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Por todos aqueles corredores brancos cheirando a limpeza excessiva, se ouvia o choro de uma criança. Uma linda garotinha, branca como a neve, acabara de nascer. Os médicos cuidavam como se fosse uma pedra preciosa. Sua mãe, cansada, só fechou os olhos.
Seu pai estava inquieto do lado de fora, com o cigarro na mão e seu terno da mais alta costura, enquanto seu irmão brincava escondido com os pacotes de soro fisiológico.

Um dia depois, Melanie Renald estava sendo apresentada para a civilização. Com um lindo vestido cor de rosa e um laço cobrindo a cabeça. Todos aplaudiam e sorriam. Havia balões e fitas rosas para todo lado. Todos estavam ali para prestigiar a nova filha da família mais poderosa de Daysewood.

Frank Renald acenava, com seu cigarro pendurado na boca. Sempre sorrindo. É com o carisma que ganhava seus votos. Sua esposa, Madalena, com seus belos trajes em tons pastéis e suas jóias caríssimas. Seus labios vermelhos, em um meio sorriso, mostrando sua felicidade falsamente.
Em seus braços estava Melanie. E ao seu lado, estava o lindo Grant. Suas roupas bem passadas, seu cabelo mergulhado em gel e seu sorriso cínico.

Nunca tente entender essa familia. Se um dia não estiver mais cego pelo dinheiro e pela beleza de suas coisas, irá enlouquecer com tanta hipocrisia e cinismo.

Mas também, não os culpe. Estão em uma situação desconfortável que a elite passa. Sempre se mantendo perfeitos e felizes. Sempre agradando e sorrindo. Sempre sendo cínicos e fingidos.
É assim que funciona essa família.
Te hipnotizam para que goste deles. Fingem serem amorosos um com os outros e de serem os mais felizes.

Pelo menos, até agora foi assim.

Melanie era apenas um bebê, mas já parecia mais esperta que seus pais e seu irmão juntos.
No seu aniversário de cinco anos, ela acordou exatamente as seis da manhã. Pensava ela que era o horário perfeito para se acordar.
Se arrastou até o chão, pegou a roupa separada pela mãe para seu aniversário e foi até o quarto dos pais.
Ela viu a sua mãe com o rosto inchado de choro e maquiagem toda borrada. Bebia alguma coisa que Melanie ainda não sabia o que era.
Sua mãe não a viu, então ela saiu da porta do quarto e se virou pra escada. Viu o seu pai subindo com a roupa de trabalho e uma pasta, mas a essência que ficou no ar foi de perfume de mulher.
Ele passou por Melanie e foi pro banheiro.
Sua mãe chorou mais alto e desceu as escadas. Agora um pouco mais arrumada.

Melanie não entendeu a situação, mas sabia que boa não era. Sentiu vergonha, sem saber porque.
Voltou ao seu quarto e agarrou seu gigante urso de pelúcia. Ela se prendia em seus braços como se ele a abraçasse. Ela era tão pequena que se escondia quando fazia isso. Se sentia protegida e longe de todo mal. Todo mal que encontrava ao seu redor.

Ao meio dia, sua mãe a arrumou pra sua grande festa de aniversário. Todos os anos, essa família faz as festas mais extravagantes. E agora o aniversário da Melanie virou mais uma data importante.
Tinha um grande salão, tão grande que demorava um pouco pra chegar ao outro lado. Os adultos ficavam em uma ala separada no salão, com mesas decoradas, e onde se serviam de uísque ou chás gelados. As crianças estavam sendo entretidas por um palhaço e um mágico. A maioria se divertia, mas para Melanie aquilo a assustava. Ficou o tempo escondida atrás de uma das mesas. Entre as frestas do tecido da mesa ela conseguia ver Grant e seus amigos rindo e conversando com umas garotas, filhas de grandes banqueiros e parceiro de seu pai. Melanie viu quando, secretamente, uma das garotas passou uma caixa para Grant. Não deu pra ler, mas ele sorriu e a beijou no rosto.
Sabia que ela era Annelisse Royal, filha do banqueiro mais poderoso da cidade. Sempre estava acompanhado seu pai nas reuniões, principalmente na casa da Melanie. Só uma desculpa para ver Grant. Sempre conseguia fugir para o quarto dele. Loira, olhos cinzas, vestidos brancos e nada conservadores. Apenas com 13 anos e parecia uma mulher, como sua mãe.

Melanie não entendia porque aqueles risos, conversas, aquelas roupas... Tudo estava incomodando.
No fundo ela sabia. Sabia bem o que havia de errado.

"É tudo fingimento."

Vida de PlásticoWhere stories live. Discover now