The Bookstore | Matt Smith

48. Unchained Melody (P.t. 2)

Com o jeito que lavava aqueles pratos, Cecília parecia querer descontar todo o seu nervosismo em cada um deles, esfregando-os com tanta força que, se tivesse braços mais fortes, acabaria quebrando algum deles e provocando um acidente. Não sabia se era Matt que a deixava com os nervos à flor da pele, ou se era ela que ficava ansiosa e nervosa demais com qualquer coisa. Queria tanto tocá-lo e ser tocada por ele, mas ao mesmo tempo tinha medo de tudo isso. Pensava que talvez fosse ela, com todas as suas contradições, a culpada por certas coisas darem sempre errado.

━━ Por que você é assim? ━━ ela perguntou em voz baixa para si mesma.

━━ Olá.

O prato que segurava acabou escapando de sua mão com o susto que ela levou, espatifando-se na pia.

━━ Cecília!

Tudo pareceu um borrão ao redor dela, como se estivesse girando ou em um filme, onde todo o resto era desfocado para ressaltar um único alguém em um ponto, e era ela esse alguém, por isso não pôde ver quando ele correu até ela e só se deu conta de Matt novamente quando ele já estava ao seu lado.

Era a primeira vez dela na casa dele e já havia sujado uma mesa e quebrado um prato. Imaginar que ele provavelmente já imaginava as piores coisas dela com todas aquelas trapalhadas a fez querer ter o poder de congelar o tempo para fugir sozinha dali.

━━ Desculpe...

━━ Você se cortou! ━━ Matt ignorou o pedido de desculpas e segurou a mão dela, e só então a garota percebeu o sangue ali. ━━ Meu Deus, Cecília... ━━ ele abriu rápido a torneira e colocou a mão dela embaixo d'água

━━ Espera... Ai! ━━ ela fez uma careta quando a água entrou em contato com o corte. ━━ Isso arde muito, caramba!

━━ A culpa não é minha! ━━ ele rebateu. ━━ Só estou fazendo o que é certo.

━━ Ah, então é minha culpa? ━━ a voz dela se alterou.

━━ E lá vem você distorcendo minhas palavras de novo!

━━ Já me desculpei pelo prato, se você não ouviu. Mas a culpa disso tudo foi sua!

━━ Minha? ━━ ele desligou a torneira e a olhou indignado, mas não soltou a mão dela. ━━ Minha culpa?

━━ Sim! Sua culpa! ━━ ela falava, mas não fazia ideia do que dizia e nem do por quê. ━━ Se você tivesse ficado quieto na sala como eu pedi e não tivesse aparecido aqui de repente e me assustado como você sempre faz, eu não teria quebrado esse prato!

━━ O que você esperava? Que depois de tudo que aconteceu eu ficasse lá esse tempo todo, sozinho, olhando para o teto e para as paredes, sabendo que você estava aqui? Desculpe, mas eu não sou assim!

━━ Não, é claro que você não é assim. Você é um idiota que não sabe parar quieto e não leva nada a sério!

Palavras tinham o poder de muitas coisas. Uma única palavra poderia até mesmo ditar o destino do universo um dia, e aquelas que saíram da boca de Cecília, por mais simples que tivessem parecido para ela no momento que as pronunciou, tiveram um impacto maior e diferente do que ela imaginava. A mudança de expressão dele para algo mais sério, o silêncio que se seguiu por alguns segundos e o jeito com que ele contraiu a mandíbula e comprimiu os lábios, como se estivesse irritado, a fez começar a ter medo de ter dito uma das piores coisas que poderia e da próxima atitude dele.

Ela sabia que Matt jamais a machucaria fisicamente. Seu único medo era de receber na mesma moeda, receber palavras tão duras quanto as que havia dito para ele.