Com um grande buquê de rosas vermelhas, Valentim apareceu à porta, tinha um sorriso bobo no rosto. Perguntou por Margareth e estava sentado na poltrona favorita do sogro na sala de estar quando a garota chegou. Primeiro pensou que o pai faria uma de suas caretas ao ver aquela cena, mas depois quando viu as rosas seus olhos mudaram. O gesto foi tão delicado da parte do noivo que se surpreendeu. Segurou-as nas mãos e tinham uma cor tão bela que não pode conter um sorriso ao cheira-las, um perfume doce entrando dentro de si como uma sinfonia agradável. Com isto, e os olhos brilhantes o abraçou com força de modo que o surpreendeu muito, e o fez. Beijou-o, tentando apertar seus lábios com força aos dele, circulando seus braços em torno do pescoço a fim de diminuir a distancia, movimentando a boca na dele, até que muito delicadamente ele retirou os braços dela de si e vermelho a encarou.

— Margareth o que está fazendo? Está louca? — Recriminou-a.

— Mas por quê? Isto não é natural? Você não é meu noivo? Vamos nos casar não lembra?— Ela movimentou as mãos no ar tentando a muito custo ser enfática, mas o que queria era sair dali imediatamente e o deixar falando para as paredes.

— Margareth por Deus, isto foi demasiadamente indecente, se portou como se fosse uma...— O tom de voz escandalizado dele, como o tom de voz da mãe, e aquela mesma expressão que ela tinha a deixou horrorizada.

— Uma o que Valentim? Termine, vamos, estou esperando. — Esbravejou ela ofendida. — Uma cortesã talvez? Era o que iria falar a mim? — Completou e viu os olhos do homem arregalarem.

— Margareth, claro que não. Em todo caso vim aqui para resolver coisas com você.

— Que coisas são essas? — Questionou ela, e ele aproximou-se colocando os braços dele nos dela, fazendo-a sentar em outra poltrona de frente para a sua.

— No jantar disseste algumas coisas, algumas coisas que não podem ser certas Margareth, e... Eu estou bastante preocupado.

— Preocupado? Você está preocupado ou sua mãe é que o esta?

— Ohh... Como... Por que é que está me atacando deste modo? Escute querida, minha mãe não tem nada a ver com isto entende? Olhe, quando nos casarmos eu não vou para Londres, tão pouco você o vai, é claro vamos para visitar, mas morar lá está totalmente fora de questão. Eu também estive pensando sabe, e acho que você já que quer tanto pode dar aulas de pianos aos filhos da minha irmã. Eu já até conversei com ela e está tudo acertado. No entanto dar aulas para outras pessoas não, de jeito algum, e tão pouco fazer concertos, tocar por aí. Não quero isto para ti, ou por acaso pensa que não posso lhe dar a vida que merece? Eu posso lhe dar tudo que almejar, joias, carruagens de luxo, vestidos, tudo que me pedir. Claro que com moderação afinal não sou o dono do mundo. — Ele sorriu levemente e ela permanecia calada, seus lábios entreabertos.

— Por acaso Valentim você realmente pensa que me importam vestidos, joias, carruagens e coisas tolas materiais? O que faço com todos os meus sonhos? Você acha que eu conseguiria guardar em uma caixinha de veludo vermelha?

— Querida me escute.

— Não, não Valentim, simplesmente não. Olhe, podemos conversar outro dia, pois eu me sinto indisposta? Minha cabeça começou a latejar. — Pediu ela o encarando com seus grandes olhos azuis. Ele apenas balançou a cabeça e se levantou, mas quando o havia feito ela já havia partido sem sequer leva-lo até a saída.

                   Margareth parou na cozinha em busca de um chá de camomila que pudesse lhe acalmar os nervos. Parecia tão abatida e cansada com ruguinhas pequenas abaixo dos olhos. Respirou fundo, e viu que não havia ninguém na cozinha. Onde estaria a cozinheira ou qualquer um dos empregados? Decidiu fazer por si mesma, afinal no fundo lhe fatigava muito que todos lhe tratassem como uma incapaz fazendo tudo por ela, lhe preparando o banho, lhe vestindo, escovando e mais uma dezena de coisa. Abriu um armário alto, e olhou para milhares de potinhos com varias coisinhas coloridas que não fazia a menor ideia do que eram, até que viu um com flores brancas de miolos amarelos. Devia ser aquilo. Pegou. Escutou um barulho, ignorou um pouco, mas sua curiosidade foi maior. Notou que vinha da despensa. Ia entrar, mas percebeu que a porta tinha uma fresta aberta, quando olhou, preferiu estar cega a ver aquilo, o potinho de vidro escorregou da mão com o susto e se espatifou no chão.

— Acho que alguém nos viu. — Disse uma voz feminina, mas Margareth a este momento estava correndo para longe, pela porta dos fundos que dava direto para o jardim, escondeu-se dentro de um porão externo, puxando as portas com força e as fechando com cuidado. Tudo estava escuro lá dentro, mas por um pequeno buraquinho podia ver o que estava lá fora.

— Quem está ai? — Questionou Diego, e ela o reconheceu pelo calçado, e seu peito se comprimiu. Logo ele partiu, pensando ser um animal que havia invadido a cozinha. Desta vez havia sido bastante descuidado, para não dizer coisa diferente. 

                     Miss Woody, sentou-se a escadinha de madeira do porão, esperando algum momento. Viu algo se mover perto de seus pés, e quase soltou um grito levando as mãos a boca. Seria um rato? A ideia a aterrorizou, contraiu-se todo com espasmos involuntários. É claro que ali em baixo deveria ter todo tipo de criaturas peçonhentas, ninguém entrava ali, e ela só entrara uma única vez, também em outra ocasião para se esconder dos filhos de Juan, os gêmeos que estavam brincando de pega-pega com ela, mas o que aconteceu ali em baixo a deixou tão assustada que jurou jamais faze-lo outra vez. Ouviu vozes, sussurros. Tentou convencer os pais que a casa onde moravam era mal assombrada, mas ninguém nunca lhe acreditou afinal era apenas uma criança, e alias o que poderia ter dentro de um porão? Com estas lembranças escutou um zumbido alto, um zumbido que foi aumentando. Em sua mão sentiu uma picada, gemeu, e logo outra picada, e outra. Abriu o porão rapidamente, mas já tinha recebido tantas picadas que só podia gemer de dor. Algo frio correndo por seu corpo como arrepios. Tinha um enxame de abelhas dentro do porão. Não sabia como elas haviam chegado até lá, não fazia realmente ideia, mas aquilo parecia bem antigo.

                   Fechou as portas de madeira correndo para longe, e ainda sentia levar algumas ferroadas, precisava dar a volta em casa para poder entrar, afinal não podia ir pela cozinha. Começou a sentir-se mal, muito mal, o estomago doía, doía tanto que caiu de joelhos. Sentiu que não conseguia respirar direito, as mãos estavam inchadas como pães. Desmaiou! 



Laço de cetimWhere stories live. Discover now