Capítulo 37

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Amélia Ferrari

— É sério, Amélia, o que aconteceu entre você e o Renzo? Vocês estão tão estranhos desde a semana passada — comenta Natalie enquanto caminhamos para pegar um café no refeitório da empresa.

Natalie é muito observadora e, claro, ia notar o que aconteceu entre Renzo e eu. Nem tenho vontade de conversar sobre isso desde que ele apareceu no meu quarto aquele dia e tentou se reconciliar comigo, mas eu o rejeitei e mandei sair do meu quarto com o meu coração doendo. Ele tem se mantido distante. Eu poderia dizer que era o que eu queria, mas caramba, não é o que eu quero de verdade. Eu adoraria estar nos braços dele, beijá-lo novamente e acabar com essa distância, mas simplesmente não posso. Ele não mudou nada, é o mesmo Renzo de sempre: grosso, rude e impiedoso. O jeito que ele me tratou aquele dia foi pior do que ter ficado com aquelas mulheres. Eu o odeio e gosto dele, e odeio gostar dele. Queria que tivesse como a gente deletar o que sente para enfim seguir em frente, mas não é tão fácil assim. Quando a noite vem, sinto falta de estar nos braços dele, até de coisas idiotas como dormir abraçada a ele. A gente nem teve algo por muito tempo, mas os meus sentimentos por ele são tão fortes que se desenvolveram tão rápido que me apaixonei tão rápido.

Percebi que, nessa distância, acho que o amo. Não queria mais é o que sinto e isso está me matando por dentro.

— Nada com que você deva se preocupar — respondo. Paramos perto da máquina de café, Natalie faz o café para nós duas e me observa. Me sinto exposta com seu olhar, não dá para mentir para ela. E eu também não tenho ninguém com quem possa desabafar, a não ser a Lucy, que está do outro lado do mundo e nossos horários não batem para termos uma conversa. No entanto, falar isso com a irmã da pessoa com quem você se sente confusa é estranho.

Ela pega o seu café e entrega o meu. Pego uma colher de açúcar e coloco no meu, mexendo com a colher.

— Qual é? Eu não sou tapada para não perceber que não tem nada acontecendo. Não confia em mim?

— É só que é complicado... — suspiro e coloco a colher de açúcar no lugar.

— Vocês brigaram? — pergunta.

Encosto as costas contra o balcão, tamborilando os dedos na caneca de café e observando o refeitório, tentando evitar o olhar de Natalie.

— Sim... ou algo assim. Seu irmão é complicado e tem uma vida ainda mais complicada. Ele foi um idiota alguns dias atrás, o que resultou no término de qualquer coisa que tivéssemos.

— Ela gosta de você, Amélia. Eu sei disso. Eu conheço o meu irmão e vejo como ele age com você... Talvez vocês possam se resolver.

Queria acreditar em Natalie, mas é difícil quando o irmão dela não demonstra nada disso.

— Prefiro manter tudo do jeito que está. É melhor. Você sabe que a gente só se casou porque nossos pais obrigaram, não foi por amor — digo em voz baixa.

Ela coloca a mão no meu braço e me vira para encará-la. Seus olhos parecem os de uma mãe quando vai repreender um filho. Ponho o café no balcão e cruzo os braços, esperando ela falar.

— Vocês obviamente se odiavam no início, mas dá para ver que isso se tornou algo mais. Vocês gostam um do outro. Eu sei que o Renzo é difícil, e como eu sei disso, às vezes também sinto ódio dele, confesso. Mas tenta entender, nós fomos criados sem receber o mínimo de amor de ambas as partes familiares. Não sabemos o que é amor vindo dos nossos pais. O Renzo foi o mais afetado nisso tudo, para ele é difícil demonstrar o que sente. Sempre foi muito fechado, um tanto explosivo quando algo sai do controle. Mas você desperta algo nele, uma coisa que ele não tinha há muito tempo. E agora ele está muito mal, nem está gritando com ninguém essa semana, o que, para dizer a verdade, é estranho. Mal dá uma palavra com alguém, então a situação está muito séria mesmo. Ele sente a sua falta, Amélia.

Tudo o que a Natalie diz mexe comigo, mas não adianta ela vir dizer isso se o próprio Renzo não faz isso.

— Eu entendo, mas isso não justifica ele me tratar do jeito que trata. Ele foi um idiota... Eu só não quero mais ficar confusa.

Ela força um sorriso amarelo.

— Entendo, mas Amélia, pensa, por favor. Vocês são perfeitos um para o outro, e eu sei disso.

Balanço a cabeça envergonhada.

— Mas me fala sobre o seu casamento — digo, mudando de assunto. Seu rosto se ilumina de repente. Pelo jeito, esse casamento com Diego é por amor mesmo, não forçado.

— Estou começando os preparativos: convites, ornamentação, comida, vestido de noiva... São tantas coisas que estou quase ficando doida. Sabia que dava trabalho casar, mas não tanto assim. — Pegamos nossos cafés novamente e caminhamos de volta ao trabalho enquanto ainda conversamos. — A gente já está começando a brigar sem nem estar casado, tô falando sério. Tipo, ele quer convites em cor vermelha, eu achei horrível. Aí eu falei que não queria e a gente começou a brigar pelas escolhas do lugar. Ele quer em um e eu em outro. Estamos estressados demais com o casamento — ela tagarela enquanto eu só escuto sorrindo.

Em casa, sentamos à mesa para jantar em completo silêncio. Penso no que Natalie disse, mas logo jogo esse pensamento para lá. Lurdes, antes de sair, entrega uns envelopes a Renzo, que antes estava absorto em seus próprios pensamentos. Observo e ele pega os envelopes.

— Quem mandou isso aqui? — pergunto a ela.

— Está escrito que é da Giulia — responde. Eu congelo, só de ouvir o nome dessa mulher me irrita. Renzo logo fixa os olhos em mim intensamente. Tenho evitado encarar seus olhos todos esses dias, mas é inevitável a faísca que acende apenas com isso. Meu coração bate mais rápido, desvio o olhar encarando o meu prato mal tocado.

— Isso são faturas bancárias. Que diabo é isso? Berço, guarda-roupa, kit bebê, roupas de bebê... — ouço Renzo bufar. Posso até imaginar seu rosto carrancudo. Essa Giulia é mesmo inacreditável. Comprou coisas e já trouxe a fatura para Renzo pagar. Exatamente por isso que nunca daríamos certo. Essa mulher faria de tudo para me tirar da vida de Renzo, e eu não quero competir com ninguém.

— Quer que eu devolva ao endereço dela, senhor? — Lurdes indaga.

— Deixa pra lá, irei resolver isso depois. Pode ir embora, Lurdes...

— Boa noite então — Lurdes se despede indo embora.

Recebo uma mensagem no meu celular de Leonardo. Desde então, só conversei com ele para pedir desculpas pelo comportamento de Renzo, mas ele não respondeu e nem esperei que fizesse isso. Decidi que irei manter distância dele também. Não sabia que os dois tinham uma rixa e eu não quero fazer parte disso. Não sei quais problemas os dois têm e também não quero saber.

"Podemos nos encontrar de novo?"

Decido ignorar a mensagem e guardo o celular.

Uma Aliança De ContratoWhere stories live. Discover now