Ele é...

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Com uma mala pesada de livros, entro dentro do carro, o homem não deu pelo menos um bom dia se quer, isso sim é paixão, agora sei porque existem poucos habitantes naquele prédio, a nota por ali de recepção é -1.
-Como foi a aula Luanna? - Oh! O senhor mudo resolveu falar.
- Incrível. - Retirando o fato dos acontecimentos estranhos e micos..
- Senhor, eu realmente gostaria se saber seu nome. - Falo abrindo a janela de vidro para a passagem de vento natural.
Ele ficou em silêncio, mas logo respondeu.
- Sleety. Me perdoe pelo meu jeito, minha família me deu uma educação mais... Discreta. - Ele responde, bem, Isso ajeitou muitas coisas por aqui.
Sorri.
O caminho foi curto, ao sair do carro, vi que o prédio já tinha novos riscos.
- Garotos Vândalos - O senhor Steely fecha a porta do carro e solta um bocejo.
- Vive com sono? - Pergunto fugindo do assunto.
- Sim, dormir é bom. - Ele para e se volta ao porta-malas do carro. - Bem... Tenho que ir trabalhar. - Ele pega um chapeuzinho de camareiro e coloca na cabeça, volta para o carro, pega as malas de dentro e as colocam a frente do elevador, depois coloca o chapeuzinho sobre um apoiador de roupas de madeira, pega um crachá de recepcionista e fica a frente de um balcão de vidro.
- Por que faz tanta coisa senhor Steely? - Me aproximo do balcão e coloco as mãos sobre um sininho dourado.
- Por que faz tantas perguntas mocinha? - Ele pega aqueles papeis em branco e novamente começa a ler ( Não sei o que).
Me Afasto na ponta do pé e vou até o elevador. Eu hein.
Enquanto o elevador começava a subir, eu ficava lá parada olhando meu reflexo no espelho, uma manchinha surgiu, como um pontinho negro, que foi ficando cinza e começou a se espalhar, eu fiquei assustada mas o impulso de reação e curiosidade foi maior, toquei a manchinha que dançou sobre meus dedos fazendo cócegas, lá estava novamente a borboletinha que se materializou na minha frente, eu não podia vê- la, como se estivesse apenas no reflexo, mas isso iria contra as leis da física, como o espelho refletia algo que não estava do outro lado?
Eu me afastei e finalmente o elevador deu o sinal de que parou em meu andar, saí dali quase correndo e repetindo para mim mesma. "isso não existe, isso não existe, se vai contra as leis da óptica, então não existe".
Como posso estar ficando louca logo na minha primeira semana em outro lugar? Minha mente sempre foi forte, mas e se ela estivesse tendo algum tipo de recaída? Eu vou ter que trabalhar para conseguir uma consulta urgente em um psicólogo, sabia que meus problemas na infância teriam consequências emocionais no futuro, só não sabia que isso aconteceria mil anos luz deppois! A vida, ela é um quebra cabeça que apenas Deus sabe as peças e o lugar certo em que colocar, por incrível que pareça, o tempo também.
Me sento no sofá da sala e passo a mão por entre os cabelos, precisava de um banho gelado para esfriar a cabeça. Liguei a televisão, respirei fundo e fui até um pequeno terraço que dava vista lá para baixo, seria aquilo perfeito se eu não tivesse medo de altura.
Fui fazer um pouco de café e as minhas mãos ainda estavam um pouco trêmulas, café para me despertar.
Depois de um banho, peguei o café, me sentei na sala e comecei a tomar assistindo um pouco de TV, tinha trago alguns filmes de comédia de casa, coloquei alguns e o tempo foi passando juntamente com o meu nervosismo agudo. Sorrir literalmente é o maior remédio.
Tudo indo bem quando ouvi a campainha tocar, quem seria?
Abri a porta com um sorriso.
- Olá senhor Steely.. - Minha voz foi perdendo a força quando olho direto para Thomas que sorria. Usava uma camisa verde e o cabelo em modo confusão.
