Algo

225 29 8
                                        

A minha casa eterno palco de memórias e derrotas.

Vitórias perderam-se pelos corredores.

E eu encosto-me à janela e perco-me nos pensamentos;

Sou feito daquilo que um dia perdi, o meu corpo coberto de cicatrizes que não se vêem

Mas que um dia foram manchas negras, pútridas, de raiva e ódio que não sabia colmatar.

Não que agora o saiba, só sei esconder melhor. Penso eu.

Quero gritar, gritar ao mundo. Irritar-me. Porque raio não me consigo irritar?

Ora porque infelicidade os outros podem sentir tudo e eu não? E eu continuo apático?

Vejo as pessoas a festejarem as pequenas vitórias, mas para mim tornaram-se poucas ou sem sentido.

É tudo um conjunto de momentos efémeros. Tudo vem e tudo vai. Nada fica.

E eu que gostava de ser pragmático, mas não, sou apenas eu. Fico a ver passar

Tornei-me mero corpo para andar e mente para fazer o corpo funcionar.

Não sou nada, e não sou tudo. Cambaleio entre os dois, sem nunca ser algo.

Sou a consciência eterna que paira na situação do que ficou por dizer. Um dia.

Sou as últimas palavras de um dia de inverno a terminar.

Tornei-me no que não queria ser, sendo aquilo que queria.

Talvez o que sempre quis ser, fosse o que sei que não devia ser.

Talvez o amor que agora possuo pela coisas, seja aquilo que um dia o ódio foi.

O rio que percorre os meus sentimentos que se tenha dividido em dois.

Não sei, questionar-me parece errado.

Estou numa jaula. Uma que não se vê. Prendi-me na minha consciência para que não me abalem.

E o baloiço baloiça, e eu imóvel, e eu a ver, e eu tento

e eu arrasto-me

até um dia

EgoWhere stories live. Discover now