II Dulcia Deorum

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Alea sentou na toalha clara que Jimin forrou a grama, pegou um frasco esverdeado, abriu, cheirou e fechou os olhos, curtindo o aroma.

— Você gostou? Eu não sabia se ficaria bom, mas eu mesmo fiz com álcool de cereais, essências de alfazema e flores brancas, eu misturei até que ficasse bom o suficiente, Yoongi disse que parecia desinfetante, mas eu achei bom e... — As palavras voavam de sua boca, seu corpo mantinha a mesma posição, suas mãos juntas unidas próximas à face, os olhos arregalados até que foi interrompido.

— Eu nunca senti um aroma tão agradável, Park.

— Sério? Você sabe mesmo o meu nome? Eu sabia que você existia, mas não sabia que era tão linda.

Alea sorriu com o pratinho de doces e provou, se deleitando - Eu sou como você me vê Park. Como você me vê?

— Com beleza e luz suave.

— Interessante, todos que tiveram a oportunidade de me descrever fizeram isso fisicamente, você enxerga além e isso é um tanto curioso. Cá estou eu, aceitando suas flores, seu perfume, seus divinos doces, nunca recebi doce antes, isso foi uma dose de sorte para mim. Venha, sente-se aqui. — Alea afastou a cesta com pedras e enfeites, dando espaço para o menor sentar de frente para si, ainda trêmulo e embasbacado. A deusa segurou suas mãos geladas e riu baixinho. — Acalme-se, querido, eu sou uma boa jogadora, não vou te fazer nenhum mal.

Alea continuou provando cada doce como se desfrutasse do elixir divino nunca experimentado, entre uma degustação e outra tecia as pedras e conchas alternadas como magia em enfeites para o pescoço e os longos cabelos, se divertia com tudo que estava posto para si e arrumava utilidade em cada uma delas — Veja Jimin, não ficou lindo? — Mostrou uma pulseira feita de conchinhas diante dos seus olhos.

— Sim, sim, ficou incrível.

Pegou um dado amarelo de material similar à pelúcia — Sabe por que me dão dados?

— Por conta do jogo da vida?

— Não exatamente. Me oferecem dados porque o ser humano terreno acredita muito em sorte, destino e afins, se deu certo foi sorte, se deu errado foi falta dela, muitos não levam em conta os próprios atos, entende? Sorte é uma maneira de responsabilizar o acaso. A vida não é um jogo, é aprendizado sequencial de evolução, há quem acredite, há quem não; há quem esmere e há quem não; há quem mereça e há quem não. — Jogou o dado para cima, alto suficiente para não ser mais visto — Quando recebi a incumbência de zelar pela vida dos humanos terrenos passei muito tempo avaliando suas atitudes, a maneira que vocês veem o mundo e se comportam diante dos seus e acredite, eu quis desistir — Mais um irresistível doce em formato de coração foi apreciado.

— Por quê?

—Vocês são cruéis, são egoístas e mesquinhos, então como eu poderia manter minha energia ativa diante da oração humana sem ser esquecida ou deixada de lado? Foi aí que comecei a brincar com vocês como vocês brincam com a vida. Eu usei os dados e fiz disso um jogo, somos uma aposta, nós dois, vocês e eu, vocês me agradam e emitem luz em orações e em troca eu ofereço alguns prazeres, por isso ainda sou tão cultuada por aqui, Jimin. É pelo interesse do que o homem pode conquistar com a minha intercessão e não por gratidão ou por bênçãos, compreende?

— Infelizmente, sim, peço desculpas em nome daqueles que te desagradou, Alea — a reverenciou.

— Não se desculpe, eu fiz um acordo com o Universo e foi aceito, agora preciso seguir com o trato. Antes de continuar, saiba que a deusa Alea é grata pela sua oferenda, nunca fui tão agraciada com um ato humano — riu contido enquanto alisava a face do garoto à sua frente. Jimin sentiu um arrepio percorrer todo o corpo e uma sensação de leveza e bem-estar o fez fechar os olhos para aproveitar mais daquilo. — Agora eu preciso seguir com o meu destino, então Jimin, onde quer a sorte da vida como retribuição aos presentes dedicados?

AleaWhere stories live. Discover now