Uma mera despedida

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Olhando a paisagem através das janelas manchadas do ônibus. A chuva impede minha visão, embaçando o vidro e trazendo um ar frio. Em meus ouvidos a música envolvente me impede de apreciar o barulho da chuva, que certamente seria estragado pelo barulho do motor. Minha cabeça está prendida para o lado da janela, pareço apreciar a vista ou apenas a chuva, mas minha mente sempre volta para você.

Seus lindos olhos castanhos e como suas pupilas estavam dilatadas naquela noite. Seus cabelos escuros como a noite, estavam maiores que da última vez que o vi. Eu sabia que devia ir embora. Eu sabia que depois de tudo que passamos nos últimos meses, eu não deveria estar ali. Na sua sala, tomando vinho com você, enquanto toca ao fundo nossa playlist.

É tão doloroso afirmar e perceber. Que nunca daríamos certo, eu quero você aqui ao meu lado e você deseja viajar pelo mundo. E eu estou com medo de me entregar, com o domínio que tu possui do meu ser, certamente eu me perderia ainda mais em suas orbes cor de jabuticaba e jamais me encontraria novamente.

Tentamos e percebemos que a distância sempre irá nos atrapalhar. São mundos diferentes, pensamentos e metas.

Prefiro acreditar que nós encontramos no momento errado. Sua gargalhada sempre me tirava de órbita e naquela noite não foi diferente. A forma que o som era envolvente, a maneira em que aquele maldito Piercing em seus lábios reluzia sempre que passava a língua por ele, que apenas me fazia ansiar para sentir o contato com o frio dele em meus lábios.

Aquela noite era uma despedida?

A forma em que me olhava e como seus olhos variavam entre carinho e desejo. Eu amava e ainda amo a maneira em que perde totalmente o foco de qualquer coisa quando olha para mim ou a maneira em que molha seus lábios com a língua. Fora inevitável não me entregar, não apreciar seus lábios e aquele maldito piercing, enquanto sua língua estava em contato com a minha.

Naquele momento eu senti o quão abrasador era o amor e como era dilacerante deixá-lo partir. Uma mera despedida não deveria doer tanto, mas doeu. O amor é como o próprio fogo e ele arde enquanto está rastejando entre as minhas artérias e veias, percorrendo todo o meu corpo. Eu amo cada detalhe de seu corpo, principalmente a maneira em que a pele de seu braço é coberta por história e sentimentos.

Você é como um pássaro e eu não posso prendê-lo em uma gaiola, privando sua liberdade, tenho que deixá - lo ir, bater suas asas livremente, mesmo sabendo que é para longe de mim. Aquela noite será inesquecível e estará eternizada e enraizada dentro de mim, pois está gravada em cada milímetro de minha pele, sendo mais permanente que uma tatuagem.

Nunca precisei de muito, apenas uma dose de você, já era mais que o suficiente para que eu soubesse que após me envolver com alguém como tu, eu jamais seria a mesma.

E eu não sou.

Fugindo de seus olhos ao amanhecer, saí como um bandido que invadiu sua residência e sai sem deixar rastros, apenas deixando a falta. Me recordar de você ou da maneira em que cada parte tua parecia tão certa em contato com a minha, sempre me deixava em êxtase.

Lembra de você, me fez perder a parada.

Voltei para casa, caminhando na chuva, enquanto revivia vividamente cada momento em que teu ser exuberante me iluminou e me tirou o ar. Totalmente fora de órbita, segui meu caminho, enquanto permitia que as lágrimas descessem por meus olhos, igualmente as que caiam do céu.

Uma mera despedida pode sim, doer, fora tão doloroso quanto receber uma facada e eu ainda sangro a cada passo que dou.

Palavras Entregues Ao Vento Where stories live. Discover now