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Após descer do carro em completo silêncio, Charles seguiu atrás de Evelyn, que cambaleava em direção à pequena escadaria. Segurava os saltos na mão esquerda, mas acabou errando o degrau e perdendo o equilíbrio. Por sorte, Charles estava atento e se apressou para evitar que ela caísse.
As mãos grandes dele envolveram sua cintura, pressionando seu delicado corpo contra o dele, o que causou em Evelyn um misto de alívio e constrangimento. O calor do contato os envolveu por um instante, enquanto Charles a firmava com segurança.
— Quem foi que trocou os degraus de lugar? — ela perguntou com a voz baixa, ainda nos braços de Charles. — Já pode me soltar, estou bem.
Um rubor tomou conta do rosto de Charles, mas a pouca iluminação escondeu sua vergonha. Mesmo após ela pedir para ser solta, ele permaneceu logo atrás dela, garantindo que nada de ruim acontecesse.
Evelyn abriu a porta de entrada e atravessou o hall com passos rápidos. Como um verdadeiro cavalheiro, Charles a acompanhou até a porta do quarto onde ela estava hospedada.
O perfume envolvente de Charles parecia preencher o espaço, fazendo com que Evelyn balançasse a cabeça para afastar os pensamentos, consciente de que tinha bebido demais naquela noite. Ao abrir a porta do quarto, virou-se para trás e lançou um olhar analítico a Charles, que permanecia encostado na parede.
Um sorriso curvou os lábios de Evelyn, seus olhos brilhando com uma centelha de diversão enquanto começava a traçar planos mirabolantes em sua mente. Mordendo os lábios, ela decidiu descontrair o clima tenso:
— Eu até te convidaria para entrar, mas sei que é um homem correto e não aceitaria — disse, cortando qualquer possibilidade de resposta. — Mas se mudar de ideia, é só me avisar.
Charles concordou com a cabeça, afastou-se da parede e dirigiu-se até a porta do seu quarto com determinação. Evelyn, mesmo frustrada, sabia que era importante respeitar o momento da sua irmã, principalmente estando embriagada.
Dirigindo-se para a imensa cama, Evelyn notou seus nervos agitados, um péssimo sinal. Optou por tirar o vestido e vestir sua velha blusa dos Celtics. Soltou os cabelos, pegou um maço de cigarros e dirigiu-se à porta de vidro da pequena sacada.
Sentou-se preguiçosamente na cadeira da varanda. Ainda eram dez para as três da madrugada de quinta-feira. Os leves ventos sopravam entre as copas das árvores no campo. Ela pegou o maço e acendeu um cigarro. Inclinou a cabeça para trás enquanto fechava os olhos e deu uma longa tragada. Sentiu o prazer que a nicotina exercia sobre seu corpo.
Permaneceu ali sentada, com os olhos fixos no céu incrivelmente estrelado. Seu coração batia em um compasso lento, e a imensa lua já estava na metade do céu. Pequenas brisas refrescantes erguiam-se dos campos molhados pelo orvalho.
Sua mente a condenava enquanto seus olhos castanhos enchiam de água. Não podia permitir-se ficar emotiva por algo que não fazia mais parte de sua vida. Mas o álcool tinha o poder de trazer os fantasmas à tona.
A madrugada estava silenciosa e calma, ao contrário de Manhattan, que era sempre agitada e corrida. Evelyn sentia falta de tudo aquilo, mas um sorriso nervoso brotou em seus lábios, afastando a vontade esmagadora de chorar.
Rendeu-se mentalmente e controlou a crise de choro que ultimamente a atormentava. Odiava-se por estar naquele estado. Fechou os olhos por um instante, mas o sono se recusava a chegar.
Por outro lado, precisava daquele momento para acalmar a mente, ou acabaria surtando. Afinal, em um mês, voltaria à sua corrida de vida na cidade.
Levantou-se da cadeira e espreguiçou-se. Talvez um banho morno fizesse muito bem. Caminhou até a porta de vidro e a fechou atrás de si. Foi até o banheiro e ligou a torneira de água quente, esperando a banheira encher.
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Amor Por Acaso
RomanceA mudança de Boston para Nova York havia sido sua tentativa de escapar do passado, de deixar para trás as lembranças dolorosas que insistiam em assombrar seus dias. No entanto, a vida tinha uma maneira irônica de tecer caminhos inesperados. O convit...