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Melanie nem parou para pensar quando resolveu descer as escadas.
Foi algo como mágica, um tanto chamativo. Pode-se chamar o "canto da sereia".
Estava tudo calmo. Mas algo era desconfortável.
Melanie sentia um certo tremor em se virar, pois sentira que estava sendo observada. Que alguém estava ali, mas não sabia dizer exatamente se era real ou se era sua imaginação e temor falando mais alto.

No último degrau, ela parou. Fechou os olhos e tentou se acordar com um aperto no seu braço esquerdo. Doeu muito.
Mas não foi pior que a dor que ela sentiu ao ver um lençol branco no chão com manchas vermelhas.
Já devia imaginar, mas para ter certeza, se aproximou e olhou por baixo.

Ali se encontrava os corpos ensanguentados de seu pai e de uma mulher desconhecida.
Melanie quase gritou de pavor, se sua garganta não estivesse presa pelo susto.
Os pulsos deles estavam entrelaçados em uma corda, o local do sangue sugeria que morreram por facadas, seus olhos estavam cobertos por faixas, mas pelos rostos molhados, sabia que haviam chorado. Torturados.

Melanie tentou imaginar.
"O que aconteceu aqui? Não pode ter sido um ladrão, conhecia bem a casa... Preciso sair daqui..."
Mas antes que pudesse avisar a suas pernas para se levantar e sair correndo, foi sufocada por um pano branco e uma mão com unhas bem feitas e brancas.
Seu desmaio foi inevitável. Sua respiração diminuiu, seu corpo relaxou nos braços da dona das belas mãos e foi arrastado escadas acima.

"Estou vendo mamãe e papai, e Grant também. Todos bem vestidos. Todos bem perfumados. Estávamos no parque central, em um lindo piquenique. Grant jogava bola com papai. Eu e mamãe tomávamos deliciosos sucos de framboesa. O vento batia levemente em meu rosto, enquanto o sol estava agradabilíssimo em minha pele. Meus cabelos estavam soltos nesse dia. Com os cachos levemente amassados e decorados com fitas brancas e rosas. Aquele ar de liberdade e alegria tomaram conta de mim. Não podia me sentir melhor.
Mas logo a toalha do piquenique se tornou um chão frio. Não ventava mais, e o sol, desapareceu. A claridade vinha de uma lâmpada. Só havia eu, de camisa de força, naquela sala fria e tenebrosa. Me levantei e tentei abrir a porta. Mas meus braços estavam presos e estava tonta da recente e brusca mudança de ambiente. Deitei no chão e fechei os olhos. Ao abrir, vi meu pai, minha mãe e Grant olhando para mim por cima. Sorriam maliciosamente, com ar de algo ruim está prestes a acontecer. Soltaram a camisa de força, mas pegaram-me com força pelos pulsos e pelos tornozelos. Eu me debatia, gritava. Estava apavorada. Tudo que queria era fugir desses loucos. Quando puxaram com força mais uma vez, respirei fundo e me senti como se tivesse afogado.
...
Me libertei do transe. Notei que estava presa pelos pulsos e pelos tornozelos na minha cama por cordas. Estava escuro. As únicas luzes eram da rua que entravam pela janela. Senti medo. Tentei me soltar, mas em vão.
Logo, ouvi passos e me calei completamente. A porta abriu, e aquela mesma mão apareceu na maçaneta.

O rosto da minha mãe aparece sorridente..."

Vida de PlásticoWhere stories live. Discover now