai e do seu jeito tranquilo. Sentia falta da Zoe. Minha vida está tão agitada que às vezes eu me esqueço o real motivo de eu ter ido para L.A. Me formar. Realizar o que havia combinado com ela. E olhe só, o belo trabalho que estou fazendo. Eu a decepcionei, com certeza. Cruzei meus braços e continuei observando a orla. Logo minha mente foi preenchida por lembranças dela.

Flashback.

- Por que está assim comigo? Eu não fiz nada. - Zoe me perguntou, se sentando ao meu lado no lago que sempre íamos desde de pequenas.

- Você está esquecendo de mim. Tudo agora é a Rebecca, Zoe. - Eu falei e abracei meus joelhos.

- A Rebecca? - Ela me perguntou se inclinando para ver meu rosto, seus cabelos ruivos tocaram em meu braço e seus olhos verdes preencheram minha visão. - Ela é uma colega, Ally. Eu só faço aula de álgebra com ela, é a minha dupla e eu tenho que conviver com isso até o final do ano, e você também. - Ela disse e depois deu um sorriso. - Ei, ninguém vai conseguir me afastar de você. Não existe nada como a nossa amizade, Não existe ninguém como nós. - Ela disse e me abraçou.

Então escutei batidas na porta, me tirando completamente dos meus pensamentos. Me levantei e a abri.

- Andrew. Você demorou tanto. - Eu disse e lhe dei um abraço.

- Está tudo bem? - Ele perguntou ao ver meu rosto.

- Sim. - Falei. - Por que me fez esperar duas horas? - Perguntei cruzando os braços.

- Quero que venha comigo para a nossa última noite no Havaí. - Ele disse e me deu um beijo na testa. Logo me puxando pela mão até chegar na orla. Quando meus pés tocaram a areia, ele nos guiou por uma trilha com pedrinhas brancas em volta, e lírios. Meus preferidos. Ao fim da trilha, o outro lado da ilha se fez presente. Ao lado esquerdo havia um lençol branco estendido na areia, com uma cesta em cima. Olhei para Andrew e para a cesta, ele assentiu pedindo para que eu fosse ver. Meu vestido se enrolava aos meus pés, por isso o segurei enquanto andava. Meus cabelos estavam sendo levados pelo vento.

- Então a nossa última noite no Havaí, vai ser sobre um piquenique na beira da orla? - Lhe perguntei enquanto sentava.

- Muito simples? - Ele perguntou se sentando também.

- É perfeito. - Sorri e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha. - Obrigada.

- Lógico que não é um piquenique que marcará nossa férias aqui, mas sim tudo o que a gente viveu. Eu só queria fechar de uma forma suave e delicada. Na verdade eu queria lhe dizer, que essa ideia eu tive quando parei para pensar em você. Eu não sei se você percebeu, mas você mudou muito desde que eu te conheci, você foi de uma menina rebelde e instável para uma garota dedicada e bondosa. Às vezes eu até me esqueço que você tem apenas dezoito. Mas agora, nesse exato momento eu vejo uma mulher e uma adolescente ao mesmo tempo, eu vejo você Alison. Eu te vejo de verdade. Não quem você tentava ser. Eu vejo Alison Mitchell. - Ele disse, pegando um único lírio branco de dentro da cesta e se inclinou para frente, depois a colocou acima da minha orelha entre os meus cabelos. Sorri e lhe abracei.

- Obrigada por não ter desistido.

- Eu jamais desistiria de você. Eu tenho certeza disso desde de o dia que te vi pela primeira vez, Alison.

Eu sorri, com os lábios, com os olhos, com o coração.

- Eu te amo. - Sussurrei e fechei os olhos em seu abraço e continuei ouvindo as ondas do mar e sentindo o vento em meu rosto para logo mais sentir Andrew beijando meus cabelos.

- Eu também te amo, até o sol morrer. - Ele sussurrou de volta.