Dia 6: N° 025

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POV - 025: Acordei mais um dia nesse inferno. Tenho que estar pronto para a revisão às 6:30 em ponto, um saco. Não é que eu não saiba receber ordens, só não aguento a ignorância que eles deixam a gente ficar.
Levantamos e as 6:29 a luz acima da porta fica vermelha, isso indica que precisamos sair imediatamente e ficar ao lado da porta dos nossos quartos enumerados de acordo com a gente.
Eu nem espiava mais meus colegas de corredor, mas hoje resolvi olhar, como sempre 020 está lutando contra si mesmo para não dormir de pé, no passado deveria ser um preguiçoso, provavelmente, filho único de uma família rica.
Do outro lado, 015 com uma postura impecável olhando para frente como um cachorrinho treinado, esse cara obedece cegamente a qualquer ordem do 003, o superior da nossa equipe. Provavelmente foi um bom filho antes disso tudo aqui.
Mais a frente os dois que ainda não conheço, 011 não parecia tão assustador fisicamente falando, até olharmos pra ele, eles não podem ser julgados a base de número, tipo o 015 com essa voz que não combina com o seu tamanho. 022 parece alguém sério, finalmente alguém que não dá pra decifrar nem definir só de olhar, nem se quer consigo imaginar o tipo de pessoa que ele é, nunca ouvi uma palavra dele e me parece que nem vou ouvir tão cedo.

Lá vem ele... não consigo confiar nele. Como em ninguém desse lugar, mas ele é pior, me olha como alguém que me conhece ou que sabe de coisas a mais.
Imagino que todos nós, temos o mesmo objetivo de saber quem somos e de onde vimos, e porque estamos aqui. É bem lógico que esse seja o objetivo, já que não temos muita ambição, graças ao alcance da nossa memória. Eu mesmo, tenho a percepção de ter 6 dias de idade, meu porte me mostra que tenho envolta de 20, e as pessoas aqui dizem que é indefinido, mas que merda é essa?

Depois em fila seguimos para a cozinha nos servir e comer o café da manhã. O único momento que tento me comunicar.

- A quanto tempo estão aqui? - pergunto ao 011 e 022, na esperança de que de o tempo de uma resposta curta.

- Eu um ano, ele três meses. - de forma rápida 011 me responde apenas no tempo entre uma colherada e outra.

Minha curiosidade mandava eu fazer mais várias perguntas, mas os supervisores do refeitório estavam de olho em nós.
011 parecia alguém experiente desde que o vi, eu tinha razão. Minha próxima pergunta seria em relação às memórias deles... essa ditadura do silêncio é muito estressante.

Depois do café, fomos a fila da porta de trás, a porta que dá para os campos da colheita da nossa equipe.
Ainda, como tudo nesse lugar não sei pra que serve os diamantes que colhemos. São plantas aparentemente falsas que nos dá diamantes, colhidos com cuidado para o grande armazenamento, fazemos isso todos os dias, o dia todo, nada muda, o que nós avisa sobre o fim do dia são nossas pernas cansadas pela posição fixa.

Durante as pausas que temos não consigo olhar para outro lugar se não para 011 e 022, tentando entender sem que eles me falem nada. Eles não parecem tão domados quanto ao 015, mas parecem obedecer sem precisar pensar muito, talvez saibam as consequências de questionar, depois de tanto tempo vivendo aqui talvez tenham aprendido na marra o que devem ou não fazer.
Quando olho para 015 para conferir, ele já estava me olhando, tão fixamente que me assustou. Apesar de tudo que penso sobre ele tenho que confessar, ele não é ingênuo, sempre sabe pra onde olhar e parece saber fazer bem.

Às 19 estava na porta do quarto esperando as vitaminas, ditas tão necessárias para sobreviver ao novo mundo, vitaminas pra nós deixar de pé pra trabalhar mais e mais, imagino.

003 passa com o carrinho entregando as vitaminas nas nossas mãos, uma caixinha ridícula com uma frase estúpida. "A saúde deve vir em primeiro lugar", a mental que se lasque né.
Me sinto maluco, as informações as vezes fogem da minha cabeça e minha vontade de gritar com todo mundo só cresce, talvez seja normal, não sei, estou conhecendo o mundo a 6 dias.

Entramos, tomamos o remédio, tomamos banho e nos trocamos, e não há mais tempo de nada. A luz acende vermelha novamente, todos precisam estar na cama.
Lá mesmo estou concentrado em juntar e organizar as informações que tenho. Preciso de um caderno.
Repassando o meu dia, me da raiva o jeito como 003 está apenas a nos observar o dia todo, escrevendo naquele tablet, o que será que ele tanto anota sobre nós?
Percebo... hoje foi diferente, ele nunca fica desaparecido o dia todo... algo está errado... o protocolo é fixo e nunca é desobedecido, nosso líder tem algo a nós contar?...

POV - 003: Não acredito que as coisas estão andando tão rápido. Há uma semana encontrei mais dois deles, o 020 e o 025. Descubro que só virá uma última frota e isso poderia ser um problema, mas até então estão todos reunidos como o planejado e agora descubro que 014 está sendo preparado para vir. Ele vem na próxima frota e eu não estava planejando uma mudança nova na equipe agora.

Passei o dia tentando localizar de onde vinha a frota e se tinham líderes que já sabiam da existência dela. Droga de frota inesperada.
Para conseguir esses caras não é tão fácil, eu me planejei dias pra ser o primeiro a escolher na frota do 020 e 025. Sem contar que seria tão suspeito eu levar mais um para a minha equipe que já tem dois novos em um curto período de tempo. Mas não dá, não posso me deixar ao luxo de deixar 014 escapar por entre os meus dedos, eu estou mais perto de lembrar graças a não desistir ou deixar passar.

A três dias eu tive um sonho diferente. Estou nesse fim de mundo a 4 anos, todos os dias sonhando o mesmo sonho, poderia reconhecer todos eles com meio segundo, porque vejo aquelas caras todos os dias, mas a três dias eu tive um sonho diferente.
Eles ainda estavam lá, estávamos jantando com meus pais provavelmente e eramos mais jovens. Eles gostavam do meu cachorro, e falavam coisas que eram bobas mas me deixavam feliz. Me faziam acreditar que eu estava completo, ou que pelo menos tinha alcançado a felicidade simples de ter companhia de amigos reais. Eu sonhei com meus pais. Não os reconheceria nem se passassem na minha frente e olhassem para o meu rosto me chamando de filho, mas esses caras... conseguiram provocar minha memória a lembrar deles... Eu estou realmente grato ou talvez o que eu sinta seja imposição. Estou impedido de fazer o que quero, tão preso que nem posso dizer isso a eles.

Eles são a chave do que eu tenho sonhado. Eles vão me mostrar o que eu quero ver, eu tenho certeza. Eu preciso do 014.

9° DistritoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora