Capítulo 32

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Não consegui tirar o longo descanso que eu tanto queria e merecia

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Não consegui tirar o longo descanso que eu tanto queria e merecia. Foi eu colocar os pés em meu apartamento que minha mãe me ligou, querendo me encontrar. Para não recusar, pedi para que viesse a minha casa. Era a primeira vez deles aqui, pelo menos tudo estava organizado e se não estivesse, ia ficar bagunçado mesmo, todos nós merecemos um dia para ficar feia, bagunçada mas confortável. Libero sua entrada pelo interfone e deixo a porta aberta para que ela possa me ver.

— Oh, aí está você, quase me perdi nesse condomínio gigante.

— Desculpa não ter ido te buscar, estou muito cansada — a abraço com um sorriso exausto. — Cadê meu pai?

— Ele ficou no hotel. Guloso como ele é, deve ter comido algo que o fez mal.

— Ah. Fique à vontade. Espero que goste do meu cantinho.

— Que lugar lindo — ela diz ao entrar e reparar em toda a decoração.

— Minhas amigas agradecem — sim, elas que decoraram tudo, bom quase tudo. Iam me mostrando as opções e eu dizia que era mais bonito, mas grande parte, elas que escolheram, como o vaso de vidro azul que Yasmin insistiu em comprar pois segundo ela " ficaria em destaque". Fiquei irritada quando vi que tinha ficado lindo, pois odeio o design desse vaso.

— Ai filha, não devia ter vindo, você está com uma carinha tão abatida.

—Estou bem, não se preocupe. O que a senhora quer falar comigo?

— Alexandre e eu queríamos falar juntos, mas é algo que não se pode esperar. Nós estamos querendo comprar uma casa aqui na região, para ficar perto de você e, sei que é pedir demais, mas queremos que passe um tempo conosco.

— Querem... Que eu more com vocês?

— Sim! Muitos anos foram roubados de nós e pensamos que passar alguns anos juntos seria o melhor para nossa família. O que acha?

— Eu...

De todas as coisas que achei ela fosse falar essa com certeza era a última delas. Há muitos anos que não imagino como seria viver em família, principalmente depois da última que tive. Gosto da idéia de recuperar o que nos foi tirado, mas gosto da vida que eu construí sozinha, gosto da minha liberdade.

— Não precisa nos dar uma resposta agora, mas... Meu Deus, que vergonha. Seu pai e eu nós... hum... Nós gastamos todo o nosso dinheiro vindo de Goiânia te encontrar, passagens e estadia sabe... — assinto. — Odeio ter que fazer isso.

— Está me pedindo dinheiro?

— Para nossa casa, filha, para podermos ficar juntos.

—- Onde... Quanto é essa casa?

— Quinhentos mil.

Quinhentos mil? — me sobressalto. — Tem ouro nessa casa? Por que não alugam uma?

— Antes de você nascer nós morávamos em uma casa alugada, a enfermeira que te sequestrou era nossa vizinha de quintal. Depois disso nós...

— Ah. Não sabia.

Fecho os olhos e penso por um momento. Eles gastaram tudo só para estarem aqui comigo. Vieram de outro estado só por minha causa. Minha mente estala. Outro estado?

— O que vocês faziam em Goiânia?

— B-bom — gagueja — depois que perdemos você, tentamos recomeçar em outro lugar. Vendemos nossa casa de lá para irmos para São Paulo. Nós não temos para onde ir e pensamos...

Merda!

Por minha culpa eles estão sem lugar para ficar. Meu apartamento tem um espaço bom, mas com o outro quarto, eu fiz um escritório, ou seja, eles não poderiam ficar aqui. Passo os dedos pelos meus cabelos e respiro fundo. Analiso a expressão desesperada em seu rosto, então meu olhar recai sob seu pulso esquerdo, onde deveria estar a pulseira que lhe dei de presente e que jurou nunca tirar.

— Onde está sua pulseira?

— Oh! — ela se remexe desconfortável. — Deixei guardada em minha mala, não quero correr o risco de perder algo tão valioso ou que alguém a roube.

— Ah!

— Mas então, filha, o que me diz?

— Eu não tenho todo esse dinheiro.

— A imobiliária disse que podemos pagar uma parte do valor inicialmente.

— Eu...

— É por você filha, por nós. Sua família.

— Eu... — afasto os pensamentos da minha cabeça — Tudo bem, eu posso tentar conseguir uma parte do dinheiro — ela sorri maravilhada. Minha cabeça doía e eu só queria me jogar na cama e ficar nela até o fim dos tempos.

— Muito obrigada minha filha — ela me abraça e beija minha cabeça levemente. — Não sabe o quão fico feliz com isso, seu pai vai amar a notícia, ainda mais que você virá conosco.

— Mas eu...

— Não gaste mais suas energias, meu tesourinho. Mamãe vai comprar coisas gostosas. Vou fazer sua janta hoje, agora vá descansar.

Com sua companhia, caminho até meu quarto e me deito na cama, deixo que ela feche minhas cortinas e que me cubra. Alguns minutos depois, ela sai do quarto, mas antes deixa outro beijo em minha testa enquanto acaricia meu cabelo. Era uma sensação gostosa de sentir, sua mão era um pouco mais pesada que a de Guilherme, mas ainda sim me senti bem como gesto.

Guilherme... Quando nos encontrarmos é melhor que ele tenha uma boa desculpa para mim.

— Bons sonhos, meu tesourinho.

Escrevendo o nosso amorWhere stories live. Discover now