Capítulo 5

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A tarde passa rapidamente e as dezessete em ponto saímos do castelo, rumo ao reino de Astorga.

Vários guardas nos escoltam e, diferente do dia em que saí com Filipe, hoje estou adequadamente vestida, viajando na carruagem com meus pais.

Percebo meu pai distante e triste. Ele e rei Carlos são muito amigos... Sei que está sofrendo, mas ele é assim, quando está triste não se abre, fica calado, e apenas quem convive sempre com ele consegue notar seu semblante triste.

Minha mãe segura em sua mão direita, lhe passando conforto... Percebe-se o amor deles em seu olhar... Nunca havia reparado nisso, mas agora, vendo os dois assim em silêncio, sei que seus corações conversam, e um entende o outro, sem precisar de palavras.

Como nossa carruagem é fechada, não posso observar o caminho que fazemos, mas após mais ou menos uma hora, a carruagem para e um dos guardas vem abrir a porta para descermos.

Olho a minha volta e vejo um grande castelo, pouco diferente do nosso... Já estamos na parte de dentro dos portões, então não vejo nada do vilarejo... Minha mãe faz um gesto para que eu os siga e entramos no palácio acompanhados de alguns guardas do rei Carlos, que nos levam a uma grande sala e nos anunciam a Filipe, que vai nos encontrar depressa.

- Que bom que vieram! - Ele faz uma reverência nos cumprimentando.

- Vou levá-los até ele. - Diz e se vira acenando para que o sigamos.

Quando chegamos ao quarto, vejo que este não deve ser o aposento real, mas sim um quarto que foi adaptado para as necessidades do rei devido sua enfermidade... Há uma cama grande, com a cabeceira um pouco inclinada, duas criadas, que devem ser enfermeiras estão ajeitando soro e aplicando medicamentos, e um homem, que deve ser o médico escreve algo em uma prancheta. A rainha Mary, mãe de Filipe está em uma poltrona ao lado de seu rei, e é triste a cena que se vê.

- Mãe, temos visitas! - Filipe fala, sem formalidades e agora eles nos notam na entrada do quarto.

- Entrem, por favor! - Pede a rainha Mary e vejo que seus lindos olhos verdes estão vermelhos... Ela deve ter chorado.

Entramos no quarto, fazemos nossas reverências e cumprimentamos a todos os presentes. Meu pai vai até seu amigo e começa uma conversa, disfarçando sua tristeza e tentando animar o amigo.

A mãe de Filipe vem até mim e me dá um abraço, o qual retribuo com todo o carinho que ela merece... Depois ela abraça minha mãe e as duas ficam em um canto conversando.

Filipe vem até mim, com seus olhos tristes... sem palavras para confortá-lo o abraço também. Ele é como um irmão que nunca tive e seu sofrimento dói em mim.

- Tudo bem Becca... - Me diz triste. - Preciso falar com você. Pode vir comigo? - Pede e apenas concordo com a cabeça.

Aviso minha mãe que vou sair um pouco com Filipe e ela me da um sorriso terno concordando.

Saímos pelo corredor e entramos em uma sala, que deve ser a biblioteca. Tem tantos ou mais livros que na nossa, e, por um momento, me perco observando tudo.

- Já vi que te trouxe para o lugar errado, creio que não me dará atenção estando perto de tantos livros. - Filipe me fala, rindo, me despertando.

- Você me pegou! - Rio também - Mas agora pode falar que prometo prestar atenção em tudo. - Digo, ficando séria novamente.

- Ele está cada vez pior... Já tive que assumir várias de suas responsabilidades... Minha mãe não sai de lá, quase não se alimenta para cuidar dele... E... - Ele exita por um instante, depois continua. - Você sabe que eu te amo, Rebecca, como a uma irmã... Sempre quis que você encontrasse seu amor verdadeiro e eu também tinha esperanças de encontrar a pessoa que fizesse meu coração disparar apenas com um simples olhar, mas estou sem tempo para isso... Todos, tanto meus pais como seu pai estão me pressionando para que eu a peça em casamento... Estou confuso demais, com medo... Não quero perder sua amizade, por isso resolvi me abrir pra você. - Ele me diz, e vejo suas mãos trêmulas e seus olhos cheios de lágrimas não derramadas.

