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Me encolho abraçando meu corpo, sentindo meu peito arder em uma imensa falta de ar. A vergonha, raiva e nojo de mim me corrói, isso dói, dói muito ver seu olhar nojento em minha cabeça, não consigo não vê-lo em seu lugar. Eu deveria ter deixado-o me tocar, ele me acha uma aberração, deveria ser simples para mim fazer algo tão normal.

Soluço e estremeço.

" silêncio Aquira, boas meninas não gritam, papai cuidará de você "

A frase nojenta ronda minha mente, me sufoca, me dá raiva, pais não deveriam fazer isso, principalmente um pastor. Eu estou suja, muito suja, é culpa minha.

Ouço passos do lado de fora. Ele vai gritar comigo, me xingar por não ter feito o que ele quer.

Ouço a porta ser forçada um pouco, como se algo ali acabasse de escorar, ele se sentou, do outro lado, apenas ficando em silêncio, não consigo parar o choro, sentindo a vergonha de mim mesma queimar em minha pele.

Choro por longos minutos, até sentir como que as lágrimas nem são mais capazes de ser fabricadas. Inclino a cabeça para trás, respirando rápido e com dificuldade.

— respira pelo nariz e solta pela boca! — diz e eu tento, mas meu peito está muito acelerado — repete comigo: respira — inalamos juntos — solta lentamente — soltamos devagar. Sinto meu peito arder — repete princesa — diz e eu faço isso mais cinco vezes, acalmando meus batimentos cardíacos.

— D-desculpa — peço e ouço um suspiro, não irritado, pelo contrário, calmo.

— não peça desculpas, você tem seu tempo raio de sol — diz calmamente — você foi muito bem, sabia? — Franzo o nariz — decidiu tentar, isso foi corajoso, demorei um tempão para permitir que  alguém me tocasse — diz tranquilo e eu permaneço em silêncio escutando, sua voz me acalma — odiava abraços, não podia nem sonhar que alguém encostaria em mim. Sempre eu quem tocava nos outros, ninguém nunca em mim, sei o quanto é difícil, não vou te julgar, meu bem.

Sinto uma pontada de felicidade por ele não me odiar por isso.

— O...que fez? — questiono curiosa.

Ouço um suspiro risonho.

— não vou admitir isso — diz e eu encaro a porta tendo a ideia dele encostado nela — você se acharia muito — brinca e eu sorri secando o rosto, fungando o nariz.

— me deixou te abraçar, por quê? — questiono — eu era só uma desconhecida na época, tecnicamente ainda sou.

Ele suspira.

— não faço a mínima ideia, mas amei você desde o primeiro segundo minha pequena. Não me importo com o quão quebrada você está, juntarei seus cacos e lhe montarei novamente, melhor do que jamais foi — sinto meu coração bater mais forte dentro do peito, enchendo meus olhos novamente, mas por motivos diferentes agora.

E-ele me ama?

— não importa quantas vezes você sentir medo, eu vou estar com você, se cair eu vou te levantar, te beijar e abraçar quando sentir sozinha. Eu quero tudo de você meu bem, assim como te entregarei tudo de mim. Me deixa entrar princesa, quero apenas ficar ao seu lado, deixa? — pede em súplica — apenas abra a porta para mim.

Olho para a porta incerta se devo, mas sinto algo dentro de mim pesar como se nunca tivesse sido despertado, pode ser uma mentira, mas será a minha verdade, ele, só ele pode.

Destranco a porta, voltando para o chão abraçada aos meu joelhos, ele entra e senta ao meu lado, me puxa para seu colo e me abraça, fazendo-me cair em lágrimas novamente, abraçando seu corpo firmemente, achando algo naquele pequeno ato comum inexplicavelmente bom.

Silênt nigth Where stories live. Discover now