— Solte-me seu animal! — Gritou se debatendo.

— Então nenhum gato comeu sua língua? Por que pensei que Valentim lhe houvesse feito algo estranho... Ah Valentim. — E riu trincando a mandíbula e a apertou com mais força quase fazendo com que perde-se o ar. — Vamos Margh, precisamos conversar. — E lhe beijou o ombro. — Tão doce. — Isto tornou a ela perturbadoramente irritada, e lhe cravou com força o cotovelo no abdômen atingindo seu estômago. Ele perdeu o ar gemendo de dor, a soltando.

— Estou começando a despreza-lo. Não consegue entender minhas palavras, não me escuta. Agora a próxima vez lhe quebro os dentes docinho. — Riu correndo o mais rápido que pode para o meio da mata. Sabia que rapidamente ele a encontraria, por isso decidiu engana-lo se escondendo no tronco oco de uma árvore. Teve de conter o riso quando escutou os passos dele muito perto.

— Margh sei que está aqui em algum lugar, vamos. Precisamos conversar. Vamos, eu não sou um demônio a menos que queira que eu seja, por que neste caso eu seria com prazer. — E riu e logo se calou. Calou-se por mais de 30 segundos, até que de repente ele apareceu a sua frente com uma cara séria, colocando suas mãos na árvore impedindo que sai-se. De susto ela gritou alto, e junto de seu grito escutou um novo trovão e um raio iluminando o céu. Chuva pesada despencou. — O que faço com você? Soube que vai para Londres em breve, por que faz isso? Por que está fugindo? — Ele parecia zangado.

— Está chovendo, me deixe ir, é perigoso, se um raio cair... E nós aqui nesta árvore... — Tentou ela, e ele aproximou seu rosto quase chegando até seus lábios, ela virou, e ele se deteve. Respirou fundo, e se afastou, andando rápido por entre as árvores. Ela viu o torço nu desfilando a sua frente, e notou mais uma tatuagem indígena nas costas. 

                     Cansada, esperou alguns segundo e se moveu, fazendo o mesmo caminho que ele, pois de fato era difícil enxergar no escuro, principalmente quando gotas caiam em seu rosto, e em seus olhos. Todo o penteado que usava se desfez deixando cachos caírem em volta do corpo, logo eles não eram mais seus cachinhos, pois estavam ensopadas, era apenas algo escorrido se grudando ao seu rosto e corpo. Passou o braço na cara e puxou a barra do vestido para que não sujasse de lama, correndo. Parou depois de andar mais de 25 minutos, já devia ter chegado a casa, por que não chegara? Parou cansada demais para seguir em frente. Os joelhos falharam, e apoiou as mãos neles. Ouviu um uivo de lobo e gritou.

— Diego! Diego por favor, apareça. — Suplicou, mas nada aconteceu. Um novo relâmpago iluminou o céu. Andou mais 10 minutos, e parou cansada, parecia andar em círculos sempre. Aquela floresta sempre fora traiçoeira. Tremeu, pois começara a ficar exageradamente frio, e se abraçou deixando a bainha do vestido se arrastar. Todas aquelas peças se tornaram incrivelmente pesadas, principalmente o saiote, mal conseguia se mover agora, exausta. Amaldiçoou sua ideia absurda de sair no meio da noite, afinal quem seria tolo pra fazer isso? O pior é que ninguém se daria conta de sua ausência até o dia seguinte, estaria ali só, como um fantasma vagando por horas. 

                 Um novo raio cruzou o céu, o iluminando por pelo menos 5 segundos. Margareth chorou de raiva da sua própria besteira, as lágrimas escorregavam por seu rosto se misturando as lágrimas do céu, e o seu lamurio aos trovões esbravejantes. Parou disposta a não se mover mais nem um paço, pois poderia ser apenas pior e se embrenhar mais na mata, quando viu uma folhagem se mexer. Seria o lobo, o mesmo que havia uivado há um tempo? Tremeu de medo se encolhendo toda. A sombra, no entanto não parecia ser a de um lobo, pois era grande demais, como a de um urso. Um soluço de choro se deteve em sua garganta. Não respirou, e o mundo cristalizou. Quando viu olhos brilharem a sua frente seu corpo quase caiu ao chão como gelatina. Correu e abraçou a figura alta, comprimindo-se toda contra seu corpo, circulando com seus próprios braços finos e longos. Respirou contra a pele de cheiro amadeirado misturado a algo que lembrava terra e chorou com soluços profundos rindo de sua própria fragilidade.

— É a primeira vez que fica tão feliz ao me ver. Façamos do seguinte modo, eu me escondo e volto a aparecer e então você se joga nos meus braços deste jeito outra vez. — Disse Diego beijando o topo de sua cabecinha molhada. Ela se separou dele, e um raio mais uma vez iluminou o céu e quando a consciência voltou, seus olhos vislumbraram realmente a figura a sua frente, com a roupa íntima quase transparente. Levou um susto empalidecendo com o que viu, depois tornou-se rosa. Agora raios caiam a todo tempo permitindo que o visse como flashes brilhantes. 

                    Seu mundo girou, quando ele a encarou com algum brilho perigoso nos olhos grandes e puxou sua cabeça e selou seus lábios com um beijo, agora voltando a estar tão junto dela, que poderiam ser confundidos com uma só figura. Sua língua dançava em sua boca de modo íntimo e provocativo, e suas mãos desciam pelo cabelo encharcado, escorrendo pela cintura, e então para as coxas marcadas, o toque de sua mão incendiando cada pequena célula de seu organismo. O seu corpo tão certo contra o seu, podia sentir seu tórax, suas costas largas e ombros. Diego puxou o saiote para cima, tendo contato real com a sua pele macia. Margareth soltou um gemido abafado, calado pelos lábios que a beijavam com insistência, até que eles lhe desceram ao colo, circulando beijos ao longo da clavícula e mais abaixo. Gemeu alto desta vez, e parou de respirar, e voltou a ela a razão por alguns segundos. Apartou-se dele dando-lhe tapas pelo atrevimento, pois se não para-se algo terrível aconteceria, e isto não podia, pois era noiva e além do mais era uma mulher descente e não uma das mulheres de Diego, pois era isso que aconteceria se por acaso se deixasse levar.

— Não haja comigo como se eu fosse uma de suas mulheres fáceis, pois não sou Diego. Somos primos, crescemos juntos, e além do mais você sempre me tratou quase como se eu não existisse, por que me esta fazendo isto agora?

— Por que quero você agora. — Murmurou, ele em resposta com sua voz novamente rouca, mas ela não acreditou, conhecia demais ele para saber que era voluntarioso. Voltou em silêncio pelo caminho. Estava tão cansada que suas pernas pareciam pesar toneladas, escorou-se ao ombro dele por um momento, e ele provavelmente por pena a elevou em seus braços, o que ela não protestou, pois o sono vinha a golfadas insistentes, até que adormeceu com o balanço da caminhada. Não soube como Diego adentrou a casa seminu com ela em seus braços e ninguém os havia visto, porque ninguém com certeza havia visto, afinal, pois quando despertou de manhã em sua cama coberta por lençóis estava sozinha, e seus pais não estavam enlouquecidos lhe pedindo explicações.



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