50. Ink

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"Tudo o que sei

É que eu estou perdido

Em seu fogo

Tudo o que sei

É que eu te amo demais

Tanto que dói"

Ink - Coldplay

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Assim como o mês de maio havia ido embora, junho também escorria como água. A primavera se preparava para dar lugar ao verão e os dias ficaram um pouco mais quentes, mas este último acontecimento não se devia apenas ao clima.

Mesmo com todos os compromissos, com a vida agitada e louca naquela cidade que parecia nunca parar, eles nunca passavam mais do que uma semana sem se encontrarem. Cecília ainda aparecia na livraria mesmo que os ensaios houvesse terminado e o seu pequeno curso de atuação chegado ao fim, ou Matt ia atrás dela, aparecendo de surpresa, levando-a pelas ruas de Londres à noite e dando-lhe um gostinho da vida boêmia que ele ainda tinha e agora dividia com ela, por mais diferentes que os dois fossem nesse sentido. E no começo de todas aquelas coisas novas para ela, de toda aquela intimidade que começavam a construir, Matt também aparecia na porta do apartamento dela quando Cecília menos esperava, com alguma coisa para os dois comerem e passarem a noite juntos, pois, diferente dele, ela nem sempre tinha vontade de sair por aí e passar a noite fora.

━━ Você trouxe lanches... ━━ ela disse na primeira vez que ele tocou a campainha e apareceu diante da porta dela com dois saquinhos de delivery na mão.

━━ Você disse que não queria sair e que estava cansada, então... Se você não vier até mim, eu vou até você, simples assim, Cecília.

Simples... Tudo parecia melhor e mais leve quando as coisas aconteciam daquela maneira.

Cecília ainda lembrava do sorriso dele nesse dia, e Matt também não havia esquecido do jeito que ela o puxou pela camisa e o beijou, conduzindo-o para dentro do apartamento, fazendo-o chutar com o calcanhar a porta atrás dele e largar os lanches para cair junto com ela no sofá, e a comida ficou para depois, pois a maior fome que sentiam naquele momento era um do outro. Naquela noite, depois de vê-lo, Cecília quis de imediato tê-lo sobre ela, assim como Matt desejou envolvê-la em seus braços e sentí-la, ouvir seus sussurros e murmúrios.

Estavam mais unidos do que nunca. Não havia um dia em que não conversavam ao menos por mensagem, um momento em que não pensavam um no outro. Ele nunca se vira tão apegado a alguém, estranhando a si mesmo às vezes. Tudo aquilo aquecia o coração de ambos, embora Cecília ainda sentisse que tudo aquilo poderia ser perigoso, algo que nunca diria a ele.

"Perigoso? Por que perigoso?", ele iria perguntar e rir dela, provavelmente. Porque, diferente dela, Matt não sentia medo do que poderia acontecer no futuro. Ele apenas vivia o presente e o aproveitava o melhor que podia. Cecília sabia de tudo isso, sabia que ele não era tão sensível como ela, que ele não se sentiria tão quebrado quanto ela caso alguma coisa desse errado. E, embora não fosse uma tarefa fácil, ela se esforçava para não se importar tanto e viver mais no presente também.

Matt estava certo quando disse que ela estaria andando de bicicleta ao lado dele até o verão chegar. Eles voltaram naquele parque e em outros espalhados por Londres, e ele a ajudou até Cecília conseguir se equilibrar na bicicleta por mais tempo e não levar nenhum tombo, e eles deitaram na grama e observaram o céu muitas outras vezes, e depois, sempre que voltavam para o apartamento dele ou para o dela, se amavam um pouco mais, tão intensamente, de corpo e alma, que chegavam a perguntar para si mesmos se tudo aquilo era real, se realmente existiam um para o outro.

The Bookstore | Matt SmithWhere stories live. Discover now