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Me lembro exatamente da primeira vez que abri os meus olhos. E minha mãe estava sorrindo. Um verdadeiro e acolhedor sorriso de mãe. Daquele que te faz não sentir medo.
E naquele momento, sabe que tudo ficará bem, desde que sempre fique por perto desse tal sorriso.

Mas, não foi aquilo que senti ao ver minha mãe entrando no meu quarto vagarosamente. Na verdade, era o extremo oposto. Estava totalmente apavorada com aquilo. Não sabia o que fazer. Me soltar, era um desafio, quase impossível. Meus gritos não saíam da minha garganta. E meus olhos, tão arregalado que pareciam que iam sair do meu rosto. Minha respiração ficou pesada, e meu coração, batia tão forte.
Logo aquele sorriso, virou uma gargalhada. Algo que nunca vi mãe fazendo.
De alguma forma, foi a pior coisa que ela poderia ter feito.

Estava confusa demais para pensar.
- Mãe, o que aconteceu? Por que me prendeu aqui?
- Ah, amorzinho, está tudo bem. - ela sorri mais. - Agora ficará tudo bem. - diz, sussurrando, como que para ela mesma.
Ela olha pela janela e respira fundo.

Sinto o cheiro de bebida alcoólica no ar. Ela não estava em si.

- Mamãe, por favor me solte, meus pulsos estão doendo muito.
- Sinto muito, não poderei. Você irá sair correndo de mim. Me abandonará.

Ela levanta um copo, como aqueles que tem proteção em cima, feito para bebês. Tinha um líquido transparente, como água. Mas obviamente não era água.
Se não, minha mãe não estaria sorrindo maldosamente enquanto coloca isso em minha boca.

O gosto me queima por dentro.
A sensação de que milhares de formigas anda por mim, principalmente na garganta.
Mas, assim que a sensação passava, meus olhos pesaram, minha respiração foi parando e logo, adormeci.

...

"Sua mãe é alcoólatra. É depressiva.
Seu pai é um traidor. Adultério.
Seu irmão é dependente, viciado.
E você, Melanie, está enlouquecendo. Completamente louca..."

Acordo assustada. De onde veio esse pensamento? De onde veio essas palavras?
Talvez esteja mesmo enlouquecendo.

Assim que paro de pensar e olho em volta, meus pulsos estão soltos. Meu quarto está revirado. E a porta aberta.
Essa era hora. Tenho que fugir.

Mas assim que me levanto e começo a correr, minha mãe aparece com meu irmão desacordado em seus braços.

- Melanie?
- Mãe?
Olho para Grant. Não está desacordado. Está morto.

Sinto vontade de chorar. E não seguro. Deixo as lágrimas caírem e me ajoelho perto dele.
Minha mãe o deixa cair, fazendo um barulho estrondoso.
Com uma mistura de medo, tristeza e raiva de toda aquela família, me levanto diante de minha mãe e lhe dou um tapa no rosto.

Saio correndo antes que ela sequer se virasse. Peguei meu caderno e corri até a porta principal.
Mas minha mãe é mais rápida. Me agarra por trás e me joga fortemente no chão.

- Pequena encrenca, não deveria ter nascido. Você foi a pior coisa que poderia fazer parte da minha vida. E agora, não irá fazer isso comigo. Não irá mesmo.

Aquilo foi como um soco no estômago. Minha própria mãe, me renegando.

Luto contra ela para sair do chão. Mas ela é bem mais forte.
Me derruba de novo e me prende entre cordas novamente.

Ela pega um galão e começa a espalhar por toda a casa, pelos móveis. Percebo que é gasolina. Ela irá queimar a casa e tudo que está por dentro. Preciso sair antes que seja tarde demais.

Ela acende o fósforo e derruba no líquido.
A casa toda se enche de chamas. O sofá já está todo queimado.
Dificuldade de respirar.

Aproveito que está longe. Pego a corda e, com cuidado, me aproximou do fogo. Em instantes a corda se queima e estou livre, mesmo que tenha queimado um pouco minha mão e a casa ainda esteja em chamas.

Olho em volta e vejo minha mãe com dificuldade de respirar. Ela me olha mas cai no chão. A garrafa de bebida ainda estava meio cheia. No momento em que cai, a garrafa se quebra e minha mãe grita de dor pelo seu corpo sendo queimado por inteiro.

A dor que sinto se mistura pelo pavor, e logo abro a janela e finalmente saio daquele lugar.
Corri o mais rápido possível. Meu caderno estava protegido por debaixo do vestido.

Logo me choco com um homem vestido de farda. Um policial. Depois mais três viaturas e um caminhão de bombeiro.
Pela primeira vez, me senti segura e protegida. Até que:

- É ela. Podem levar e prendam na ala 7.

Presa? O mundo desabou...

Vida de PlásticoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora