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S/n

Na manhã seguinte, Billie trouxe Lea até minha casa. Quando as duas chegaram, Lea parecia bem animada, Billie se aproxima me entregando a mochila com coisas que Lea pode precisar durante o dia, enquanto a pequena se distraiu com uma borboleta passando em meu jardim.

-- Mami, hoje vamos passar o dia juntas aqui na sua casa. A mamãe vai trabalhar -- Lea fala vindo correndo ate mim -- Sua casa é grandona

Ao olhar para tras de Billie, vejo um carro preto parando ali. Logo reconheço quem é... Meu pai desce do carro sozinho e vem até mim e Lea

-- Achei que ja tivessemos conversado o suficiente ontem -- falo pegando Lea em meus braços, querendo proteger ela de qualquer coisa que pudesse vir

-- Na frente da criança não -- papai fala firme. Billie me encara desconfiada e claramente desconfortável com a situação.

-- Se preferir posso leva-la para minha mãe, S/a... -- Billie fala e eu nego

-- Pode ficar despreocupada habibi... Eu vou cuidar da pequena, e Youssef, seja la o que for que ele queira, ele vai deixar para depois -- falo firme e a mulher concorda com a cabeça se afastando. Eu peço que meu motorista leve Billie para seu trabalho, em seguida entro para a minha casa.

Meu pai entrou junto a mim, Lea olhava para ele curiosa, mas quieta ao perceber a tensão entre nós dois.

-- Ela é a pequena Lea?-- Papai pergunta olhando-a de longe

Eu assenti, mantendo Lea segura nos meus braços, um pouco receosa sobre como meu pai reagiria ao conhecê-la.

-- Sim, essa é a Lea.

Meu pai pareceu suavizar um pouco sua postura ao ouvir a confirmação, seus olhos analisando a menina com uma curiosidade que beirava o afeto.

-- Ela é muito bonita, S/n. Se parece muito com a mãe dela... Mas ela tem muito de você também

-- Obrigada -- respondi, permitindo-me sentir um fio de esperança de que talvez pudéssemos encontrar algum entendimento. Lea, percebendo o olhar de meu pai, esboçou um pequeno sorriso tímido e acenou para ele.

Meu pai acenou de volta, um gesto hesitante, mas visivelmente emocionado. Ele então se voltou para mim, seu olhar mais sério.

-- Eu... eu queria falar sobre ontem. Sei que as coisas ficaram tensas, e sua mãe... Bem, ela tem suas convicções.-- Parecia estar buscando as palavras certas, lutando entre suas próprias convicções e o desejo de se conectar comigo. -- Eu não concordo totalmente com suas escolhas, S/n, mas começando a ver que você está feliz. E isso é o que deveria importar para nós... E você esta arcando com suas responsabilidades também...

Eu estava surpresa, não esperava que ele desse esse passo em direção a entender minha vida. 

-- Baba, isso significa muito para mim. Quero que você faça parte da minha vida, e da vida da Lea também... Mas sem  interferir e desrespeitar

Ele assentiu, seu olhar desviando brevemente para Lea novamente.

-- Eu gostaria disso. Gostaria de tentar.-- Ele fez uma pausa, claramente ponderando suas próximas palavras. -- Talvez... talvez eu possa aprender a aceitar as coisas como são, não como eu acho que deveriam ser.

Lea, sentindo a conversa amainar um pouco, deitou sua cabeça em meu ombro, fazendo um carinho suave em minha bochecha.

-- Mami... Ele é seu papai? -- Ela pergunta baixinho, como se estivesse com vergonha que meu pai escutasse a sua voz

-- Sim... Ele é meu papai...-- Falo no mesmo tom que ela, a pequena olha para ele como se analisasse se deveria ou não falar com ele

-- Qual é o seu nominho?-- Ela pergunta tímida, quase escondendo-se contra mim

-- Me chamo Youssef... Eu gostaria muito de te conhecer âmari -- meu pai diz e a pequena lhe encara um pouco confusa

-- O que significa isso? Âmari... -- Ela pergunta erguendo sua cabeça, a timidez sumindo pouco a pouco de seu corpo

Meu pai sorriu ao perceber o interesse de Lea pela palavra nova.