- Fique tranquilo meu amigo... Não sei porque, mas tenho o pressentimento de que iremos encontrar a pessoa certa, na hora certa. Mas não vamos nos preocupar com isso nesse momento. Devemos ficar unidos, sim, mais do que nunca. Também amo você como a um irmão, e como eu queria estar apaixonada e ser correspondida, seria tão mais fácil... Porém, já tomei uma decisão: Se nada acontecer antes do meu baile de aniversário, se até lá você não houver encontrado ninguém e eu também não, você pode me fazer o pedido que irei aceitar. Mas por hora, deixemos de nos preocupar com isso, ok? - Digo a ele, sinceramente, pois no fundo, tenho esperanças de que algo mudará nossas vidas para sempre.

Filipe e eu conversamos um pouco mais, ele me contou sobre seus medos... Ele não se sente preparado para ser rei. Tentei o máximo que pude, animar um pouco meu amigo... e até marcamos uma nova aventura, desta vez na vila. Era tão fácil gostar dele, ele era um verdadeiro cavalheiro e me apoiava em quase todas as minhas loucuras. Digo quase, porque não contei a ele sobre o livro mágico... Além de não poder contar, tenho a certeza de que nisto ele não me apoiaria... Ele é super protetor comigo, além de não gostar de nada que envolva magia... Ele me daria um mega sermão.

Filipe me levou para conhecer o castelo e eu gostei bastante do que vi. Apesar de ser parecido com o nosso, a decoração é diferente, e de muito bom gosto. Fomos a sala de música e tocamos piano juntos, lembrando de quando éramos crianças e adorávamos fazer isso. Nós ficamos para jantar, por insistência da rainha Mary, e quando retornamos para Paládia já era noite.

Quando chegamos, tomei um banho para relaxar e comecei a pensar no que Filipe me disse... Ele também me ama como a uma irmã... Nossos pais, tanto os meus como os dele, se amam de verdade... É notório isso... Não é justo que nos casemos apenas por necessidade... Tenho certeza de que o destino nos surpreenderá... Afinal, merecemos ter nossa felicidade completa...

Caio na cama, muito cansada, mas nem o cansaço me impede de sonhar mais uma vez com ele.

"- Rebecca! - me chama e eu me viro para olhá-lo.

- Eduard? - Digo, sem acreditar que ele está tão perto.

Ele é realmente muito lindo... Toda a vez que o vejo, meu coração dispara... E ouví-lo me chamando faz com que as borboletas dêem cambalhotas em meu estômago.

Sorrio e vou a seu encontro. Devo entregar-lhe a aliança que minha mãe me deu. Mas quanto mais me aproximo, mais ele se distancia de mim. Começo a correr e não consigo alcançá-lo.

De repente, ele desaparece e ouço novamente a voz daquela mulher:

- Ele está vindo até mim! Você é fraca... Não conseguirá salvá-lo. - E novamente aquela horrível gargalhada ecoa e parece vir de todas as direções.

- Quem é você? - pergunto à dona da voz e da risada sinistra, que no momento está vindo até mim. - O que quer com o meu Eduard?

- Sou Valentina... Deve ter ouvido falar de mim... Se conforme, não poderá impedir seu destino! - Ela diz e nesse momento me sinto fraca mesmo, diante da figura estupenda que está a minha frente.

Deslumbrante é pouco para descrevê-la. Ruiva, olhos negros, rosto e corpo perfeitos... Está vestindo um vestido roxo bem justo, que mostra todas as suas curvas.

Olho para os lados e não vejo mais nada. "Sou mesmo tão fraca... Como poderei salvá-lo?" Então o livro dourado se abre, dando-me uma resposta. "

O Reino Encantado [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora