Apenas naquela quietude, depois das voltas pelo parque escutando música, de sua corrida maluca e das cócegas mortais de Matt, que ela reparou na lua brilhando no céu; Cecília tocou no braço de Matt e apontou para ela, e ele não pôde deixar de sorrir, mas não apenas pela lua em si, e mais por aquele gesto da garota.
━━ Sim, muito bonita ━━ ele disse, olhando para a lua e depois para Cecília sem que ela percebesse.
Matt indicou a outra ponta daquele lago artificial, onde ficava o Kensington Park. Os dois parques eram separados pelo Lago Serpentine, e era no Kensington Park que ficavam o Palácio de Kensington e o famoso Kensington Gardens. Era curioso para ela saber que o príncipe William e a duquesa de Cambridge estavam apenas a "um lago de distância" dela; não que se importasse muito com a família real - na verdade, não se importava nem um pouco - , mas, considerando que um ano antes ainda estava no Brasil, em outra realidade e tão longe de tudo aquilo, era quase como se estivesse vivendo algo que não fosse real.
Aquele sentimento novamente...
━━ Como você veio parar aqui, Cecília?
A pergunta repentina, feita tão de perto a ponto dela sentir o hálito dele, causou arrepios em Cecília. Matt estava com o braço apoiado no banco e com o rosto repousado em uma das mãos. Seu corpo estava completamente inclinado na direção dela, como se estivesse a contemplando.
Quanto tempo ele a observara daquela maneira sem que ela percebesse?
━━ Co-como assim? ━━ sua voz denunciava seu nervosismo.
━━ O que te trouxe para tão longe de casa? Lembro de você ter dito que não tinha muito o que deixar.
Cecília se ajeitou no banco e olhou para as estrelas no céu. Não conseguia vê-las tão bem ali quanto nas noites em que não conseguia dormir e se levantava apenas para observá-las, quando ainda morava no Rio, onde o céu era menos cinzento e nublado durante a maior parte do ano; mas a visão ainda era bonita.
━━ Eu... acho que realmente não tinha ━━ ela respondeu. ━━ Tenho uma parente distante que vive aqui na Inglaterra, em uma cidade litorânea. Ela ficou sabendo que eu estava "perdida", como o resto da família dizia, e sem uma ocupação no Brasil e se ofereceu para me ajudar se eu quisesse vir morar aqui.
━━ E você aceitou?
━━ Sem nem pensar. Eu tinha acabado de abandonar a faculdade e não conseguia encontrar um emprego fixo, minha vida estava parada e eu não sabia o que fazer. Eu só queria recomeçar, mesmo que pra isso eu precisasse ir para bem longe.
━━ Então, antes de vir para Londres, você estava nessa cidade litorânea? ━━ Matt continuou com suas perguntas, e Cecília assentiu.
━━ Fiquei cinco meses lá. Mas... Sabe quando você não se sente totalmente em casa? ━━ ela encarou as próprias mãos por um momento. ━━ Essa minha parente, ela me tratou muito bem, mas ela tinha os próprios filhos, a própria família, e eu me senti deslocada e quase como uma intrusa. Eu também queria encontrar alguma oportunidade com atuação, e sabia que isso não iria acontecer se eu continuasse ali, naquela cidadezinha, por mais que eu tivesse adorado o lugar; era bem tranquilo, o tipo de lugar que eu adoraria morar um dia.
━━ Algo como "envelhecer em uma casinha no interior"?
━━ Algo assim.
━━ Sozinha?
Por que ele fazia tantas perguntas? Não, ela não era muito fã da ideia de envelhecer completamente sozinha e tinha medo disso, embora estivesse cada vez mais certa de que era esse o futuro que a esperava. Mas como contar para Matt que um de seus desejos era formar uma família, morar em alguma casinha em uma cidadezinha da Inglaterra - ou até mesmo em um bairro isolado de uma cidade grande - e viver de uma maneira tranquila ao lado daqueles que mais amava até o fim de sua vida sem fazer tudo aquilo soar brega, antiquado ou ingênuo demais de sua parte?
YOU ARE READING
The Bookstore | Matt Smith
FanfictionLivros, chá, músicas diferentes e Matt Smith. ... Sim, esta é uma história sobre o amor entre duas pessoas, mas não só sobre esse amor. Ela é sobre os sonhos que parecem inalcançáveis; sobre as inseguranças que nos atormentam e a superação delas. É...