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Quando a porta do meu quarto de abriu, vi quem não esperava ver. Meu pai me olha com ternura nos olhos e sorrindo de lado. Me afasta do conforto do meu urso e me abraça.

- Está tudo bem, minha querida. Tudo bem.

Não sei, porque para mim tudo estava certo. Ao não ser pelo fato da minha mãe ser incontrolada com a bebida e de termos uma vida meio conturbada, não tinha muito do que se questionar.

Meu pai e eu brincamos por incríveis duas horas com aqueles velhos brinquedos que nem lembrava mais. Já que o resto do meu tempo sempre serviu para escrever o que havia por aí.
Mas foi legal brincar de bonecas com ele. Apesar de a cada meia hora, seu celular tocava e ele falava com os seus representantes em outras localidades.

Quando houve a última ligação, meu deu um beijo na testa e foi embora, fechando a porta atrás de si.

Não entendi porque, e nem mesmo como, mas logo todas as minhas bonecas estavam espalhadas e algumas até sem a cabeça.

A raiva que senti por ser abandonada.

Mas sempre soube que o trabalho sempre foi mais importante. Sempre era uma prioridade sobre a própria filha.
Quando tínhamos  um concerto no colégio, algum evento ou comemoração, eu ficava de fora, pois meus pais não vinham me ver.
Se fosse uma dança, peça de teatro ou um simples coral, não fazia absolutamente nada. Porque não tinha ninguém para me ver.

Grant não teve esse problema. Nossos pais sempre iam e faziam questão de se sentarem na frente.

Isso não me deixa com inveja, só me deixa questionadora e confusa. Por que eles sempre iam na de Grant e quando era a minha vez, eles se faziam de esquecidos e sempre se desculpavam com um simples presente?
Isso não adianta, mesmo que eu não faça nada para mudar também...

...

A questão é que minha mãe está mais louca a cada dia que passa. E me sinto cada vez mais longe dela. É meio difícil.
O que foi diferente foi o meu pai estar cada vez mais próximo. Até mesmo mais que meu irmão. Isso é com certeza uma surpresa. Nunca tivemos uma relação além dos clássicos e óbvios "Bom dia", "Até logo", "Boa noite". Se bem, que boa noite não é frequente, já que ele sempre tem algum compromisso. E, não contem a minha mãe, mas esses compromissos são a maioria com mulheres que ele conheceu naquele mesmo dia.

Não sei se ela sabe mesmo, não sei se conto... Só sei que minha família é totalmente fora dos padrões, e me da nojo de tanta hipocrisia por parte deles.
Por culpa da infidelidade do meu pai, minha mãe enlouqueceu com bebidas. Mas o que mais me pergunto, é o por que do meu pai trair minha mãe. O por quê dele se casar com ela e ter filhos com ela. O por quê dele ter uma parte da culpa de nossa vida ser de plástico?

Vida de PlásticoWhere stories live. Discover now