25. Palavras ao Vento

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Charles caminhava de um lado para o outro, um tanto eufórico, enquanto juntava as peças de roupa que havia trazido para passar o mês. Seus passos eram rápidos e agitados, refletindo a agitação que sentia por dentro. Seus dedos se moviam com pressa enquanto ele dobrava cuidadosamente as roupas, quase como se estivesse tentando conter a torrente de pensamentos que inundava sua mente.

Seu irmão George observava com uma mistura de ansiedade e curiosidade, incapaz de desvendar os pensamentos de Charles. Seus olhos acompanhavam os movimentos frenéticos do irmão, tentando encontrar alguma pista sobre o que estava acontecendo. George notou a expressão inquieta no rosto de Charles, os traços de tensão que pareciam espreitar por trás de seu comportamento aparentemente agitado.

Enquanto Charles finalmente fechava sua mala, George decidiu que era hora de quebrar o silêncio.

— Não pode ir embora, Charles. — resmungou George, franzindo o cenho, enquanto terminava de colocar suas roupas dentro da mala. Havia muito tempo que não via Charles tão raivoso. George permaneceu parado junto à porta, sem entender. — Algo aconteceu, não foi?

Charles arfou.

— Sim. E pelo visto quer saber, não é? — A pergunta soou sarcástica. — Acho melhor sentar-se ou ficar entediado ao ouvir minhas palavras.

George aguardou em pé, enquanto Charles cobria o rosto com as mãos.

— Por que não confiei em minha intuição? Novamente coloquei os burros na frente do carro e saí mal.

George fez uma leve careta; sabia que Charles ficava descontrolado quando estava furioso. Mesmo não ouvindo da boca dele, já tinha uma leve intuição sobre o que estava alterando seu humor.

— É a Eve, não é?

— E de quem estaríamos falando, meu caro irmão? — Disse Charles com uma pontada de cinismo. — Não posso ficar mais um dia nesse lugar, não depois do que aconteceu. Por isso, irei embora.

— Mas que diabos ela fez, então? Diga-me algo plausível, pare de ficar bancando o bobo da corte. — Retrucou George.

Charles sentou-se na beirada da cama e deixou a camisa que estava segurando cair no chão.

— Pela primeira vez em quase dez anos, achei que estava amando alguém, e de novo quebrei a cara. Na noite passada, fui ao quarto dela para falar sobre meus sentimentos e a peguei agarrada com o Michael, aos beijos. Ela negou a princípio, mas quando aquele imbecil do seu amigo a acusou de terem dormido juntos na noite da festa de despedida de solteiro, ela nem sequer se defendeu, saiu correndo, deixando evidente que algo tinha acontecido entre eles.

George soltou um longo suspiro, sentindo o peso da preocupação se acumular em seus ombros. Observar Charles enquanto ele caminhava de um lado para o outro, reunindo suas roupas para passar o mês, era como testemunhar um turbilhão de emoções contido em gestos aparentemente simples. Seus movimentos eram nervosos, rápidos, quase frenéticos, revelando a agitação interna que o consumia.

— Por isso irei embora. Está tarde; não se preocupe, já comprei a passagem aérea. — Disse Charles, voltando a colocar as roupas dentro de sua mala.

— Pelo amor de Deus, não faça isso, eu te peço. Sei que está chateado pelo que ela fez, mas não posso deixar que meu irmão falte no dia mais importante da minha vida. — Suplicou George.

Charles parou de arrumar as malas e o encarou; sabia que George tinha razão, pois um tinha o outro, e era isso o que importava. E deixar seu único irmão na mão não teria perdão. Ele assentiu, e George o abraçou.

Amor  Por AcasoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora