36. Hello My Old Heart

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"Porque nada dura para sempre

Algumas coisas não estão destinadas a acontecer

Mas você nunca encontrará as respostas

Até que liberte seu velho coração"

Hello My Old Heart - The Oh Hellos

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6 de Maio, Domingo

Por que não pediu para que ele subisse? A pergunta martelava na cabeça de Cecília desde o momento em que Matt a deixara no portão de seu prédio na noite passada. Os beijos que tinham trocado ali mesmo - sem se importarem se alguém os observava nas janelas dos outros apartamentos e casas - ainda estavam nítidos na mente dela, e Cecília sentia-se nas nuvens cada vez que se lembrava deles. O jeito com que ele a envolvia em seus braços ou tocava o seu rosto, tudo fazia com que ela quisesse mais, tornando uma tortura o momento em que tiveram de se despedir.

Ela poderia ter prolongado um pouco mais aquela noite e os momentos ao lado dele. Sabia que Matt teria concordado se ela pedisse para que ele subisse e ficasse com ela a noite toda até o amanhecer; talvez nem mesmo precisasse pedir. Mas o que teria acontecido se ela passasse daquele portão azul com ele? Não era tão inocente e ingênua a ponto de não imaginar as possibilidades que aquilo poderia trazer, mas era exatamente pensar naquele tipo de situação que a assustava um pouco.

Era o momento certo? Já podiam pular logo para aquela parte? Se sim, o que ele teria pensado se a visse sem muitas censuras? E se ele não gostasse, ou se ela estragasse tudo?

Estava pensando demais de novo, como sua mente ansiosa sempre fazia em situações como aquela; pensando tanto, quando nem sabia ainda o que os dois eram naquele momento. Nenhum deles tinha mencionado a palavra namoro depois de tudo aquilo, mas Cecília preferia que fosse desse jeito. Palavras às vezes apenas estragavam tudo, e ela não viu necessidade de mais delas depois de tudo que Matt lhe dissera naquela noite.

Queria apenas passar mais tempo com ele, olhar em seus olhos, sentir o seu cheiro e os braços dele ao redor dela, bagunçar o cabelo dele e rir ao seu lado, compartilhar suas playlists e músicas preferidas com ele, beijá-lo e, se possível, ir um pouco mais além de tudo aquilo. Porque ela estava começando a amá-lo, mais do que já tenha sequer amado qualquer outro. Não lembrava da última vez em que a frase "eu te amo" tinha saído de sua boca - embora tivesse certeza de que não fora durante o tempo em que ficara com aqueles dois últimos caras - , mas se sentia cada vez mais próxima de dizer aquelas três palavrinhas novamente, as mesmas pelas quais ela sempre interrompia Matt quando ele já estava com elas na ponta língua.

Sabia que ele estava com a irmã, os pais e a sobrinha naquele dia; Matt parecia ser bastante ligado à família, mais uma coisa que Cecília começava a gostar nele. Mas não podia negar que gostaria que ele estivesse ali, com ela, e nem que tinha desejado a tarde toda que ele aparecesse na frente daquela cafeteria como no dia anterior. Se ele não estivesse ocupado dando atenção à própria família, Cecília sentia que acabaria cedendo, perdendo de vez todos aqueles medos e deixando que ele ultrapassasse mais alguns limites.

Mas e se Matt quisesse apressar ainda mais coisas depois daquilo tudo? Ela não era do tipo que conseguia passar para as próximas fases de um modo rápido e muito menos pulá-las, mas ele parecia o oposto. Até quando ele teria paciência com o seu modo lento e receoso de processar aquelas coisas? Ele acharia estranho ou entediante demais se passassem a primeira noite em seu sofá velho, apenas assistindo a algum filme antigo e depois dormindo tranquilamente lado a lado?

The Bookstore | Matt SmithWhere stories live. Discover now