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— Como é? F-filho? — questiono em choque e ela assente — como assim, Zil?

— ele me engravidou, cinco meses, é um menino lindo, parece com nós, os olhos azuis um pouco escuro parecem mais com você na verdade. Irônico — sorri ao pensar no filho — no começo odiei a ideia, mas me apaixonei assim que vi seus olhinhos...mas não posso deixar com ele, mais um de nós a sofrer em suas mãos, ele adora alisa-lo no banho, tocar intimamente — sinto a dor de saber que mais um inocente foi arrastado para isso. Ela desce da pia se ajoelhando em minha frente — Hayden, eu preciso da sua ajuda, eu ficarei, eu irei ficar no lugar de nós dois sem pestanejar, ele quer impedir você de ir para o Canadá, lhe dopar e prender no porão, disse que nos deixaria juntos enfim, mas não quero, quero que vocês fujam, pegue meu filho e suma. Eu distraio...por favor — implora e eu balanço a cabeça em negação.

— mas e você Zil? não pode ficar, não vou deixar você — ela chora sem forças, puxo-a para meu colo — vamos dar um jeito, vamos fugir nós três. O que acha? — ela soluça, totalmente desesperada e esgotada de tudo isso.

Ela passou a vida toda com ele, meu inferno era durante um mês no ano, o dela era todos os dias e ainda tem um filho. Meu Deus, eu tenho um sobrinho, uma irmã gêmea e outra pessoa que nem sabemos o sexo. Porra.

Meu peito dispara, eu não sei o que fazer, muito coisa para entender, mas a única coisa que eu já tenho certeza é de que não vou deixar minha irmã e nem meu sobrinho com aquele desgraçado.

— você virá comigo, ok? — digo acariciando os cabelos negros assim como os meus, ela ergue o rosto me olhando nos olhos, chorando.

— como iremos fazer então Hay? Ele não vai simplesmente aceitar eu pegar meu filho e dar uma volta — cerro o maxilar acariciando seu rosto. Não pensei nisso ainda.

— ainda não sei, mas vou fazer o que eu deveria ter feito muito antes por você irmãzinha, irei tirar vocês de lá. O que acha de conhecer o Canadá, em? — digo e ela limpa o rosto, tentando se acalmar, me dando um sorriso lindo, escondendo sua dor, assim como eu, se permitindo cair de cabeça em uma fantasia que esperamos realizar.

— acho incrível, já foi para lá? — assinto e seus olhos brilham — como é?

Penso um pouco, me recordando.

— frio — digo e ela ri fungando o nariz — neve para todo lado, as cidades são mais bonitas do que aqui em minha opinião, tem um chocolate quente maravilhoso também. Posso te levar para tomar um, gosta? — seu sorriso se alarga e ela me abraça animadíssima. Não contenho um sorriso...coisa que não faço há anos. Tudo bem, não é todo dia que se descobre uma irmã. Ou melhor, duas.

— eu amo chocolate quente, dizem que chocolate quente com torrada recheada de pasta de amendoim é bom, mas...— sorri de canto. Ela também é alérgica — quase morri — frustração em seu tom, mas ela me olha sorrindo — ri não, você não sabe como é ficar parecendo um pimentão, quase falecendo por causa de um maldito amendoim.

— ah, sei sim, também tenho. Descobri da pior maneira — confesso e ela ri, acenando em um vai ter que contar, se virando e colando as costas em meu peito, abraçada ao meu braço, brincando com minha mão — eu nem sei como descobri que tinha alergia a cenoura porque mamãe diz que foi quando era muito pequeno — declaro e ela fica em silêncio ouvindo a história — aí eu estava com meus melhores amigos, depois de um treino cansativo, tínhamos 14. A mãe de Spenser fez bolo de cenoura que ele ama e um de chocolate só por causa minha, sabia que tenho alergia. Então subimos para tomar café, ele tem uma quadra em sua casa, ganhou de presente dos pais aos 13 anos, parecia que a reforma não acabava nunca, a ansiedade era enorme em todos nós, já na nossa casa nem meu pai, nem o de Kai deixava fazer, mesmo que depois os convencemos. Só que você sabe como são os jogos, corre de lá para cá e eu sempre quase morria, mesmo que minha asma não seja tão ruim — ela me olha e eu sorri de canto — é, eu tenho asma. Mas não sou tão frágil quanto aquelas pessoas que se correr dois metros está morrendo.

Silênt nigth Where stories live. Discover now