Spring Awakening

Peur

medo (s.m.): estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência; temor, ansiedade irracional ou fundamentada; receio; apreensão em relação a; grande inquietação em relação a alguma desagradável, a possibilidade de um insucesso.

"Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la." - Augusto Cury

Paris era mais quente que Amiens, mas isso não significava que fazia calor. Camila acordou com o vento gelado arrepiando seu corpo descoberto, vindo das portas da sacada que ela deixara aberta. A garota se encolheu e virou para o lado, abrindo os olhos lentamente, deparando-se com a missy imersa em seu sono, esparramada de barriga pra cima, com um fino lençol sobre si. Camila deitou a cabeça no travesseiro para admirá-la, mapeando em sua mente cada mínimo detalhe da mulher que queria ao seu lado pelo resto da vida.

Como bem disse Shakespeare, ninguém é tão firme que não possa ser seduzido; e Camila era a prova viva da veracidade de suas palavras. Quando conheceu Lauren, todos diziam para que não se aproximasse, que não iria dar em nada, que a missy não iria querer nada com ela, e não queria mesmo, mas a garota insistiu e ali estava. Lauren não havia sido apenas seduzida como também conquistada, com muito esforço e insistência, mostrando que água mole e pedra dura tanto bate até que fura. No fim das contas, toda madeira enverga. Se Camila a conquistou uma vez, podia muito bem fazer isso novamente.

Camila não queria que Lauren se sentisse forçada a fazer o tratamento, ela sabia que uma vez com uma ideia na cabeça, raramente a missy voltaria atrás, por isso, a garota precisava fazer com que Lauren tomasse a decisão por si só. Talvez fosse egoísmo de sua parte não aceitar o que a missy havia escolhido, mas não era como se conseguisse ficar de mãos atadas, era a vida de Lauren que estava em jogo e ela faria qualquer coisa para preservar isso, não podia deixar que desistisse tão fácil.

Era questão de superação, a missy precisava perceber que podia ser maior e mais forte do que os demônios que a atormentam, que apesar de todos os obstáculos amontoados por seu caminho, a trilha da vida continuava a sua frente e se não estivesse conseguindo empurrar as pedras para seguir, que tivesse coragem o suficiente para escalá-las. Lauren precisava acreditar na vida, precisava ver uma saída para si e tomar gosto pelas possibilidades que a podiam fazer ser feliz por anos se ela ao menos tentasse, Camila só precisava fazê-la ver e acreditar. E para isso, a garota teria de se doar completamente ao amor que sentia, superar os próprios demônios por ela para que a missy se sentisse confiante a fazer o mesmo, Camila precisava mostrar que o amor podia superar qualquer coisa e ser a fonte que nos preenche a alma. Camila precisava fazer com que Lauren superasse o amor por si e exercesse o amor por elas.

Mesmo com aquele frio na barriga, Camila levantou confiante, deixando um beijo delicado na testa de sua missy adormecida. Vestiu uma blusinha fina de dormir e shorts de pijama, respirando fundo antes de se dirigir à pequena cozinha do apartamento. Era superando que iria fazê-la superar.

Queria que Lauren só acordasse quando tudo estivesse quase pronto, então teria de se virar sem usar o liquidificador e a ideia que lhe veio a mente a fez sorrir abertamente. A garota abriu os armários e foi acumulando sobre a bancada todos os ingredientes e utensílios que iria usar, e só de olhar pra eles, Camila se sentiu nos velhos tempos.

A brasileira amarrou o pano de prato com as cores da bandeira de seu país na cabeça como se fosse uma bandana - bem como seu pai costumava fazer - e jogou outro por sobre os ombros, esfregando as mãos uma na outra e soltando uma lufada de ar antes de pôr a mão na massa. Numa tigela com farinha de milho, trigo e sal, Camila foi jogando água até formar uma massaroca e depois juntou com óleo, misturando até que ficasse bem homogêneo e compacto, deixando repousar enquanto picava os legumes.