S/n

Eu estava na sala de minha casa, quando chega uma notificação "quando podemos conversar e exclarecer tudo?" Era Billie.

A visão da mensagem de Billie ilumina meu rosto com uma mistura de ansiedade e alívio. Eu pauso por um momento, considerando minhas palavras cuidadosamente antes de responder.

"Qualquer hora que for conveniente para você. Estou livre esta noite, se isso funcionar."

Enviar aquela mensagem foi como soltar um longo suspiro que eu nem sabia que estava segurando. A possibilidade de esclarecer as coisas com Billie, de talvez começar a consertar o que foi quebrado, enche meu peito de uma esperança cautelosa.

Eu me afundo no sofá, meu olhar perdido na tela do celular, esperando ansiosamente por uma resposta. Cada minuto que passa sem resposta parece uma eternidade, mas finalmente, o celular vibra.

"Esta noite está bom. Às 19h no parque onde nos conhecemos?"

Meu coração dispara. O parque onde nos conhecemos. Um lugar que carrega tantas memórias, tanto do início quanto do fim de nossa história. É simbólico, e eu não posso evitar a sensação de que essa escolha não foi acidental.

"Estarei lá" respondo, um misto de nervosismo e determinação se instalando em mim.

Nos momentos que se seguem, enquanto me preparo para este encontro, sinto-me como se estivesse me preparando para um momento decisivo. Esta não é apenas uma conversa para esclarecer mal-entendidos; é uma chance para reconectar, para mostrar a Billie que eu mudei, que eu posso ser a mãe e talvez mais que Lea merece.

Ao sair de casa, uma sensação de propósito firme me guia. Independentemente do que aconteça, estou determinada a fazer o que for preciso para estar presente na vida da minha filha, para provar a Billie e a mim mesma que o passado não define o futuro.

-- Onde esta a pequenina?-- Pergunto ao ver Billie sentada em um dos bancos do parque

-- Na casa de meus pais...-- Ela diz calmamente -- Estou te dando a chance de explicar exatamente tudo o que aconteceu... Sem joguinhos, sem mentiras...-- Concordo com a cabeça

-- Quando... Terminamos, baba me fez mudar meu numero, email, redes sociais e qualquer meio de contato que você pudesse ter comigo... Porque ele acreditava que seria o melhor para mim. Para evitar confusões eu o fiz... Mas vez ou outra entrava em meu antigo email, mas juro por tudo de mais sagrado que nunca chegou absolutamente nada seu lá... Talvez baba tenha apagado, ou realmente nunca tenha chego... --Começo a explicar

Billie me olha, um vislumbre de confusão e dor passando por seus olhos. Ela morde o lábio inferior, claramente processando as informações.

-- Você está me dizendo que seu pai controlava até suas mensagens? S/n, isso é... é insano.-- A voz dela é baixa, quase inacreditável.

-- Eu sei, e eu estava tão cega pela necessidade de... de aprovação deles, que não vi o quanto isso era errado. Não apenas por me afastar de você, mas por me afastar de uma parte de mim mesma. Eu sinto muito, Billie. Por tudo. Por não ter sido forte o suficiente naquele momento para ver o que estava acontecendo, por não ter lutado por nós, por nossa família.

Ela suspira, olhando para longe, para o parque que estava silencioso ao nosso redor, apenas o som ocasional de crianças brincando ao longe.

-- E sobre Lea? Você não a procurou... Por quê?-- A pergunta dela é direta, mas sua voz carrega um peso, uma mistura de curiosidade e mágoa.

-- Eu... Eu não sabia sobre Lea. Eu não consegui esquecer você nem se quer por um segundo durante esses anos... Minha aparição no restaurante de sua mãe, foi uma forma de... Saber como você estava... E quando vi ela... De alguma forma, algo dentro de mim me dizia que aquela garotinha tinha algum tipo de conexão comigo, e quando você disse que ela é minha filha... Eu não sei explicar... Tudo pareceu se encaixar perfeitamente dentro de mim

Billie absorve minhas palavras com uma quietude pensativa, seus olhos fixos em algo distante, talvez em memórias ou em considerações sobre o futuro. Então, ela direciona seu olhar para mim, uma intensidade nele que parece querer desvendar a verdade de cada palavra que eu disse.

-- É uma sensação estranha, não é?-- ela finalmente diz, sua voz suave, reflexiva. -- De repente, ter sua vida conectada de uma forma que você nunca esperou. Lea tem esse efeito nas pessoas. Ela... ela tem um jeito de completar partes de nós que nem sabíamos que estavam faltando.-- Ela faz uma pausa, como se estivesse ponderando suas próximas palavras cuidadosamente. -- S/n, eu vou ser honesta com você. Parte de mim quer correr, te manter afastada, proteger a Lea e a mim mesma de qualquer dor que possa vir disso tudo. Mas outra parte... outra parte reconhece que você tem direito de conhecer sua filha, e que talvez... talvez haja algo bom que possa vir dessa situação toda. Eu estou disposta a tentar, mas com cautela. Vai ser um processo lento. Precisamos construir confiança, estabelecer limites, como você disse. E quanto aos seus pais... -- Ela hesita, mordendo novamente o lábio. -- Eu não quero que eles sejam parte disso, pelo menos não agora. Precisamos fazer isso do nosso jeito, sem interferências.

-- Eu concordo, completamente -- respondo, sentindo uma onda de alívio e gratidão por ela estar disposta a me dar essa chance. -- Tudo o que eu quero é uma oportunidade para fazer as coisas certas desta vez. Por você, por Lea. No ritmo que for melhor para vocês duas.

Billie assente, um pequeno sorriso aparecendo em seus lábios, o primeiro vislumbre de esperança que eu vi desde que a conversa começou.

-- Então vamos começar devagar. Um passo de cada vez.

Nesse momento, apesar de todas as incertezas, sinto que talvez, apenas talvez, haja uma chance para nós - uma chance de construir algo novo, algo melhor, juntas.

Acaso (Billie/You Gp)Onde histórias criam vida. Descubra agora