Remorsos

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Aziraphale estava sentado na arquibancada abraçando os próprios joelhos com o olhar desfocado. Já tinha parado de chorar há um tempo. Revivia a última semana em flashes, as conversas agradáveis, os momentos divertidos e terminando na briga "Eu te odeio!", "Ok". E se repetia.

Sabia que já eram mais de 18 horas e devia ir embora. Pegou sua mochila e andou até a saída arrastando os pés e com o olhar distante. O sol já devia estar se pondo, mas as nuvens cinzentas carregadas faziam parecer ainda mais tarde. Por um breve momento, ele teve uma visão quase ilusória da silhueta de Crowley ao seu lado, acenando com um sorriso antes de colocar seus óculos escuros. Mas, em um piscar de olhos, a figura se transformou em outra pessoa familiar, atrás de um Mustang branco, usando um sobretudo cinza e blusa gola alta lilás.

— Olá, Aziraphale. — Gabriel fala de pé do lado do motorista enquanto olha para o irmão mais novo e falou com um sorriso falsamente gentil. — Vou te levar pra jantar hoje, tenho... assuntos importantes que gostaria de falar com você.

Aziraphale não tinha exatamente forças para negar, e sabia que mesmo que tivesse não negaria nada ao irmão.

"Eu só quero ir pra casa."
Pensou estando mentalmente exausto e entrou no carro. Em poucos minutos, a chuva começou a cair com força sobre eles. Seguiram em silêncio o caminho todo.

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Enquanto isso, nas sombras da cidade, um vulto negro e encharcado se arrastava pelas ruas, parecendo desorientado e sem direção. Crowley andava sem rumo ou sentido, cada passo era um peso, cada respiração uma luta. O mundo ao seu redor parecia embaçado, como se estivesse em um pesadelo interminável.

As últimas horas passavam como um borrão em sua mente, corpos muito próximos, música alta e bebida à vontade. Estava sem seus óculos e seu rosto doía. Mas nada daquilo estava abafando a frase que ouvia como um eco em sua mente. "Eu te odeio!"

— Eu também me odeio, eu me odeio muito mais. — era a resposta que saía na sua voz embargada de álcool em sua mente que não conseguia mais diferenciar pensamentos de falas.

A água fazia suas roupas, em especial sua jaqueta, pesarem bastante. Mas nada que se comparasse ao peso em seu peito. Em todos os momentos em que teve de escolher entre seus sentimentos e seu orgulho, escolhera o orgulho, e isso o trouxe até aquele ponto: sozinho, bêbado e ensopado. Mas não desejava se secar, merecia isso.

Enquanto dava passos vacilantes, topou em um desnível e caiu no chão, bateu a cabeça mais uma vez e não conseguiu se levantar. Deitou de costas no chão encarando as nuvens e a chuva.

— Aziraphale... — disse por último antes de tudo escurecer.

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— Vai pedir o que? — Gabriel fala olhando o cardápio distraído, estava sentado com as pernas cruzadas e com uma mão segurava uma taça de vinho. Sua postura, mesmo relaxada, era intimidadora.

— Hum... — Aziraphale não sabia o que fazer ou dizer, sabia que estava sendo avaliado e estava inseguro. Mas gostava muito de comida, então falou o seu favorito. — Crepes ingleses, por gentileza.

— Ah, com certeza não. Você precisa emagrecer, não pode comer esse tipo de coisa. — analisou o cardápio. Gabriel tinha o que era chamado de corpo padrão, nem gordo, nem muito definido mas também não muito magro. Bem ok. Ele fala para o garçom e em seguida o despensa. — Um gratinado de legumes e um fricassê de frango.

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