Capítulo 1

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Estava no meu lugar preferido do castelo, minha amada biblioteca, porém, por mais incrível que fosse, estava entediada... Já havia lido e relido todos os livros que tínhamos, incluindo os escritos do meu avô, rei Deniel, que relatava o que aconteceu com nosso reino no passado... sobre isso, meu pai dizia ser tudo bobagem, algumas pessoas diziam que era apenas lenda, mas isso só aguçava ainda mais minha curiosidade. E, se fosse apenas lenda, porque meu pai não me deixava sair dos limites do castelo? O que ele tanto temia?

Sério, já estava com quase dezoito anos e nunca havia saído de Paládia, mesmo que o Príncipe Filipe tenha se oferecido para me acompanhar pessoalmente, rei Wiliam nunca permitiu.

Meu pai tinha excesso de cuidados comigo, mas iria mostrar para ele que ninguém poderia me prender. Sabia que havia nascido para ser livre, assim como nas histórias dos meus livros.

Corri para meu quarto e, para minha felicidade, não havia ninguém pelos corredores. Tranquei a porta e peguei em meu closet uma capa preta com capuz, que encontrei outro dia, revirando umas coisas velhas do meu pai. Pedi que lavassem e trouxessem para cá... Me seria muito útil naquele momento.

Já estava ficando preocupada com Bianca, minha dama de companhia e melhor amiga, ela já deveria ter voltado. Pedi a ela que levasse um recado meu a Filipe, dizendo para me encontrar, mas ser discreto, para que meu plano pudesse funcionar. Sentia a adrenalina tomar conta de mim a cada minuto que se passava, mas eu conseguiria sair de Paládia e ninguém iria me impedir!

Não, não iria fugir com o príncipe Filipe, e não éramos apaixonados... Éramos melhores amigos desde sempre, mas nossos pais insistiam em ver algo mais na nossa amizade e ficavam pressionando Filipe a me fazer um pedido de casamento no dia do meu baile de dezoito anos... Esperava que ele não agisse por impulso a ponto de cometer tal loucura, ou eu não perdoaria meu melhor amigo.

Andei de um lado para o outro durante um bom tempo, até que alguém bateu na porta três vezes e eu corri para abrir.

– Você demorou! – falei impaciente para a Bi, que me olhava divertida.

– Tem certeza mesmo que quer fazer isso Becca? – Eu a olhei, fuzilando-a com os olhos.

– Ora, eu nunca quis tanto algo em minha vida! Como se você não me conhecesse, senhorita Bianca! – Não sabia porque, mas sentia que precisava sair do castelo naquele dia.

– Então vamos, alteza, príncipe Filipe a está aguardando...

Saí do meu quarto trancando a porta e andando cautelosamente pelos corredores do castelo. Ouvi passos, mas ignorei totalmente, dizendo para mim mesma que tudo daria certo, e quando estava ao lado de fora coloquei a capa, entrei em modo camuflagem e andei até o jardim, que era onde havia marcado com Filipe, por ser o único lugar mais reservado daquele suntuoso palácio...

Andei mais um pouco e vi um guarda, que para meu alívio estava de costas e não me viu. Entrei em um corredor de árvores, seguindo para o portão do castelo... O portão era pequeno, usado somente pelos serviçais, quando precisavam sair para a vila.

Estava em modo de alerta total, com medo de ser descoberta. Minha mãe iria surtar se me visse, não me parecia nem um pouco com uma princesa naquele momento; estava usando calças, uma blusa surrada e uma bota de cano alto que a Bi conseguira para mim... Meu cabelo estava uma desordem total, mas a capa escondia esse pequeno detalhe.

– Até que enfim! – Filipe disse, saindo do meio de umas árvores e me fazendo pular com o susto.

– Dá pra você parar de gracinhas pelo menos dessa vez, Filipe! Estou suando aqui, pensando no que meu pai fará se descobrir que eu saí sem permissão e você me da um susto desses! – Tentei parecer irritada, mas falhei miseravelmente, quando olhei para seus olhos verdes e aquela cara de coitado que meu amigo fazia sempre que eu lhe dava uma bronca...

Olhei adiante e avistei seu cavalo branco próximo ao portão. Isso mesmo, que ironia, né... Meu príncipe viera me resgatar com cavalo branco e tudo! Pode rir, mas como eu disse, ele era apenas meu melhor amigo.

Quando chegamos ao seu cavalo, ele me ajudou a subir em silêncio, com todo o cuidado, como o fofo que meu amigo era. Ele subiu logo atrás de mim e assim, saímos galopando, adentrando a floresta que cercava o reino de Paládia.

Pela primeira vez iria ver um pedacinho do mundo fora de Paládia... Talvez seria a última, já que teria que me casar antes do próximo ano, e tinha quase certeza de que meu pai iria exigir que meu futuro esposo me protegesse ainda mais do que ele. Pensar nisso era extremamente desanimador. Eu podia me cuidar sozinha! Afinal, em minhas histórias, as mocinhas nunca eram tão indefesas assim.

Após alguns minutos saímos do meio da pequena floresta, e, de longe, consegui avistar umas montanhas. Fiquei tentando imaginar porque Filipe me levara naquele lugar, já que meu desejo era conhecer lugares diferentes e pessoas, enquanto ali só havia rochas.

– Não diga nada! Sei o que estás pensando! – Filipe me conhecia muito bem, às vezes as palavras não eram necessárias entre nós.

– Eu te trouxe aqui para te mostrar meu lugar favorito, antes de visitarmos a vila. – Falou, me ajudando a descer do cavalo, com o mesmo cuidado que me ajudou a subir.

Caminhamos mais um pouco e paramos na beira de uma imensidão de águas. Era um lugar maravilhoso, porém, parecia um lugar deserto que ninguém visitava há anos.

– Você já leu as histórias que falam sobre um reino chamado Reino da Luz, que ficava entre os reinos de Astorga e Paládia? Aquele o qual nossos avós deixaram escrito e o povo diz ser lenda? – Filipe me perguntou, ganhando minha total atenção, porém, só conseguia fitá-lo sem pronunciar resposta, esperando que ele continuasse.

– Pois se a lenda for verdadeira, exatamente aqui, ficava o Reino da Luz. – Completou Filipe, e eu fiquei deslumbrada... Curiosa como era, vi ali uma oportunidade para iniciar uma aventura, e desvendar o mistério daquele lugar.

Não queria mais conhecer a vila, pretendia explorar cada canto daquele lugar, mesmo meu amigo me dizendo que não havia nada lá, pois ele visitava o lugar há anos e nunca viu nada que pudesse comprovar que o Reino da Luz existira mesmo.

Mas algo me dizia que eu poderia encontrar algo diferente de qualquer coisa que poderia ter imaginado, e que naquele lugar encontraria meu destino.

O Reino Encantado [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora