Dia 1: Stay

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POV – Stay: Todos olhando pra mim, depois de dois anos não imaginei que encontraria alguém para olhar pra mim. Depois de dois anos sendo só eu, agora somos nove, e eu não sabia que precisava disso. Um dia atrás eu ainda estaria com essa ideia de sobreviver ser mais importante que tudo, não sabia que sentia tanta falta de falar com um humano de verdade, que não estivesse determinado a me matar. A verdade é que muito dessa confiança, é por aquela foto, acho que a essa altura a triste verdade é que eu não ajudaria a qualquer pessoa que estivesse precisando de ajuda. Mesmo quando confio naqueles que enxergam, sabem seus nomes, e são aparentemente calmos, eles me enganam e com um momento de distração tentam me matar para tirar tudo o que tenho mantido para tornar minha vida um pouco mais humana nesse mundo de selvageria. Humanos são ruins, mesmo antes do apocalipse... não posso esquecer.

- Já chega, precisamos dormir. Os dias aqui começam cedo. – digo me recompondo. – existem dormitórios por todo esse bunker, vocês podem fechar as portas que tem uma tranca de segurança, de manhã se abrem.

Termino de falar e vou para o meu quarto, trancar a minha porta. Eles podem ser rostos familiares mas não sei porque a foto, não sei porque eu guardei uma foto desses caras antes de perder a memoria, eu os admirava? Não sei. Melhor eu continuar segura antes de ter certeza.

POV – 025: É, ela não é tão ruim, mas temos que tomar tanto cuidado com ela, quanto ela tem com a gente.

- Vamos dormir como ela disse... – 003 começou a falar e já foi interrompido.

- O que acharam dela? Confiável? – 022 fala, ainda não me acostumei com a voz dele, já que essa é uma das primeiras vezes que ele fala.

- Eu acho que sim... ela nos contou uma história que pode parecer loucura pura, mas mais confiável que a história do distrito, além de ter nos ajudado e provado com a própria existência varias coisas que disse... – 014 falou sua opinião, diminuindo a voz ao decorrer da frase.

- Eu não sei, acho muito suspeito ela ter sido gentil a nível de nos colocar embaixo do próprio teto sem pedir nada em troca. – eu dou a minha opinião. Eles tem que pensar mais com a razão. Ela pode não ser uma super heroína.

- Eu acho que não temos escolha... se sairmos agora ou se não tivéssemos conseguido que ela nos ajudasse, talvez descobriríamos que tudo que ela disse é verdade na pele... eu prefiro lidar com ela, caso ela não seja confiável mesmo, do que lidar com um bando de criaturas assassinas... – 003 fechou a conversa e fomos todos para o quarto, sem mais comentários porque não tínhamos como rebater esse pensamento.

POV – 015: Acordei no dia seguinte meio desnorteado, aquela sensação de esperar acordar em outro lugar, e por um segundo me esqueci que estávamos livres, mas essa sensação de quentinho logo voltou e eu me lembrei que já não éramos mais escravos dessa ansiedade.
Olho para o lado e quase todos estavam nas camas ainda, não via ninguém na cama do 003, 025 e 022, mas os outros ainda dormiam pesado.
Me levando e vou entrando, em direção a cozinha, coçando os olhos, provavelmente é tarde. 025 estava lá, mexendo nos armários.

- Você pode fazer isso? – pergunto. Ele da um pequeno pulo, de susto. E se vira ainda agachado na frente do armário.

- Porque não poderia?... Não temos café da manhã... – ele parecia um pouco irritado agora, ou era só o 025 mesmo.

- A casa não é nossa né... – sou interrompido pelo barulho do que parecia ser uma mulher brava. Eu e 025 nos viramos para de onde veio, dessa vez ele se levanta.

- Você tá louco? – ela disse, nos aproximamos e vimos o 003 confuso e retraído, não sabia porque estava tomando sermão – eu mandei vocês fecharem as portas durante a noite, porque não me ouviu? Quando as portas se fecham elas se trancam e as luzes acendem como última medida de segurança, ou última chance de vida. Se sofrermos um apagão vocês morrem e eu posso ficar viva, os geradores se voltam pros quartos... – ela descarregou tudo no líder. Eu achei curioso, quando percebi já estava sorrindo um pouquinho. Isso sim parece cuidado de verdade, não o que Park 97 dizia...

- Eu... não sabia – ele não parecia assustado, talvez quisesse sorrir também, ou estava surpreso. Vimos ela recuar. Olhar para o nosso lado, eu a cumprimentei e ela saiu caminhando na direção do nosso quarto. 003 olhou para nos, seu rosto dizia "o que aconteceu?" e "deixa". 025 volta a procurar comida e eu a sigo.

