Dia 1: 022

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POV - Stay: Na área de lavar, do lado da banheira estávamos eu e os meninos limpando o cervo para prepararmos o jantar de hoje, estávamos concentrados, e eu pensava em apenas uma coisa - será que 015 ficou bem depois daquilo? - eu sei o quanto pode ser chocante ver essas coisas pela primeira vez, e eu sempre senti que ele provavelmente é a alma mais pura dentre eles. Apenas o olhando... espero que ele não tenha medo de mim.

- Sabe... isso não vai mesmo se repetir... - eu sou puxada de meus pensamentos pela voz do maromba, o 011 - o 025 deve ter pensado em nos proteger e acabou dando esse vacilo, mas nem ele nem nenhum de nós seria capaz de te fazer nenhum mal... tá?...

Sorrio sem nem perceber. Era a primeira vez que ouvi a voz dele, e olhando para ele não se imagina que vai ser fofo. Assenti para concordar com o que ele disse, e voltando ao trabalho pensava sobre o jeito como eles se protegiam e em como seria bom ter uma família, quando percebo noto que o cervo tinha uma facada nas costas, provavelmente o tipo 3 que vimos cedo, tinha encontrado esse cervo em seu caminho. Coloco a mão em sua ferida, chegando mais perto dela para ver melhor, se ela estivesse infeccionada isso poderia ser ruim para nos também. Em segundos o cervo estava virando encima de mim. 003 estava do outro lado do cervo, provavelmente estava focado demais para perceber. Ele virou ele encima de mim, não tinha problema, eram só 40 quilos, eu logo ia me livrar dele. Mas antes que eu pudesse sair de la de baixo, 011 foi mais rápido.

- 003! - ele pega o cervo do meu lado e o levanta de volta, para que eu pudesse sair, estávamos do mesmo lado do cervo o tempo todo, por isso ele foi rápido - cuidado... - ele parece ficar tímido com qualquer coisa, mas confesso é fofo, e cavalheiro, e por isso é raro. Eu agradeço a ele com uma pequena reverência, mesma que 003 me pede desculpas, e voltamos ao trabalho.

POV - 022: Eu tinha ficado muito assustado, meu coração quase saiu pela boca, assim que eu ouvi que 025 tinha ameaçado ela... muitas coisas tinham passado na minha cabeça, achei que íamos morrer, ou ser abandonados a própria sorte, eu gostaria de ter alguém pra falar sobre, mas não estava muito confiante de que podia realmente falar com um deles.

- Algum de vocês pode ajudar na cozinha? - 025 entra no quarto. Cozinhar parecia ser uma boa distração, e não comemos a tanto tempo que eu decidi levantar minha mão. Para minha surpresa 015 também veio. - olha 015, se você preferir descansar... - 025 disse, mas ele foi mesmo assim. 015 estava diferente, parecia muito longe de qualquer lugar.

Já estávamos cozinhando e tentando fazer a carne ficar gostosa, estávamos aproveitando a energia que tínhamos para comer algo de verdade. Eu resolvi perguntar, e cortar o clima que se formava no ar.

- Você não quer falar com alguém sobre o que aconteceu lá? - vi o olhar de 015 sobre mim, pensando se queria conversar sobre isso. Ele parecia receoso de falar, talvez pelo 025.

- Encontramos um tipo 3 lá... foi pior do que eu imaginava, ela usou algo muito pesado para nos enganar. - 025 começou a falar, foi legal da parte dele - eu estava morrendo de medo, foi realmente chocante... ela se passou por uma mãe de criança de colo, assustada... acaba sendo traumatizante de qualquer maneira... mesmo sabendo que ela não era mais humana...

- Deve ter sido difícil... - eu digo - para ser sincero eu estou morrendo de medo. - acabo me sentindo mais confortável, graças ao 025, eles me olham ao mesmo tempo, e assentem como se entendessem e estivessem do mesmo jeito. - estamos sempre por um fio, no apocalipse... mas ainda é melhor que o distrito.