- Olá senhorita Luanna! - Ele olha para dentro do meu apartamento enquanto eu ocupava o espaço da porta. - Não vai me convidar para entrar?
- O que você faz aqui? Não... Espera... Como encontrou meu endereço? -Sussurrei.
-Sabe senhorita, admiro seus jeitos para me recepcionar. Existem travesseiros aí dentro? - Ele aponta para a sala.
- Não respondeu minhas perguntas. - Bufei.
- Nossa, ainda está zangada? - Ele para e analiza meu rosto. - Pois bem, vim lhe provar que não sou irresponsável e lhe ajudar em nosso trabalho.
- Não preciso de sua ajuda. - Viro-me para entrar mas ele segura rapidamente meu pulso.
- Por favor senhorita, você não tem condição para fazer tudo sozinha.
Sorri irônica.
- Você não sabe nem quanto é um mais um.
- Lembra de nossa aposta? Por que não ser feita agora? - Ele sorri de lado.
Olho para ele e abro a porta para que pudesse entrar.
Ele se senta sobre o sofa enquanto eu vou até o quarto pegar os cadernos. Comecei respondendo e ele me observou.
- Está errado. - Ele aponta para minha resposta.
- Como assim errado? Impossível.
Ele pega a caneta das minhas mãos e começa a conta do zero me indicando onde mais ou menos eu esqueci de fazer uma troca de sinais.
- Se errar uma virgula, todo o texto é prejudicado, se errar um sinal, toda conta estará errada. - Ele sorrri e rapidamente vai fazendo tudo sozinho.
Eu fiquei com a boca aberta por alguns segundos.
Ele repousa a caneta sobre o caderno e os coloca sobre a mesinha. Aquilo é impossível, como ele fez isso se não deu a mínima atenção para a última aula que o professor ensinava esse assunto?
- Bem, agora... Sobre a aposta... Quero que faça um Streep dance aqui e agora para mim.
Eu olho para ele ainda com a boca aberta. Ele sorri.
- É brincadeira Lua. - Thomas chega perto de mim. - Eu vou precisar de um tempo para pensar o que você vai fazer. Agora me diga sobre as tais letras voadoras.
Meu coração acelera e eu baixo a cabeça me virando para a outra direção. Droga! Porque ele foi me lembrar disso?
- Nada. - Falei. - Só estou enlouquecendo.
Thomas se aproxima de mim.
- Tudo bem, pode me contar. - Sua voz foi suave.
- Não, não é nada.- Olho para seu rosto e forço um sorriso. - Juro.
Sua feição mudou, como se soubesse que eu estava mentindo.
- Tudo bem. - Ele pega minhas mãos. - Se quiser falar, é só ligar que eu venho para te ouvir. - Ele deu um sorriso de lado. Seus olhos raros Hazel estavam com uma cor estranha, como também havia mudado de tonalidade no dia que eu quase quebro o nariz no chão. Uma vez pesquisei e descobri que esse tipo de cor podia originar qualquer outra, só bastaria a quantidade de luz sobre o local.
Eu ofereci café para ele, que aceitou mas quase cospe fora quando toma o primeiro gole, então resolvi fazer pipoca depois que coloco outro filme de comédia. O sorriso dele era contagiante. Ele me fez derramar refrigerante por toda a pipoca o que fez com que eu pegasse o refrigerante dele e fizesse o mesmo. Por um instante nossos olhares se cruzaram por mais uma vez, meu coração palpitou, e em minha mente veio uma lembrança, eu chorava em um balanço de flores, devia ter de uns 5 a 6 anos, usava um vestidinho branco e segurava uma bonequinha de pano com olhinhos de botão.
Respirei fundo quando saí do transe.
Thomas se levantou, tinha que ir embora por que já estava tarde e eu o acompanhei até a porta.
Ele não sabia o que seu olhar fez, como isso aconteceu? Aonde? Tentei absorver todas as imagens do dejavu que tive, porém, sem sucesso.

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