- Vamos acordando, eu disse que o dia aqui começava cedo. – ela começa a acordar um por um. Ainda bem que ninguém dormiu mais "a vontade", seria constrangedor. Eles vão se levantando e coçando os olhos.

008 acorda assustado e solta um "mãe" ela olha pra ele, nega com a cabeça meio rindo e continua seu trabalho. Eu sento na cama dele e dou tapinhas nas costas dele, achei engraçado também, quem explica esse menino? Enfim, todos já sentados em suas camas acordando, só 020 ainda estava dormindo pesado.

- Princesa, queira acordar por favor... – ela disse balançando ele um pouco mais forte e fazendo ele finalmente se mexer. Ele abriu um dos olhos e quando a viu ficou assustado e recuou. – Bom dia. – ela disse e deu um lindo sorriso sarcástico.

- O que... – ele ficou ainda mais assustado e sentou na cama olhando pros lados – onde eu estou? – Essa pergunta foi genuína, e ela que já saia parou e voltou de ré, se virou pra ele.

- O que você disse? – ela perguntou e ele ficou sem resposta, ela fez a cara de tedio que geralmente vinha de 020 mesmo – quem sou eu? Como eu me chamo?

- Você é a mulher que quase matou o 025, e ia nos dar abrigo. Ninguém tem nome... e você não nos disse seu número... – ele respondeu se recompondo pra não parecer patético.

- Espertinho você, mas nem tanto. – ela disse. – você tem mais vitaminas? – ela pergunta e ele parece assustado de novo, mesmo assim nega com a cabeça. A esse ponto 003 e 025 já estavam na porta ouvindo o que estava acontecendo. – pessoal, se algum de vocês ainda tiver "vitaminas" – marca as aspas com as mãos – joguem fora, ou só não tomem. É uma droga que eles dão pra te fazer dormir pesado e ter alguns buracos na sua memoria, geralmente ela apaga a parte mais chocante do dia, caso haja uma. Eu aposto que ele guardou a ultima vitamina e ontem, com fome, tomou ela. Preciso de um voluntario que lembre os detalhes do que eu expliquei ontem pra contar tudo de novo. – eu levantei minha mão.

- Mais alguém? – ela disse depois de olhar para mim. Confesso isso me deixou meio triste. Se virando para 014 que também levantou a mão. – você, bochechudo, ajude seu amigo. – ele assente concordando.

- Você. – ela aponta pro 025. Ele aponta pra si mesmo como pergunta. – temos contas pra acertar. – ela cerra levemente os olhos e se vira pra mim de novo. – você, também vem. – ela aponta pra mim que levanto e vou seguir ela. – o resto se arrume rápido. É o apocalipse, já passou da hora de vocês saírem das férias.

Ela sai andando, estava toda equipada com menos camadas de roupa, mas tinham armas. Nos a seguíamos, ela nos levou até a porta e a abriu sem medo. Eu e 025 já ficamos um pouco apreensivos, mas foi tão rápido que perdemos o medo. Ela saiu e disse um "fiquem alerta".
Continuou andando na nossa frente com o arco nas mãos, nos guiando.

Já estávamos afastados do bunker, eu estava mais atrás, não era tão acostumado assim ou forte como 025, mas estava me esforçando. Quando de repente eu ouço meio baixo alguém falar:

- Vai ficar tudo bem... – eu parei, fui atrás do som e tinha uma mulher que parecia estar carregando um bebê amarrado em seu corpo, quase em um buraco, ela teria que subir um barranco para sair de lá, e eu estava encima, usava óculos escuros e estava chorosa como se tivesse medo. Ela começou a ninar o bebê e acalmava com uma voz mansa com um fundo de preocupação inevitável.

- Precisa de ajuda? – eu pergunto quase que imediatamente ao encontra-la – quer ajuda pra subir? – ela abraçou o bebe como proteção.

- Não preciso de ajuda. Não me machuque. – ela fala firmemente para mim. Coitada...

- Não vou te machucar vou ajudar você... estenda a mão na direção da minha voz e eu te puxo pra poder te ajudar... – aos poucos ela se aproximou do barranco e da minha mão estendida, estava quase pegando ela.

De repente uma flecha acerta em cheio na testa da mulher, ela estava tão perto que seu sangue espirrou em mim, eu fiquei aterrorizado, paralisado com essa cena que iria me atormentar para o resto dos meus dias... quem friamente mataria uma mulher com um bebe de colo?

9° DistritoWhere stories live. Discover now