31. A Velha Rotina

139 6 0
                                    


O som irritante do despertador parecia reverberar na mente de Evelyn. A jovem morena resmungou enquanto se revirava na cama, emaranhada nos lençóis e no edredom. Finalmente, o som do despertador cessou, permitindo que o delicioso silêncio preenchesse o ambiente mais uma vez. No entanto, para sua frustração, não se passaram nem dois segundos e o som estridente retornou a tocar.

"Oh, meu Deus!", murmurou, abrindo finalmente os olhos. Esticou a mão esquerda para alcançar o maldito relógio, apertou o botão na parte de cima e, mais uma vez, o silêncio reinou. A jovem olhou fixamente para o teto e deixou escapar um longo suspiro pelos lábios entreabertos.

Evelyn já tinha tudo planejado em sua mente, o roteiro de atividades para aquela terça-feira, mas o primeiro passo era conseguir sair da cama tão confortável e convidativa, que parecia implorar para que ela ficasse ali o dia todo. Ela fez uma contagem mental e, antes de chegar ao número "1", reuniu coragem e sentou-se na beirada da cama. Esticou a mão direita e pegou o celular. Verificou as horas e esfregou os olhos enquanto mordia os lábios.

"Vamos, Evelyn, é hora de voltar à velha e monótona rotina", pensou consigo mesma, coçando a nuca por um momento, reflexiva, antes de se levantar.

Caminhou até a enorme porta de vidro que dava acesso a uma varanda particular. Ao abrir as cortinas de seda, pôde notar que o céu estava encoberto e o piso de madeira da varanda estava úmido devido à chuva da noite anterior. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo, encostou o rosto na porta de vidro ainda fechada e suspirou, deixando uma pequena marca de respiração quente no vidro embaçado. Moveu a cabeça lentamente e se afastou da porta de vidro, fechando as pesadas cortinas e girando nos calcanhares.

Seguiu até o banheiro, precisava tomar um banho quente antes de qualquer coisa. Caminhou até o chuveiro e abriu a torneira da água quente. Mesmo desejando relaxar em sua imensa banheira de hidromassagem, não tinha tempo para isso; precisava se apressar, pois Gaillard sempre chegava no escritório às nove em ponto.

A morena encostou as mãos na parede fria do banheiro enquanto a água morna percorria todo o seu corpo. Por um momento, Evelyn fechou os olhos e se perdeu em antigas lembranças de sua infância, as manhãs no campo, as risadas ao redor da lareira e, por fim, a voz do seu falecido pai. Abriu os olhos antes que tivesse um colapso emocional novamente, pegou a bucha e o sabonete líquido, derramou um pouco sobre a superfície macia e esfregou primeiro os braços, em seguida as pernas e por fim o corpo todo enquanto cantarolava uma das canções que aprendera ainda criança.

Ao terminar, voltou para debaixo daquela água morna, se enxaguou, fechou a torneira e abriu o box esticando o braço direito para alcançar a toalha, se enxugou e ao terminar se enrolou nela.

Caminhou até o armário, abriu as portas e pegou o secador de cabelo. Como já estava acostumada àquela rotina, não demorou muito para secá-los, escovou os dentes e antes de sair do banheiro encarou-se por um segundo através de seu reflexo no espelho oval. Moveu a cabeça e seguiu até o quarto, escolheu um look casual para dias chuvosos, calça jeans escura e uma blusa clara, de preferência branca para que combinasse com seu terninho social preto. Penteou os cabelos, os amarrando em um perfeito rabo de cavalo, e passou uma leve maquiagem.

Antes de sair do quarto, pegou sua bolsa e ao chegar à porta recordou-se de seu celular, girou sobre os calcanhares e seguiu até o criado-mudo onde o havia deixado. Por fim, seguiu seu trajeto até a cozinha, pegou a chave do carro e antes de sair, deslizou o olhar pelo amplo apartamento, percebendo que ele estava surpreendentemente arrumado. "Talvez seja hora de contratar uma empregada", pensou consigo mesma enquanto fechava a porta, trancando-a com a chave.

Amor  Por AcasoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora