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A nossa vida durou assim por mais alguns anos. Passaram-se muitos aniversários, muitas festas políticas, muitos encontros para chás da tarde, nascimentos de novos membros das famílias de Daysewood... Mas principalmente, na casa onde permaneço, continua a mesma coisa. Meu pai saindo com outras mulheres, minha mãe bebendo, meu irmão tendo encontros estranhos e dependendo de coisas péssimas para sua saúde, mas que por alguma razão ele os consome.
Tenho 14 anos agora. Passou-se o tempo tão rapidamente, que até esqueci como eu pensava antes. Como eu imaginava as coisas. Meu diário continua o meu maior tesouro, e meu único amigo. A única coisa que posso contar para não enlouquecer nessa casa.

Continuo, todas as noites, olhando pela janela. Sempre vejo meu pai chegando com um carro.
Mas nessa exata noite, foi diferente. Ele estava com uma mulher vestida com um casaco de pele branco, saltos agulha, vestido vermelho tão curto, que pensei que fosse uma simples camisa justa no seu corpo. Seu cabelo era curto e loiro, e os dois cambaleavam de um lado para o outro, até que chegaram na porta de entrada.
Imaginei o que estariam fazendo ali. Abri a porta e fui até o quarto da minha mãe. Infelizmente, ou felizmente, ela não estava.

Não sei exatamente como eu pensei em voltar pro quarto. Coloquei meu pijama, um vestido azul de manga bem solto, um lenço prendendo meu cabelo e um sapato branco. Deitei, fechei os olhos e tentei me imaginar fora daquele local.

Esse momento durou exatamente cinco minutos.
Logo fui acordada com o som da minha mãe subindo as escadas. Imagino ser ela, pelos quase inaudíveis resmungos. Ouvi a porta fechar.

Me senti tão estranha. Tão preocupada de repente. Quase me assustei com esse sentimento.
E assim, eu decidi descer as escadas.

...

Vida de PlásticoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora