♦
O som irritante do despertador parecia reverberar na mente de Evelyn. A jovem morena resmungou enquanto se revirava na cama, emaranhada nos lençóis e no edredom. Finalmente, o som do despertador cessou, permitindo que o delicioso silêncio preenchesse o ambiente mais uma vez. No entanto, para sua frustração, não se passaram nem dois segundos e o som estridente retornou a tocar.
"Oh, meu Deus!", murmurou, abrindo finalmente os olhos. Esticou a mão esquerda para alcançar o maldito relógio, apertou o botão na parte de cima e, mais uma vez, o silêncio reinou. A jovem olhou fixamente para o teto e deixou escapar um longo suspiro pelos lábios entreabertos.
Evelyn já tinha tudo planejado em sua mente, o roteiro de atividades para aquela terça-feira, mas o primeiro passo era conseguir sair da cama tão confortável e convidativa, que parecia implorar para que ela ficasse ali o dia todo. Ela fez uma contagem mental e, antes de chegar ao número "1", reuniu coragem e sentou-se na beirada da cama. Esticou a mão direita e pegou o celular. Verificou as horas e esfregou os olhos enquanto mordia os lábios.
"Vamos, Evelyn, é hora de voltar à velha e monótona rotina", pensou consigo mesma, coçando a nuca por um momento, reflexiva, antes de se levantar.
Caminhou até a enorme porta de vidro que dava acesso a uma varanda particular. Ao abrir as cortinas de seda, pôde notar que o céu estava encoberto e o piso de madeira da varanda estava úmido devido à chuva da noite anterior. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo, encostou o rosto na porta de vidro ainda fechada e suspirou, deixando uma pequena marca de respiração quente no vidro embaçado. Moveu a cabeça lentamente e se afastou da porta de vidro, fechando as pesadas cortinas e girando nos calcanhares.
Seguiu até o banheiro, precisava tomar um banho quente antes de qualquer coisa. Caminhou até o chuveiro e abriu a torneira da água quente. Mesmo desejando relaxar em sua imensa banheira de hidromassagem, não tinha tempo para isso; precisava se apressar, pois Gaillard sempre chegava no escritório às nove em ponto.
A morena encostou as mãos na parede fria do banheiro enquanto a água morna percorria todo o seu corpo. Por um momento, Evelyn fechou os olhos e se perdeu em antigas lembranças de sua infância, as manhãs no campo, as risadas ao redor da lareira e, por fim, a voz do seu falecido pai. Abriu os olhos antes que tivesse um colapso emocional novamente, pegou a bucha e o sabonete líquido, derramou um pouco sobre a superfície macia e esfregou primeiro os braços, em seguida as pernas e por fim o corpo todo enquanto cantarolava uma das canções que aprendera ainda criança.
Ao terminar, voltou para debaixo daquela água morna, se enxaguou, fechou a torneira e abriu o box esticando o braço direito para alcançar a toalha, se enxugou e ao terminar se enrolou nela.
Caminhou até o armário, abriu as portas e pegou o secador de cabelo. Como já estava acostumada àquela rotina, não demorou muito para secá-los, escovou os dentes e antes de sair do banheiro encarou-se por um segundo através de seu reflexo no espelho oval. Moveu a cabeça e seguiu até o quarto, escolheu um look casual para dias chuvosos, calça jeans escura e uma blusa clara, de preferência branca para que combinasse com seu terninho social preto. Penteou os cabelos, os amarrando em um perfeito rabo de cavalo, e passou uma leve maquiagem.
Antes de sair do quarto, pegou sua bolsa e ao chegar à porta recordou-se de seu celular, girou sobre os calcanhares e seguiu até o criado-mudo onde o havia deixado. Por fim, seguiu seu trajeto até a cozinha, pegou a chave do carro e antes de sair, deslizou o olhar pelo amplo apartamento, percebendo que ele estava surpreendentemente arrumado. "Talvez seja hora de contratar uma empregada", pensou consigo mesma enquanto fechava a porta, trancando-a com a chave.
ESTÁ A LER
Amor Por Acaso
RomanceA mudança de Boston para Nova York havia sido sua tentativa de escapar do passado, de deixar para trás as lembranças dolorosas que insistiam em assombrar seus dias. No entanto, a vida tinha uma maneira irônica de tecer caminhos inesperados. O convit...