22. Apenas Sinta

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Naquela tarde cinzenta e chuvosa, as gotas de chuva deslizavam preguiçosamente pelas janelas, formando padrões irregulares nos vidros embaçados. O som suave da chuva batendo contra o vidro criava uma trilha sonora tranquila e contemplativa no quarto, envolvendo-o em uma atmosfera serena e introspectiva.

Anna, com sua energia inquieta, perambulava de um lado para o outro. Cada passo ecoava suavemente pelo assoalho de madeira. Enquanto isso, Evelyn, conhecida por sua impecabilidade e elegância, dedicava-se aos preparativos para sair com Charles.

Já se passava uma semana desde a inesquecível festa na casa de praia, mas as lembranças ainda estavam vivas na mente de Anna. Um suspiro profundo revelou o desagrado que ela sentia em relação à sugestão de George, seu noivo. Anna não conseguia se entusiasmar com a ideia, e isso a incomodava profundamente. Enquanto Evelyn terminava seu penteado com habilidade e graciosidade, observava discretamente Anna através do reflexo do imenso espelho.

— Veja só, está chovendo lá fora, e eu acredito que seria uma decisão muito desfavorável sair neste momento. Além disso, sinceramente, não acho que você vai se agradar da companhia de Charles. Ele tem um jeito peculiar, digamos assim — soltou Anna, quebrando o silêncio com uma pitada de angústia.

Evelyn mostrou-lhe um sorriso lento e malicioso, terminou de ajeitar os cabelos em um perfeito penteado, girou sobre os calcanhares e se aproximou de Anna.

— Não vou devorá-lo, fique tranquila — sussurrou Evelyn e, por fim, depositou um beijo na face rosada de sua irmã.

Anna fechou os olhos tentando relaxar, o que seria impossível, mas a seguiu calada. Evelyn trajava um vestido cavado de tom vermelho, com corpete justo e saia rodada, e usava saltos de 15 cm pretos. Assim que ambas chegaram ao topo da escadaria, Charles praguejou em silêncio enquanto aguardavam; elas desceram os degraus lentamente. Atravessaram o saguão e pararam; George fora o único a dizer alguma palavra, enquanto seu irmão permanecia calado a encarando, sem demonstrar nenhuma reação.

Evelyn estendeu a mão na direção dele, pegando-o de surpresa, mas, ao contrário do que ele aguardava, ela o entregou seu casaco de couro legítimo e continuou seus passos em direção à porta da frente; George segurou uma risada. Assim que abriu a porta, pôde notar o céu de cor âmbar escura; estava nublado, e trovões ribombavam à distância. Byron já estava os aguardando há quase meia hora; caminharam na direção da Mercedes, mas assim que os viu, abriu a porta do carro para que ambos entrassem.

Ele sentou-se de frente para ela, fazendo-a parecer ainda menor; permaneceram metade do trajeto em silêncio. Evelyn cruzou ambas as pernas, notou um pequeno olhar, que fez surgir um sorriso espontâneo em seus lábios perfeitamente pintados.

— Você curte ópera? — Perguntou Eve, quebrando o silêncio.

Charles ajeitou-se sobre o macio banco de couro, desviando seus olhos para a janela.

— De forma moderada — respondeu em um tom sutil.

Únicas palavras que conseguiram trocar durante o trajeto, mas assim que Byron estacionou em frente ao belo teatro municipal de Boston, Evelyn sentiu um alívio. Não demorou para que o motorista abrisse a porta para ambos saírem. Charles foi o primeiro a sair do veículo, logo se virou e estendeu sua mão na direção dela, que não recusou. Ela segurou-a, não pôde deixar de notar o quanto a mão dele era imensa e tão macia perto da sua. Sorriu, mas assim que avistou Michael parado junto à entrada em companhia de uma moça alta e de cabelos loiros, desfez rapidamente o sorriso.

Seria inevitável passar despercebida, agarrou rapidamente a mão de Charles, que mesmo relutante aceitou; ambos caminharam na direção da entrada, ela mostrou um sorriso ácido e acenou, porém, não fez menção de parar para cumprimentá-lo como deveria.

Amor  Por AcasoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora