Palavras Entregues Ao Vento

Faça parar!

Lembro-me muito bem da minha primeira crise.
Era uma noite fria de verão, o céu estava cheio de estrelas.
Tínhamos acabado de voltar de algum lugar, quando a briga começou.
Meus pais discutiam.
Melhor eles gritavam ferozmente um com o outro.

Me mandaram entrar e fechar a porta.
Do lado de fora os gritos continuavam, fazendo lágrimas escorrerem pelo meu rosto infantil.
Me encolhi no chão da cozinha.
Minhas mãos pequenas tremiam.
E enquanto os gritos continuavam eu roía as minhas pequenas unhas até sangrar.

Nesse exato momento, estamos no carro indo para o mesmo lugar da minha primeira crise.
Eles brigam de novo.
Minha cabeça gira.
Dói.
Eu odeio brigas e pior ainda ser colocadas nelas. Meu estômago começa a doer.
Aquele carro começa a me sufocar.
Eu quero sair, minha mente grita.

Por favor, parem de gritar.

Meu estômago revira, sinto que a qualquer momento eu vou vomitar.
Finalmente o silêncio se faz, chegamos em casa. Cada um pro seu canto, sem mais palavras, mas ainda sinto a dor.
Cada um se machucou de uma forma diferente nesta discussão, palavras muitas vezes são mais afiadas e cortantes que uma faca.

Corro para o meu quarto, minhas mãos estão formigando.
Sinto o mundo à minha volta girar.
Meu estômago parece dar uma cambalhota.
Minhas pernas fraquejam.
Meu coração acelera, como se fosse sair do meu peito.
Eu quero chorar, mas não consigo.
Minhas mãos tremem.

Deito-me na cama e suplico para que isso tenha fim. Eu sei que eu deveria saber lidar com pressão, é o que dizem sempre.
Deveria ser mais forte!.
Infelizmente essa sou eu.
Fraca, falha, chegando ao limite, do que é aceitável e aos frangalhos.

Eu estou cansada.
Por favor, só faça parar.
Você pode fazer tudo isso parar?

Fecho meus olhos e respiro fundo.
Tentando acalmar a minha respiração.
E clamo para que tudo acabe rápido, mas sempre parece uma eternidade.
Os segundos ou minutos, parecem horas, enquanto espero impaciente para que tudo acabe.
Fecho meus olhos e espero.

Sinto-me sonolenta esta noite...
O céu está tão bonito hoje, escuro e brilhante.
Enquanto eu, estou chovendo e desmoronando de dentro para fora.
Amanhã vai ser um novo dia?
O amanhã vai ficar tudo bem?