Alea

XIV Gemini

Jimin conferiu o céu pela janela da sala de casa, ganhou distração para uma aula online pouco interessante. Aquelas nuvens tinham algo em especial, registrou uma foto, minutos depois mais uma e mais outra.

Juntas, as cumulus e nimbus encenavam uma corrida de animais em suas diversas formas, lembrou da infância e a preciosidade de tempo investido com o seu melhor melhor-amigo ao adivinhar os formatos.

Criou um gif com as imagens, sem filtro ou efeitos, enviou para Yoongi com um emoji de sorriso na legenda. Recebeu um coração roxo como resposta. Mentes diferentes e completantes em corações sincronizados.

Relações fidedignas, irmãos por laços de afinidade ou genético. O vínculo fraterno moldado em torno de uma construção psíquica firmado em moldes sólidos de cumplicidade, podendo ser a relação mais longa entre dois indivíduos durante a vida.

Tantas diferenças também moldavam o convívio entre os inseparáveis gêmeos Pólux e Castor, o primeiro era imortal por ser filho do próprio Zeus; o segundo, mortal, não dividia com o irmão a paternidade. Um guerreiro; um cavaleiro. Quando Castor desencarnou para viver no reino de Hades, seu gêmeo implorou ao pai que o fizessem desfrutar da mesma história eternamente, e assim, o deus mais influente do Olimpo, criou a constelação de Gêmeos.

Pólux, a primeira estrela mais brilhante de Gemini;

Castor, a segunda estrela mais brilhante de Gemini;

Juntos, constantes, imortais e permanentes.

A fraternidade impressa no celeste do universo visto da terra, auxiliando os navegantes num prenúncio tecnológico. A equidade da divergência fraternal eternizada em estrelas. Relações intocáveis, impenetráveis, mútua, solar.

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A casa de Yoongi ganhou vida desde que Park se fez morador, o singular ganhou par. O sorriso de áurea leve, divertida e juvenil preenchia o ambiente. A permanência do primo de volta à capital trouxe ao seu espaço flores em cores, som de TV, música alta, amigos e amigos de amigos, aroma e vida. Até ontem era só em uma residência espaçosa, agora são quatro em um lar confortável.

Jimin ainda estava conectado com a Universidade quando percebeu o semblante incomodado de Yoongi, havia dias que queria um tempo a sós com o familiar, seu coração dizia que algo teria acontecido desde o encontro com Jungkook na casa do Namjoon.

Min entrou em silêncio, tentou não fazer barulho e servir de incômodo aos estudos de Park, que estava ali propositalmente aguardando a oportunidade que surgiu.

— Felino, tá tudo bem? — Fechou o notebook, tirou os fones de ouvido e foi profundo no olhar de leitura que deixou no primo. Empurrou a cadeira ao seu lado em convite silencioso para que se acomodasse.

— Cadê o Tae?

— Foi para a galeria receber umas obras, pediu para te avisar que passaria em casa antes de retornar para pegar algumas coisas. — Min sorriu mirando um ponto aleatório, estava feliz por Tae estar feliz ao seu lado. Orgulhoso do que construíam.

A pergunta deixou Jimin ainda mais curioso — E então, vai tirar a cara de bobo e me responder ou vou ter que fazer um drama antes?

— Vocês são mesmo soulmates, sabia? Gêmeos. Almas siamesas.

— Não foge da pergunta, tá me deixando mais preocupado.

— Eu encontrei o Hoseok na casa do Nam.

Uma pausa duradoura, um olhar ainda perdido na parede branca, uma expressão que não dizia muito e aquele nó na mente de Min apertava no coração de Park.