Capítulo 10

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— Batom vermelho? — Questionou a prima preocupada e surpresa.

— Não poderia ser negro não é? — Sorriu levemente a moça e a outra teve certeza que aquela mulher definitivamente faria sucesso na França. Na verdade ela faria sucesso em qualquer lugar com sua beleza extraordinária e seu mistério.

— Pensei que poderia precisar de ajuda, mas ao que vejo já está completamente pronta prima.

— Não completamente. Ajude-me a colocar o véu. — A menina ruiva correu e apanhou com as duas mãos o tecido bonito e esvoaçante, e com muito cuidado colocou em cima da noiva, e percebeu que este a cobria até os pés como se fosse imaculada, uma santa de altar.

— Está linda prima, na verdade nunca vi algo tão primoroso em minha vida. Alguns amigos artistas meus de Paris sonhariam em poder reproduzi-la em uma tela tal qual está aqui.

— É muito doce de sua parte... E... Heath? O viu? — E havia algum tom excitado naquela voz trêmula, algo preocupada.

— Ainda não, mas ele estará lá, não se preocupe, ele cumpre sempre sua palavra. Bem o sabe. — Tentou soar reconfortante.

— Com certeza que o sei, não temo por isto. Se não se importa gostaria de ficar a sós um momento, sim? — Pediu a noiva em quase ordem, e a outra a compreendeu perfeitamente. Quando a porta se fechou Aurora colocou-se de pé olhando para o seu velho quarto, todas as memórias atravessando sua cabeça como um turbilhão. Atravessou o aposento e puxou um quadro, um quadro que o pai havia pintado dela quando era um bebê e sentava-se no colo da mãe Céu. Jogando-o a um canto, vislumbrou uma abertura na parede e de lá um caderninho de veludo de capa azul e letras douradas escrito Amy. Abriu sentindo o cheiro de poeira e olhando folhas amareladas pela ação do tempo. Encontrou uma grande tigela de prata e alcançou uma vela que mantinha acesa no quarto em todo e qualquer horário. Provavelmente não precisaria daquela vela, pois chamas crispavam de seus próprios olhos. Com raiva iniciou a rasgar as folhas com bastante rapidez jogando-as na tigela.

— É tudo sua culpa, absolutamente sua culpa Amy. — A lembrança de ter lido as palavras contidas naquelas folhas, a fez tornar-se mais vermelha como fogo. Viu perfeitamente o rosto de Heath ainda mais jovem a sua frente, profundamente constrangido olhando para a pequenina Amy, tão nova que mais parecia uma criança com seus 12 anos. Sentiu a indiferença que após aquele episódio atingiu ao seu único amor, os olhos azuis frios e tão sem paixão. Odiou-o também, pois ele era tudo o que ela tinha.

                       Pegou a vela, a chama tremeluzindo, pegou um pequeno pedaço de papel e o viu queimar tornando-se cinzas à medida que o fogo avançava consumindo-o. Jogou sobre os outros pedacinhos de papel e tudo tornou-se apenas como uma bola colorida laranja, presos ao passado assim como ela também sentia-se. Lágrimas cristalinas caíram de seus olhos quase apagando o fogo. Com raiva na tentativa de se livrar de tudo aquilo o quanto antes jogou a vela dentro da tigela contaminando com a chama outros pedaços de papéis. Satisfeita saiu, não vendo a cortina serpentear tocando a vela branca.

                         Quando a noiva apareceu, todos os olhos se concentraram unicamente nela e em sua formosura. Podiam escutar anjos do céu cantando em suas vozes líricas algo divino a cada passo que ela dava, e uma atmosfera cristalizada. Toda ela parecia de fato santa e imaculada, um perfeito presente de Deus, totalmente moldada as suas preciosas mãos sagradas, cada pedacinho pequeno de seu corpo com um toque especial, sua cinturinha, seus pés pequenos, os fios de seu cabelo, o nariz arrebitado, os lábios carnudos. Era divina e deveriam estar fazendo oferendas a ela. Ao final do imenso tapete vermelho coberto por pétalas de rosa que dançavam ao vento a cada lufada o noivo com uma tempestade perigosa nos olhos a esperava, muito sério observando cada pequeno passo que dava como todos os outros. Heath tinha as mãos geladas como o gelo, e qualquer um que o observa-se naquele momento juraria que sua alma o era assim também. Junto a ela formariam um par impar em beleza, como Apollo e Afrodite. Margareth ainda olhou para trás, as suas costas ali sentada no banco onde estava para ver se avistava um desnaturado Diego, mas este apenas tinha desaparecido o dia inteiro, o que era absolutamente de se esperar da parte dele.

                            O padre iniciou suas palavras de uma união sagrada, enquanto cada um deles repetia o que lhe era compelido até as suas últimas palavras. A um canto, Juan tentava se fingir de muito sério, no entanto de seus olhos brotavam lágrimas que ele insistentemente impedia de cair, assim o fora também em seu próprio casamento, e era verdade que também as mães choravam, o único que parecia alheio e muito sério era Ian, mas todos poderiam entender que sua natureza era daquele modo bastante controlada.

— Vós aceitais a senhorita Aurora Salles como sua legitima esposa para amá-la e respeitá-la até que a morte os separe? — Heath virou-se para a noiva de olhos castanhos e sentiu calafrios na espinha que se agravaram até ter as mãos trêmulas. Tentou lembrar a si mesmo do sentimento que tantas vezes proferira por ela, que o fazia se sentir sufocando, a sensação de pertencimento completo. Dissera a Amy que amava Aurora ainda e que imploraria para que ela retorna-se aos seus braços. Agora tudo se cumpria como uma profecia, não precisava temer. Ele a conhecia, não conhecia? Ansiava por tê-la por baixo do seu toque não o era?

— Aceito. — Disse ele por fim, e naquele mesmo instante Aurora que segurava um buquê de rosas na mão furou o dedo em um espinho perdido e esquecido e gotas vermelhas pingaram sobre o vestido pálido quando Heath aproximou-se a colocar a aliança dourada em seu dedo.

— Senhor está pegando fogo, está pegando fogo. — Surgiu um empregado gritando de detrás da grande e imponente casa dos Salles casa que um dia pertencera a Antony Moore, pai biológico de Céu Salles, que havia morrido anos atrás de velhice. Os convidados admiraram uma fumaça espessa e negra elevar-se ao céu coberto pelos primeiros sinais do pôr do sol, de tons laranjas, roxos, róseos, violáceos. 




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