X Anátema de Oizus

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Foram dias incríveis até se tornarem normais.

Não é assim com a ocasionalidade das situações?

A rotina e a normalidade são especiais até que se tornem a repetição pragmática e até cansativa dos atos?

Quando Hefesto, feio e manco, teve aceitação do casamento com Afrodite, se sentiu especial. Suas intercessões aos artesãos e a magnitude de moldar o ferro como o próprio Ogum, graças ao calor latente das mãos, estavam lateralmente na realidade comum e repetitiva. Foram dias incríveis ao lado da deusa do amor e da beleza mais conhecida de toda mitologia, até que Afrodite o traiu algumas vezes e então passou a não ser mais.

Tudo é até que não seja.

Doze semanas conhecendo alguém que se torna inerente à sua realidade. Doze semanas de três minguantes gibosas, 84 dias onde a magia da descoberta ainda reinava como em um conto de fadas real e cor de rosa. O novo casal vivenciava experiências novas, encontrando suporte num relacionamento tranquilo, longe de amarras, longe de abusos, num passado completamente respeitado, um presente adorável e um futuro vislumbrado.

Tudo funcionava com a naturalidade de almas compostas por memórias escritas e quase destinadas a ficar juntas, quase porque o arbítrio é livre, as escolhas são singulares e equivalentes à colheita individual, mesmo que estejam em pares.

Jeon sentia a necessidade de Park a cada milésimo de segundo consciente. Park sentia a necessidade de ser necessário e assim formavam seus encaixes perfeitos, arremetidos de doses espetaculares de sensações únicas que só as conexões genuínas são capazes de experimentar.

O palato da reciprocidade de sentimentos.

Jimin ansiava por um momento em que Alea aparecesse novamente para si do mesmo modo que ocorreu da primeira vez: tocável, visual, quase humana. Não percebia que ela estava sempre presente em cada flash de memória que o acometia, em cada conselho lembrado. A energia viva e hodierna da deusa que nutriu a amizade dos dados da própria existência a vida de Park Jimin.

— Queria que ela aparecesse para você vê-la dessa vez, é apaixonante, linda e incomparável.

Explicava Park ainda deitado na cama do namorado, desenhando círculos imaginários no tórax alheio, numa manhã de sábado, depois de toda uma semana de trabalho, faculdade, obra na Seven, estavam apenas se curtindo com as bênçãos da titânide Têmis, que levava fluidez a ordem natural dos acontecimentos de um casal apaixonado, atolados em Inana, em Eros, em Diana, em Harmonia.

Jimin se sentia especial, não apenas por ter Jungkook, mas por ter Alea, Jungkook era consequência do afeto de Alea, ele jamais teria a coragem sozinho de tomar alguma iniciativa e Jungkook, bem, Jungkook muito menos. O destino é isso mesmo que está escrito ou são essas linhas que você preenche agora?

Por ter Temis, traziam consequentemente a sua criação, ninguém é o que é se os anteriores não tivessem sido quem foram e aí se mantém um núcleo de um ciclo Fibonacci de decisões oraculares. Temis e Nemesis retribuem a criação das Moiras e por isso tinham em suas mãos o destino dos homens e até dos deuses transgressores, zelando pelo equilíbrio e solidez, bem como o relacionamento dos apaixonados.

— Desde que ela não venha como Eros eu aceito a visita — Recordou o susto, hoje hilário.

Jimin estava decidido que arrumaria uma maneira de trazer Alea até ele novamente, por isso passou boa parte da manhã naquela cozinha preparando os doces tão elogiados pela deusa.

— E se a gente levasse no mesmo lugar que a encontramos da primeira vez?

— Podemos tentar, mas algo me diz que ela não quer me ver.

AleaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon