10

3.5K 349 79
                                    

- Faith -


Desde o dia do porão, eu mal pude me distanciar de Luke, principalmente depois de ter caído em lágrimas nos braços dele. Mesmo mal conhecendo o loiro, eu só consigo me sentir confortável e segura novamente quando ele está comigo, apesar das poucas palavras trocadas e das minhas lágrimas exageradas. Ele não é como Finn, que exigia explicações toda vez que eu chorava; Luke é mais calmo e não faz pergunta alguma, somente me acolhe e permite que eu chore o quanto quiser, sem pressões ou dúvidas, como se as minhas lágrimas não precisassem de um motivo para surgir.

Os últimos dias tem sido intenso para mim, já que estou passando pelo doloroso processo de me desapegar dos bens materiais da minha família. Luke e eu iremos viajar em menos de dois dias, e por escolha própria eu decidi cortar pelo menos parte das minhas raízes mais dolorosas, talvez assim fosse mais fácil partir por algumas semanas sem que fosse necessário deixar tudo de uma vez.

Eu não sabia o que esperar da tal viagem que Luke planejara. Não sabia quantas ou quais roupas levar; se precisaria levar minhas economias ou algo em especial. Luke somente pediu que eu levasse quantos livros quisesse e qualquer outra coisa que tenha haver com música e literatura alternativa, o que de certa forma deixou ainda mais confusa à respeito do lugar para onde iríamos em poucos dias.

Mexer nos CDs e nos livros sempre foi algo que eu gostei de fazer, mas ultimamente essa tarefa tem ficado cada vez mais difícil de ser realizada, e pela única razão de que tudo está guardado no porão, não só as minhas coisas, mas as do meu irmão também. Sempre tivemos os mesmos gostos e costumávamos deixar nossas coisas juntas, assim os dois poderiam desfrutar de qualquer tipo de livro ou de música.

Eu estava me esforçando para tirar os meus livros de lá sem me deparar com os favoritos de Finn, mas era quase impossível não admirar a capa especial do Conto dos Irmãos Grimm, a qual meu irmão sempre teve orgulho de mostrar, e sempre costumava ler.

Minhas pernas estavam encolhidas enquanto minhas mãos trabalhavam na velha caixa enorme e de madeira, onde todos os nossos CDs estavam guardados, junto aos filmes velhos ainda em formato de fita cassete e os discos de vinil que meu avô abriu mão e deu para nós, tudo isso bem organizado por Finn e seu senso perfeccionista. Com certeza ele ficaria decepcionado e até mesmo um pouco frustrado caso se deparasse com a poeira que foi acumulada com o tempo, já que eu jamais tive coragem de voltar a abrir aquela caixa depois do maldito acidente.

Eu analisava os títulos de tudo o que estava ali, tirando coisa por coisa e decidindo o que deveria levar para a viagem ou simplesmente abrir mão. Os livros já estavam separados ao meu lado e, por mais que eu negasse, não queria resolver aquela situação tão rapidamente, já que me recusava a deixar o porão por um tempo que nem eu mesma poderia dizer quanto.

Estava fazendo tudo com muita calma e tentando manter meus olhos longe das lágrimas desta vez, mesmo sabendo que seria quase impossível realizar tal ato. Meus dedos cuidadosos passavam pelos discos de vinil, sem coragem de puxá-los para cima, apenas em busca do CD certo para levar na viagem. Não tinha idéia de quanto tempo fazia que eu estivesse sentada no porão, não estava me importando com isso e só queria cuidar das minhas coisas enquanto posso.

De repente, ouvi alguns passos vindos da casa, logo na ponta da escada para o porão. Não tinha certeza de quem poderia ser; Luke me avisaria se estivesse vindo e com certeza não entraria dessa maneira, sem bater ou ter certeza de que eu estou em casa.

Uma sombra se formou a descer as escadas, e logo eu soube que não era Luke. Prendi a respiração e logo procurei meu celular, pronta para chamar a polícia. Porém, como se não fosse pelo azar, havia esquecido o meu telefone no andar de cima, antes de descer para o porão.

If I Die Young + lrhWhere stories live. Discover now