-- Âmari significa 'minha luz' em nossa língua. É um jeito carinhoso de chamar alguém que é muito especial para você -- ele explicou, sua voz suave e calorosa.

Lea pareceu encantada com a explicação e olhou para mim, depois para meu pai, como se colocasse as peças de um quebra-cabeça no lugar.

-- Eu posso te chamar de Vovô Youssef, então? -- A inocência e sinceridade em sua voz eram palpáveis.

Meu pai olhou para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de alegria e talvez um pouco de surpresa. Ele então se voltou para Lea, assentindo com entusiasmo.

-- Claro que pode, âmari. Eu ficaria muito honrado.

-- Então está combinado, Vovô Youssef! -- ela disse com um sorriso radiante. -- Você gosta de aranhas? Eu tenho uma aranha de estimação...

-- Uma aranha de estimação? É um bixinho bem diferente para se ter de estimação... Eu não conheço muito sobre aranhas. Mas eu tive um lagarto quando mais novo. Você gosta de lagartos? -- Papai responde

Lea fez uma careta engraçada ao ouvir sobre o lagarto.

-- Lagartos são legais, mas eu gosto mais de aranhas. Elas fazem teias e isso é muito legal!-- Ela estava claramente animada ao falar sobre seu animal de estimação, e seu entusiasmo parecia contagiar até mesmo meu pai.

-- É mesmo? Você terá que me mostrar como ela faz a teia um dia desses -- meu pai respondeu, um sorriso surgindo em seus lábios enquanto ele entrava no mundo de Lea, uma tentativa sincera de se conectar com ela em seus interesses.

-- Posso te mostrar um dia. O nome dela é Cools... Ela esta na minha casa e da mamãe Billie... Você conhece a minha mamãe Billie? Ela é tao linda e fofinha, sabia que ela tem olhinhos azuis beeeem lindos? -- a pequena começa a falar empolgada

Meu pai me lançou um olhar breve, um misto de curiosidade e cautela, mas ele logo voltou sua atenção para Lea, mostrando interesse genuíno.

-- Eu conheci sua mamãe Billie uma vez... Mas não eramos muito próximos... Gostaria de conhece-la, talvez possamos ser amigos, o que acha?"

A fala de meu pai tem um gigantesco peso para mim, pois sei de suas impressões iniciais sobre Billie

Lea parecia considerar a ideia com a seriedade que uma criança pode oferecer.

-- Acho que a mamãe Billie ia gostar disso -- ela disse, com um aceno confiante. -- Ela gosta de fazer novos amigos.

Observando a troca entre eles, senti um alívio profundo e uma ponta de orgulho pelo esforço que meu pai estava fazendo. A possibilidade de reconciliação, mesmo que tímida, parecia agora não apenas possível, mas provável.

-- Isso seria maravilhoso -- eu disse, voltando-me para meu pai. -- Billie realmente é uma pessoa incrível, e tenho certeza que, uma vez que vocês se conheçam melhor, você verá o porquê de ela ser tão especial para mim e para a Lea.

Meu pai assentiu, parecendo contemplar a ideia com uma nova perspectiva.

-- Eu estou aberto a isso, S/n. Acho que cometi o erro de julgar as coisas muito rapidamente antes.

A sinceridade em sua voz me tocava, e eu sabia que estávamos em um momento crucial, um ponto de virada para uma possível harmonia familiar.

-- Obrigada, baba. Isso significa muito para nós.

Lea, percebendo a atmosfera amigável, saltou do meu colo e segurou a mão de meu pai.

-- Vovô Youssef, você quer ver um desenho que eu fiz na escola? É uma aranha fazendo uma teia super grande!

-- Claro, Lea -- ele respondeu, permitindo-se ser guiado por ela. Observando-os caminhar juntos, um sentimento de paz se estabeleceu em mim, reforçando a ideia de que, às vezes, a família pode crescer e se curar de maneiras que nunca esperamos.

Acaso (Billie/You Gp)Where stories live. Discover now