- Claro. Viver livre, principalmente psicologicamente, vale o preço... - 025 diz. Nesse momento a cozinha é cheia pelos outros membros que esperavam no quarto.

- O cheiro tá indo até o quarto. Posso provar? - 020 entra primeiro já vindo direto na panela.

- Você já comeu ontem. - 025 diz e sorri, ou outros riem, enquanto 020 faz aquela cara desanimada que ele anda fazendo desde que voltou a ser gente.

- Eu já pedi desculpas, e em minha defesa poupei vocês da perda de memória... - ele diz sorrindo pedindo com os olhos a prova que tanto quer. 025 é bonzinho e o deixa provar.

- Eu quero provar também. Acho que mereço... - 011 chega na cozinha com 003, eles estavam tomando banho, ficaram sujos com o sangue do cervo, imagino. Só estava faltando Stay.

- Vocês estão todos bem? - 003 pergunta colocando a mão no ombro do 015, então todos continuam a conversar e eu começo a pensar. Caio no pensamento de que talvez 003 cuidava de pessoas de alguma forma antes de tudo acabar, e acabo nessa dúvida que corrói a todos nós diariamente. "Quem somos?"

- Tá quase pronto, vocês podem chamar a Stay? - 025 diz.

Eu prontamente largo o que estava fazendo para ir, mas 015 foi mais rápido. Ele foi e eu fingi que ia fazer outra coisa. Não tive muitas oportunidades de falar com ela ainda.

POV - 015: Vou chamar ela, acho que parte disso é gratidão. A verdade é que aquela cena realmente não ia sair da minha cabeça. 025 estava totalmente certo quando disse que é traumatizante mesmo sabendo que não são mais humanos... ela parecia com muito medo, e precisando de muita ajuda... mas a realidade, como for, é o que importa, e na realidade ela me salvou e se preocupou comigo. Estou grato acima de tudo.
Cheguei ao quarto dela e bati na porta que estava fechada.

- Não sei se pode me ouvir, mas o jantar está pronto. - eu digo. A porta se abre e ela me olha parada no mesmo lugar, respira fundo, e eu ali esperando algo acontecer.

- Eu te machuquei hoje mais cedo? - nem parecia a mesma mulher que me ignorou nesse mesmo dia de manhã. Os olhos dela eram mais profundos do que "eu te machuquei?" era mais como "eu te magoei?", de qualquer forma eu neguei com a cabeça. - ok, vamos comer. - ela sem jeito passou na minha frente e foi andando. Eu a vi indo embora, enquanto pensava sobre o que aconteceu. Ainda não sei se ela se importa mesmo ou não.

Voltei e me sentei com os outros, e essa foi a primeira vez que estávamos unidos, comendo todos juntos, sem nenhum pensamento difícil. Era uma refeição de verdade, a primeira que nos lembrávamos pra ser realista. Era uma sensação de segurança que não sentia a muito tempo.

- Tranquem a porta quando forem dormir. É medida de segurança pra apagões. - ela diz se levantando e olhando o relógio. Todos estávamos olhando para ela, que começou a ir embora, parou no meio do caminho e voltou. Ela fez uma reverência para a surpresa de todos. - obrigada pela comida.

E assim acabou a noite, todos chocados, alguns traumatizados, outros muito felizes, fomos dormir em silêncio.

- Ei 011... - 003 chamou ele no meio do silêncio - Stay pediu pra eu avisar que depois do quarto dela, a segunda porta do corredor, tem uma academia. - eu pude ver 4 homens levantando de suas camas surpresos.

- Quem faz uma academia num bunker? E o que ele fez pra Stay contar isso? - 014.

- Já dava pra imaginar, ela é forte. Onde ela teria conseguido os músculos? - 020.

- Sei lá, a vida aqui fora não é fácil. - 014.

- Ela disse que todos nós podemos usar. - 003 - e abaixa a bola gente. Vamos dormir. - 003 da um tapinha na mão do 020 que dormia na cama do lado. E ficamos por isso, todos deitamos.

POV - 022: No dia seguinte fomos acordados pelo 015.

9° DistritoWhere stories live. Discover now