N° 015

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POV - 003: Eu estava levando esses dois para seus quartos, duas pessoas que têm estado mais presentes na minha vida que a maior parte do distrito, mesmo que eu tenha acabado de conhecê-los.

Sendo sincero nunca concordei com a frieza como são tratados nesse distrito, mesmo que alguns líderes se sintam importantes e orgulhosos por estar fazendo com outros, esqueceram que um dia fizeram isso conosco.
Eu um dia trabalhei com os diamantes, eu já fiquei muitos dias sem falar, como eles queriam, muita obediência pra pouca diferença. Agora não estou tão mais livre ou melhor, a diferença deles para mim são básicas, durmo melhor, como melhor, mando em uma equipe e sou responsável por mais e diferentes coisas. Também posso andar pra lá e pra cá, mas de que adianta ainda estou andando dentro da cela.

O artista quebra o silêncio.

- Ei, que merda de lugar é esse? - ele era um pouco falante também, pelo que percebi. - vocês não falam nada pra gente e só mandam a gente obedecer, dizem que isso não é uma prisão mas não podemos fazer quase nada aqui.

- Inclusive interagir. Acho que você não entendeu sobre a regra de formar relação aqui dentro. Não pode falar. Se alguém resolver me castigar por sua ideia de sair abrindo sua boca, eu vou... - o 025, é melhor que eu comece a chamá-los por seus nomes, foi interrompido pelo 015 que parou a minha frente, me cumprimentou com a reverência de respeito que ele sempre fazia, e parou a nossa caminhada. Eles continuaram cochichando entre si, mas eu não estava mais prestando atenção neles.

- 015. Algum recado? - pergunto.

Ele finalmente se levanta, e como se não pudesse ouvir ou ver o 020 e o 025, direcionou sua atenção completamente a mim.

- O sr Park 97 está convocando os líderes para uma reunião relâmpago, devo avisar os outros do provável atraso? - havia me esquecido desse outro privilégio. Olhar pra cara do chefe constantemente.

- Ah, sim, avise a todos. Eu só vou deixar os novos membros da equipe nos seus quartos.

- Sim senh... - finalmente o 015 notou a presença dos dois. Tudo comum, exceto para quando ele olhou pro 020. Eu nunca tinha visto ele travar daquele jeito.

Olhou para ele com a expressão de quem encontra alguém perdido, ele abriu os olhos e franziu a sobrancelhas, me assustando um pouco, e assustando todos que estavam ali. Sua expressão era intrigante mas não tão amigável.
Seu rosto era de quem tem mil perguntas para fazer, mas decidiu não fazer nenhuma. Sua obediência era maior que sua curiosidade ou qualquer que fossem os sentimentos que aquelas expressões representavam.

POV - 020: Estávamos a caminho do cárcere privado que eles chamaram de nossos quartos, aposto, quando não aguentei e comecei a perguntar, sentindo que essa seria uma única oportunidade minha. Não deu muito certo, o grandão do 003 era sério demais e o 025 era um chato brigão.

- Acho que você não entendeu sobre a regra de formar relação aqui dentro. Não pode falar. Se alguém resolver me castigar por sua ideia de sair abrindo sua boca, eu vou... - a princesa 025 é interrompida por um dos caras do 003 antes de ameaçar minha vida. Que turminha bacana que eu fui arrumar.

Mas eu respondi. Cochichei.

- Sua aparência não combina com a sua personalidade, alguém já te disse isso? - eu tinha que botar pra fora. Ele parecia um coelhinho assassino, sem levar pro lado esquisito.

Ele me respondeu com o olhar que foi mais do que suficiente pra eu pedir desculpas com uma pequena reverência, maior carinha de psicopata...
Quando eu voltei a atenção pro 003 e o outro lá, o 015 notou a minha presença até demais.
Repensei toda a minha vida pra ver se eu o conhecia, porque parecia que ele me conhecia e até demais, ou ele queria me matar pra variar. Desde que eu cheguei só querem me matar o tempo todo, eu quero meu advogado.

Não tive nenhum sucesso na minha repescagem de memórias para ver se conhecia o 015, minha vida em memória deveria ter umas 2 horas no máximo. Ele me era familiar mas não me lembrava.
Uma coisa eu sei, o vozeirão que esse cara tinha. Também não combinava com a aparência dele, só sei que ele me intimidou.

- Putz... - o 025 provavelmente pensou a mesma coisa que eu, a julgar pelo seu sussurro.

- 015, pode ir. - o silêncio foi quebrado pela ordem do 003.

Aquele cara não tirava os olhos de mim, ficou meio desconcertado depois da ordem que recebeu, mesmo assim queria continuar olhando pra minha cara. Quer dizer eu sei que sou lindo, mas poxa disfarce também.

POV - 015: Me apresento formalmente como 015, e saio dali. Eu sei que é ele, eu me lembro dele. Desde que cheguei no nono distrito, luto contra essa curiosidade imensa de saber quem eu era, qual era minha personalidade, quem eu conhecia e quem amava antes do apagão.

Então quando tive aquele sonho, senti tanta adrenalina que acordei no susto. Foi apenas uma vez, mas eu me lembro com perfeição dele. Eu nunca mais pensei nesse sonho, achei que seriam só os delírios comuns, mas agora quando fui dar o recado para o 003, lá estava ele. 020.

No meu sonho eu conhecia o 020, ele me fazia uma pergunta, ela não é mais clara na minha memória, agora só vejo um borrão, seja como for eu respondi que sim, e então ele me matava, me empurrando do último andar de um prédio, atravessando uma janela e ele caia logo em seguida. Eu não sei se o delírio comum misturou minhas memórias a uma ficção, porque no sonho claramente eu morria, mas estou vivo agora. Só sei que me deu uma certa vontade de perguntar a ele o porquê, mesmo que eu tenha a mais limpa certeza de que ele provavelmente não se lembra de mim, e nem responderia a um devaneio.

Eu preciso falar com o 020.

POV - 003: Isso foi estranho, não sabia o que significava. 015 também tinha memórias e 020 estava lá? Ou 015 só não gostou dele? Ele não me da trabalho, mas nunca transparece o que pensa, esse é o ponto. Não quero que ele faça nenhuma besteira. 015 é um dos meus preferidos.

Eu os levei cada um para seu respectivo quarto e expliquei que precisavam ler o livro ainda hoje. Há sempre um livro esperando pelos novatos para ensinar tudo que eles devem saber. Também falei sobre as câmeras, luzes e horários, e as coisas que eles tinham.
Ainda acho cruel da nossa parte acabar com a vivacidade de todos que entram na equipe. Não fomos criados para sermos máquinas, não precisávamos disso. Não posso desviar do foco agora, minhas opiniões só podem me levar a péssimos lugares, então é bom deixar tudo na minha cabeça.

Voltei pro meu quarto onde pendurei na minha parede as fichas, do 025 e 020, ao lado das fichas do 015, 011 e 022. Estou tão perto, olhando pra minha mesa agora só tem duas fichas faltando, e quando eu juntar todos nós, algo vai mudar.

Talvez eu até lembre do meu nome.

9° DistritoWhere stories live. Discover now