35. Strangers In The Night (P.t. 3)

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Apenas naquela quietude, depois das voltas pelo parque escutando música, de sua corrida maluca e das cócegas mortais de Matt, que ela reparou na lua brilhando no céu; Cecília tocou no braço de Matt e apontou para ela, e ele não pôde deixar de sorrir, mas não apenas pela lua em si, e mais por aquele gesto da garota.

━━ Sim, muito bonita ━━ ele disse, olhando para a lua e depois para Cecília sem que ela percebesse.

Matt indicou a outra ponta daquele lago artificial, onde ficava o Kensington Park. Os dois parques eram separados pelo Lago Serpentine, e era no Kensington Park que ficavam o Palácio de Kensington e o famoso Kensington Gardens. Era curioso para ela saber que o príncipe William e a duquesa de Cambridge estavam apenas a "um lago de distância" dela; não que se importasse muito com a família real - na verdade, não se importava nem um pouco - , mas, considerando que um ano antes ainda estava no Brasil, em outra realidade e tão longe de tudo aquilo, era quase como se estivesse vivendo algo que não fosse real.

Aquele sentimento novamente...

━━ Como você veio parar aqui, Cecília?

A pergunta repentina, feita tão de perto a ponto dela sentir o hálito dele, causou arrepios em Cecília. Matt estava com o braço apoiado no banco e com o rosto repousado em uma das mãos. Seu corpo estava completamente inclinado na direção dela, como se estivesse a contemplando.

Quanto tempo ele a observara daquela maneira sem que ela percebesse?

━━ Co-como assim? ━━ sua voz denunciava seu nervosismo.

━━ O que te trouxe para tão longe de casa? Lembro de você ter dito que não tinha muito o que deixar.

Cecília se ajeitou no banco e olhou para as estrelas no céu. Não conseguia vê-las tão bem ali quanto nas noites em que não conseguia dormir e se levantava apenas para observá-las, quando ainda morava no Rio, onde o céu era menos cinzento e nublado durante a maior parte do ano; mas a visão ainda era bonita.

━━ Eu... acho que realmente não tinha ━━ ela respondeu. ━━ Tenho uma parente distante que vive aqui na Inglaterra, em uma cidade litorânea. Ela ficou sabendo que eu estava "perdida", como o resto da família dizia, e sem uma ocupação no Brasil e se ofereceu para me ajudar se eu quisesse vir morar aqui.

━━ E você aceitou?

━━ Sem nem pensar. Eu tinha acabado de abandonar a faculdade e não conseguia encontrar um emprego fixo, minha vida estava parada e eu não sabia o que fazer. Eu só queria recomeçar, mesmo que pra isso eu precisasse ir para bem longe.

━━ Então, antes de vir para Londres, você estava nessa cidade litorânea? ━━ Matt continuou com suas perguntas, e Cecília assentiu.

━━ Fiquei cinco meses lá. Mas... Sabe quando você não se sente totalmente em casa? ━━ ela encarou as próprias mãos por um momento. ━━ Essa minha parente, ela me tratou muito bem, mas ela tinha os próprios filhos, a própria família, e eu me senti deslocada e quase como uma intrusa. Eu também queria encontrar alguma oportunidade com atuação, e sabia que isso não iria acontecer se eu continuasse ali, naquela cidadezinha, por mais que eu tivesse adorado o lugar; era bem tranquilo, o tipo de lugar que eu adoraria morar um dia.

━━ Algo como "envelhecer em uma casinha no interior"?

━━ Algo assim.

━━ Sozinha?

Por que ele fazia tantas perguntas? Não, ela não era muito fã da ideia de envelhecer completamente sozinha e tinha medo disso, embora estivesse cada vez mais certa de que era esse o futuro que a esperava. Mas como contar para Matt que um de seus desejos era formar uma família, morar em alguma casinha em uma cidadezinha da Inglaterra - ou até mesmo em um bairro isolado de uma cidade grande - e viver de uma maneira tranquila ao lado daqueles que mais amava até o fim de sua vida sem fazer tudo aquilo soar brega, antiquado ou ingênuo demais de sua parte?

The Bookstore | Matt SmithWhere stories live. Discover now